Somos todos mediadores

25/01/2017

Por Juliana Ribeiro Goulart e Jéssica Gonçalves – 25/01/2017

William Ury, um dos maiores negociadores e mediadores do mundo, em seu livro “Alcanzar la paz: diez caminos para resolver conflictos en la casa, el trabajo y el mundo”, conta que seu sobrinho Jonah, aos quatro anos e meio de idade, já era, ocasionalmente, Mediador nos conflitos entre seus irmãos maiores. Conta o autor que, quando os irmãos começavam a brigar, Jonah levantava a mão e dizia: basta de brigar! Além disso, falava com ambos em separado, explicando a cada irmão como se sentia o outro e, assim, os levava a uma reconciliação (URY, 2000, p. 155-156).

O que Ury tenta nos dizer com esta pequena história familiar é que em todos nós reside um potencial Mediador de Conflitos. Em algumas pessoas, ele pode se mostrar mais ativo; em outras, adormecido, aguardando, apenas, um beijo de amor.

Durante nossas vidas, enfrentaremos as mais diversas situações conflitivas. Se agirmos, nessas circunstâncias, escutando o outro, evitando julgamentos, resistindo à tentação de dizer o que deve ou não ser feito e facilitando os processos de comunicação, estaremos atuando com o espírito típico de um Mediador.

Não se trata de tarefa fácil, pois, segundo o professor Luis Alberto Warat, ser Mediador é ter uma atitude que todos precisamos ter diante da vida e do ofício de viver (2004, p. 52).

Warat nos dá algumas pistas para realizarmos esta tarefa: “Quando alguém nos agride, observemo-lo. A agressão tornar-se-á uma flor. Absorveremos a energia dela, deixando-a lutar com um vazio. É o desarmado descobrindo uma beleza profunda que estava escondida na agressividade periférica. Se alguém pretende agredir-nos, chocar-se contra nós, deixemos que ele se choque, deixemos que ele passe através de nós. Não sejamos uma parede, não fiquemos no caminho, sejamos poderosos” (2004, p. 38).

Para Warat, a Mediação pode ser entendida com um novo e grande paradigma, como pedagogia que nos ajude a compreender a viver e não mais como lei que pune o que considera conflitivo (2004, p. 52). Ademais, deixar que um terceiro decida a nossa vida, vem com uma alta conta: um preço a ser pago pelo individualismo e sua crescente tutelarização (GIMENEZ; SPENGLER, 2016, p. 229).

Reassumir a nossa autonomia e responsabilidades por nossas ações e conflitos, nos dizeres de GIMENEZ e SPENGLER, é um papel que deve ser desempenhado pelo sujeito de Direito e não pelo Direito (2016, p. 230). Quem não gostaria de ser protagonista e autor da sua própria história?

Que neste caminho de aprender a viver, conforme sugeriu Warat, possamos retomar a nossa consciência de que podemos decidir sobre muitas das nossas próprias situações de insatisfação. Da nossa parte, que tenhamos o desejo de ter o espírito Mediador. Afinal, ser Mediador da vida significa ocupar um lugar de amor (2004, p. 65).


Notas e Referências:

GIMENEZ. Charlise Paula Colet; SPENGLER. Fabiana Marion. O Mediador na resolução 125/2010 do CNJ: um estudo a partir do tribunal multiplas portas. Águas de São Pedro:Livro Novo, 2016.

URY. William L. Alcanzar la paz: diez caminhos para resolver conflitos em la casa, el trabajo y el mundo. Tradución de Jorge Piatigorsky. Buenos Aires: Editora Paidós. 2000.

WARAT, Luis Alberto. Surfando na pororoca: o ofício do mediador. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004.


Juliana Ribeiro GoulartJuliana Ribeiro Goulart possui graduação em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC-RS. Mestranda em Teoria e História no Direito (UFSC). Tem experiência na área da advocacia, com ênfase em Direito Processual, área em que é especialista pelo CESUSC. Atualmente ocupa o cargo de Assistente Jurídica da Procuradoria Geral do Estado de Santa Catarina e é pesquisadora na área da Mediação de conflitos. E-mail: juligoulart@hotmail.com / Facebook aqui.


Jéssica Gonçalves é Graduada em Direito pela Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. Formada pela Escola da Magistratura do Estado de Santa Catarina. Pós-Graduada em Direito Processual Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Pós-Graduada em Direito Público pela Universidade Regional de Blumenau – FURB. Pós-Graduada em Direito Aplicado pela Universidade Regional de Blumenau – FURB. Mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Doutoranda em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.

Imagem Ilustrativa do Post: School diversity many hands held together // Foto de: Wonder woman0731 // Sem alterações

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O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.


 

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