REFAZENDO-SE

27/04/2022

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Junte seus cacos. 

Cole suas lascas. 

Costure seus retalhos. 

Alinhave seus fiapos. 

Assopre suas bolhas 

E também suas feridas. 

Reavalie suas escolhas. 

Desative as defensivas. 

Encha seus balões. 

Acenda suas luzes, 

você não precisa mais do escuro. 

Retire seus capuzes. 

Erga seu rosto. 

Olhe-se no espelho 

e veja belezas contidas. 

Admire corações. 

Importe-se com vidas. 

Delicie-se com o mel mais puro. 

Tome água com gosto. 

Regue suas flores, 

mas se acaso não as tiver, plante-as. 

Ainda dá tempo. 

E sempre há espaço 

para novos amores. 

Pinte seus desenhos. 

Mova seus móveis. 

Ornamente seus imóveis. 

Tenha mais certezas. 

Faça preces pelos seus mortos e por si mesma, 

pela família, pelos amigos e até por inimigos. 

Para acarinhar seus bichinhos, 

também dedique um tempinho. 

Mas faça isso sem demora, 

pois eles precisam de ti agora. 

Esqueça as tristezas. 

Deixe-as irem embora. 

Perdoe. 

Vingança não é justiça. 

Perdoe-se. 

E voe. 

Como de costume, 

Não tenha condescendência 

com a injustiça. 

Tua missão, 

não desperdiça. 

Dispense os remorsos. 

Afugente os monstros. 

Rejeite o veneno 

da inveja, da competição, 

de tudo o que seja pequeno. 

Mantenha sempre limpa 

tua consciência. 

Combata a culpa, 

ela é sempre improdutiva. 

Transforme em fortaleza 

aquilo que era em ti fraqueza. 

Supere os externos julgamentos, 

e os internos também. 

Só a força dos teus pensamentos 

pode te levar além. 

Liberte-se do teu perfeccionismo. 

Aliás, ele nem é teu. 

Você não precisa ser perfeita em todos os momentos. 

Nem mesmo nunca, se assim o desejar. 

Não fique confinada, jamais, 

na caixinha onde te moldaram. 

E se não te amaram, 

isso já não importa mais, 

pois mesmo assim você sobreviveu. 

Você não é espectro, 

muito menos de bipolar. 

Você é multipolar. 

E com multi-inteligências, 

pode fazer ciências. 

Pode pensar, criar, viajar 

para além das redomas de vidro, 

onde te puseram de castigo. 

Ir adiante você escolheu, 

e teu gênio criador estará sempre contigo. 

Ame até pelos que não te amaram. 

Resgate suas histórias. 

Valorize suas raízes. 

Tenha aprendizes. 

E registre suas memórias. 

Leia aquele livro 

que há décadas te chama 

daquele nicho onde o deixaste trancado. 

Ele quer ser teu amigo, e ensinar-te coisas lindas. 

Execute aquela receita 

que pegaste de tua mãe, 

e a tens por perto, 

mas nunca a fizeste. 

Ali, com certeza, tem amor condensado. 

E logo as vidas poderão estar findas. 

Então aproveite enquanto há tempo. 

Sei que sempre o temos, 

mas cuidado, ele também gosta da ampulheta. 

Então, diga bom dia ao gari. 

Esqueça das mágoas do passado. 

Viva bem aqui. 

Ouça de novo aquela velha canção, 

que já te fez sonhar por dias, 

e dançar atrapalhado. 

Distribua novamente amor. 

A benéfica retribuição, 

fica bem ali. 

Mas amar gratuitamente, 

tem gosto de doce algodão. 

E pode deixar semente. 

Pinte paredes, muros e mureta, 

e se der, telas também. 

Grave sua voz 

e a de quem você ama. 

Sim, aprisione um momento. 

Da saudade, depois, vai ter agradecimento. 

Volte a ter fantasias. 

E sonhos. 

Podem até ser de nata. 

Seja grata. 

Faça a si mesma uma ode. 

Refaça-se. 

Isso de ser Fênix, 

costuma dar certo. 

Levante-se! 

Você pode. 

 

FOTO DO ACERVO PESSOAL DA AUTORA

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

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