Quo Vadis?

27/11/2021

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Para onde vais?
Voltar a Roma, para não fugir de ser crucificado, respondeu Pedro a Jesus,
Na visão que teve após transposta a Saída Latina da cidade.
À Terra do Nunca,
Sonhou Peter Pan.
A Paris iremos um dia novamente,
Combinou o famoso casal ao final de Casablanca.
Vamos ficar aqui mesmo, em Verona,
Decidiram Romeu e Julieta.
Para Cuba,
Realizou Ernest Hemingway.
Viajar ao Centro da Terra,
Idealizou Júlio Verne.
À Ilha de Santa Helena,
Como finalizou Napoleão.
Para Pasárgada,
Disse Manuel Bandeira.
Ao País das Maravilhas foi Alice,
Com ou sem a permissão de Lewis Caroll.
A Montevidéu, seu Monte Visível,
Escrever a novela A Trégua,
Pensou Mario Benedetti, diante do seu compromisso com a resistência, a alegria e o amor.
Voltar a Itabira,
Sempre sonho de Carlos Drummond de Andrade.
Ao Hotel Majestic,
Morada lendária da eterna genialidade de Mário Quintana.
Ao Grande Sertão com suas Veredas,
Diria João Guimarães Rosa.
Ao cárcere é que não,
Afirmou com sofrimento Graciliano Ramos.
Ao Último Andar, para lá morar,
Conforme sinalizou Cecília Meireles.
À Tabacaria, disse o heterônimo Álvaro de Campos

A Fernando Pessoa.
Preservar a Inocência,
Escreveu o Visconde de Taunay.
Olhar-te de novo,
Como pediu Hilda Hilst em Dez Chamamentos ao Amigo.
Achar-me ou perder-me n(O) Labirinto da Solidão,
do México de Octávio Paz.
Ao Ateneu,
Disse o Professor Aristarco, de Raul Pompeia.
Conhecer O Grande Inquisidor d(Os) Irmãos Karamázov,
No último livro escrito por Fiódor Dostoievski.
Às praias do Rio Vermelho,
Entre algumas das paisagens de Jorge Amado.
Para Macondo, disse Gabriel Garcia Marques.
Ser de tudo um pouco
(caricaturista, cartunista, chargista, dramaturgo, escritor, jornalista, poeta, roteirista, teatrólogo e
tradutor),
Como o fora o gênio humanista e moderno de Millôr Fernandes.
Dar passagem ao Segundo Sexo,
Pelas portas abertas por Simone de Beauvoir.
Visitar a Fazenda dos Animais,
Para conhecer a desigualdade material e o regime de opressão,
Tratados com alegoria satírica na admirável fábula de Georges Orwell
Ao Ninho dos Periquitos,
Falou o goiano Hugo de Carvalho Ramos,
Pois suas Tropas e Boiadas já se foram.
Ao infinito do Mar del Plata,
Onde tristemente adentrou Alfonsina Storni,
Para não mais voltar, a não ser como música.
Ao Cortiço, ou à Casa de Pensão,
Lembrou Aluísio de Azevedo.
À Alemanha da ascensão do Terceiro Reich,
Para ver a renúncia à sua própria humanidade com Doutor Fausto,
Na brilhante alegoria feita por Thomas Mann em seu último grande romance.
Ouvir histórias do Menino de Engenho,

Contadas por José Lins do Rêgo.
Combater A Cegueira,
Disse José Saramago.
Casar com a Senhora,
Como ensinou José de Alencar.
Ao Quarto de Despejo não quero voltar,
Desabafou Carolina Maria de Jesus.
Com Veias e Vinhos, elucidar o Crime da Rua 74,
Conforme propôs Miguel Jorge.
Desvendar as Memórias de Adriano,
Respondeu Marguerite Yourcenar.
Ao Sítio do Pica-pau Amarelo,
Com a turma do Monteiro Lobato brincar.
À Terra de Santa Cruz, reunir Cacos Para um Vitral,
Afirmou mineiramente Adélia Prado.
Miguel de Cervantes Saavedra escolheu La Mancha
Para Dom Quixote e Sancho Pança.
Aos Becos da Memória,
Com Conceição Evaristo de Sousa pensar.
Narrar as Memórias Póstumas de Brás Cubas,
Comprovou genialmente Machado de Assis com seu cadáver.
Participar do Auto da Compadecida,
Brincou com sapiência Ariano Suassuna.
Caçar Os Sapos,
Para com eles abrir a Semana de Arte Moderna de 1922,
Repetiu Manuel Bandeira.
Escrever um Livro Sobre Nada,
Como lembrou o Manoel de Barros.
Ao encontro das águas amazonenses,
Porque Faz Escuro Mas eu Canto, disse Thiago de Melo.
Conhecer o Seminário dos Ratos,
Contou Lygia Fagundes Telles.
O Gato Preto pode ir ao Campo de Neve,
Confirmou Érico Veríssimo,
Mas Antares também é um bom lugar para um Incidente.

A uma Paisagem Interior,
Como sentiu Helena Kolody.
Ao Inferno,
Cuja porta afunilada está na Divina Comédia,
Mostrou Dante Alighieri.
À primeira fase do Modernismo brasileiro,
Para estudar em Macunaíma a miscigenação de caracteres,
Ao estilo de Pícaro criado por Mário de Andrade.
À Região de Quixadá, terra de sua infância,
Segundo lembrou Rachel de Queiroz n(O) Quinze.
Pode ser a um esconderijo na Notre Dame,
Sugeriu Victor Hugo ao seu Corcunda.
Ser a rainha do romance policial,
Disse determinada Aghata Christie.
Para Macabu, salvar a injustiçada fera,
Requereu Carlos Marchi.
Combater Vida e Morte Severina,
Conforme pediu a sensível pena de João Cabral de Melo Neto.
Aos Becos de Goiás,
Afirmou com certeza Cora Coralina.
Acender Faróis e mostrar a que veio o Simbolismo no Brasil,
respondeu o Cisne Negro Cruz e Sousa.
Ouvir melhor Os Ventos Uivantes,
Sussurrou Emily Brontë.
Aos campos de Cerejeiras,
Como mostrou Akira Kurosawa.
À cidade de Bremen, juntar-se àquela conspícua banda de músicos,
Orquestrada pel(Os) Irmãos Grimm.
Costurar um Frankenstein, e não mais sob um pseudônimo,
Empoderou-se Mary Shelley.
Passar por mais um(A) Metamorfose,
Lamentou Franz Kafka.
Às fazendas oitocentistas, livrar a Escrava Isaura de seu cativeiro branco, auxiliando na luta de
Bernardo Guimarães.
Ao Navio Negreiro, libertar simbolicamente todo o povo africano escravizado,

Conforme bradou Castro Alves.
Ao Paraíso Destruído, para resgatar os povos indígenas escravizados na América Espanhola,
Denunciou pungentemente o frei Bartolomé de las Casas.
Recriar a fauna fantástica, do Livro dos Seres Imaginários,
Como organizou Jorge Luís Borges.
Ler Úrsula, o primeiro romance abolicionista da literatura afrodescendente brasileira,
Criado por Maria Firmina dos Reis.
Condenar a guerra, como o fez O Velho do Restelo,
Nos Lusíadas de Luís Vaz de Camões.
Defender o meio ambiente para evitar A Primavera Silenciosa,
Como o fez a precursora da luta ambiental Rachel Carson.
E eu?
Por ora vou ali, quebrar mais um Teto de Vidro,
Com a permissão poética de Virgínia Woolf.
Porque para mim, assim como para ti,
Ela deu, um Teto Todo Seu.

 

 

Imagem Ilustrativa do Post: black and silver fountain pen // Foto de: Álvaro Serrano // Sem alterações

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