Série O computador I - O computador: passado, presente e futuro - Por S. Tavares-Pereira

12/05/2017

Por S. Tavares-Pereira – 12/05/2017

Séries

Neste 2017, as publicações estão classificadas em séries. Veja, no pé deste post, as publicações anteriores. Hoje se dá sequência a uma nova série: O computador.


Série O computador I

O computador: passado, presente e futuro.

É provável que o leitor, como eu, não tenha um animal de estimação, mas certamente deve ter um ou mais computadores, seja como um desktop típico, um note, um tablet ou, quem sabe, um smartphone. Todos são, numa acepção ampla, máquinas de computação porque rodam algoritmos computacionais para interagir com seus proprietários. Ou seja, são computadores. Esses amigos especiais são muito pouco conhecidos da maioria de seus usuários.

De onde vieram e até onde poderão chegar, com suas habilidades, intrigam a todos. Esta série destina-se a trazer algumas luzes a essa caminhada.

Em 1950, Alan Turing, um matemático inglês que a maioria conhece porque inventou a máquina que decifrou os códigos de comunicação dos nazistas, na segunda guerra (a Colossus), descreveu um estranho jogo por ele inventado – o jogo da imitação! -  e que se destinava a estabelecer se um computador programável – que ele projetara – seria capaz de enganar um humano fazendo-se passar por um outro humano (no caso, uma mulher).

Todos os computadores atuais baseiam-se no projeto de Turing. E a dúvida suscitada por ele, com o jogo da imitação, continua a fustigar a inventividade dos cientistas até a atualidade.

O jogo: participam três pessoas. Uma é mulher e vai para uma sala. Outra é um homem e vai para outra sala. A terceira pessoa não vê em que salas as outras duas pessoas entraram e deve, fazendo perguntas, descobrir em qual sala está o homem. Só que o homem da sala deve fazer tudo para se passar por mulher. E a mulher deve ser completamente honesta nas respostas.

O interrogador não pode fazer perguntas diretas do tipo: “qual seu gênero?”.

Turing afirmava que, um dia, sem que o interrogador soubesse, o homem da sala poderia ser substituído por um computador e este conseguiria passar pelo teste sem que o interrogador descobrisse a troca. Ou seja, o computador conseguiria simular ser mulher da mesma forma que um humano (iludir o humano interrogador no mesmo percentual alcançado pelo humano).

Para Turing, este computador teria de ser considerado um ser pensante.  E ele previu que, em 50 anos, tal computador existiria.

Desde então, muitos filósofos e cientistas debruçaram-se sobre o problema e as discussões jamais findaram[1]. Mas os avanços foram acontecendo, o hardware diminuindo e agilizando-se, o software se sofisticando, e atualmente  as máquinas de Turing andam por aí, com habilidades não sonhadas há poucas décadas, embora nenhuma delas tenha passado pelo teste.

Os carros sem motoristas são a prova da evolução na área. Os tecnólogos da inteligência artificial dedicam-se à busca de algoritmos (programas de computador) que eles juram que aprendem. Pode-se até questionar a denotação de aprender nessa afirmação, mas há coisas maravilhosas sendo feitas pelos computadores, sem nenhuma dúvida. Os sonhos de Turing ganham realidade rapidamente.

Ele era indiscutivelmente um gênio e lançou as bases para toda a evolução futura da indústria dos computadores e do software. Como pode ter tido tantas visões? A verdade é que seu cérebro era muito diferente dos computadores com os quais sonhava. Na época, os computadores eram chamados de cérebros eletrônicos e, na visão da mídia, eles substituiriam até juízes no futuro. Há muitos pesquisadores tentando dar concretude a essas visões.

Steve Jobs, um dos fundadores da Apple Computer, dizia que um computador sem um usuário é como uma bicicleta sem um ciclista. O computador precisa de uma mente humana para fazer um trabalho. Será?

De qualquer jeito, a história do computador, até agora, é a história de nossa relação com o computador: como os imaginamos, desenvolvemos, usamos e como aprendemos a viver num mundo que criamos com eles.[2]

Essa história começa muito antes de Turing e têm personagens intrigantes, como Blaise Pascal, o famoso matemático francês, ou como David Hilbert, o alemão que, em 1900, num congresso de matemática, listou 23 problemas que considerava os mais importantes então existentes no âmbito da matemática.  Foi respondendo a um desses problemas que Turing criou sua famosa máquina. 

Nessa série, faremos uma caminhada por essa história na qual os avanços surpreendentes do hardware e do software, das últimas décadas, são apenas uma parte da trajetória.


Notas e Referências:

[1] John R. Searle é um dos famosos que dedicou-se a essa discussão. Veja-se, por exemplo: SEARLE, John R. Mind, language and society. Philosofy in the real world. New York:Basic Books, 1998. 175p.

[2] FRAUENFELDER, Mark. The computer.  London:Carlton Books, 2013. p. 10.


Publicações anteriores

Série Tecnologia e trabalho: 1) Relação de trabalho e Uber: desafio (20/01/2017) 2) Uber: juiz mineiro não vê vínculo de emprego na relação (17/02/2017) 3) Uber - do ponto de táxi até o aplicativo: análise sob viés tecnológico (24/02/2017)

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Série Cibersegurança 1) Todos estão tendo de mergulhar na insegurança da era digital  (03/02/2017) 2) Como a internet pode saber mais de nós que nós mesmos? Trump explica. (10/02/2017) 3) Ataques por todos os lados (10/03/2017) 4) A cidadania digital é perigosa? (24/03/2017) 5) O juiz humano é melhor que um  juiz algorítmico? (05/05/2017)


S. Tavares-PereiraS. Tavares-Pereira é mestre em Ciência Jurídica (Univali/SC) e aluno dos cursos de doutoramento da UBA. É especialista em Direito Processual Civil Contemporâneo pela PUC/RS, juiz do trabalho aposentado do TRT12 e, antes da magistratura, foi analista de sistemas/programador. Advogado. Foi professor de direito constitucional, do trabalho e processual do trabalho, em nível de graduação e pós-graduação, e de lógica de programação, linguagem de programação e banco de dados em nível de graduação. Teoriza o processo eletrônico à luz da Teoria dos Sistemas Sociais (Niklas Luhmann). 


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O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.


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