Falo ou não - falo?

15/05/2016

Por Marta de Oliveira Torres – 15/05/2016

Minha astróloga alertou que esse período todo o planeta estaria muito conturbado. Sugeriu que era melhor todos se concentrarem em respirar e não dar opinião. Vai ver que é por isso que os milhares de brasileiros nas ruas que batiam panelas enraivecidos “contra a corrupção” ficaram calados com a extinção da Controladoria da União, órgão fundamental ao menos nas investigações de desvio de verbas públicas federais. Os batedores de panela estão respirando. E eu só penso na coitada da primeira dama, afinal, o Brasil dorme e acorda com aquele ser humano como presidente, agora, imagine o que é acordar de manhã cedo e se deparar com aquela figura ao lado da cama! Ao casar com Temer, dever ter sonhado que iria ser lembrada como uma Cleópatra, todavia, chegou mais perto de ser Lady Macbeth e agora é definitivamente esposa de Drácula. Representa um padrão de mulher que foi criado pelos mesmos idealizadores de um Deus monoteísta (assim falou Zaratustra), sendo reprodutora de instrumentos de alienação utilizados desde lá o início dessa barbárie para escravizar os “povos bárbaros”. Esse mesmo povo “conquistador” criou todas essas instituições (inclusive a fictícia democracia), de modo a abafar o louvor à divindade feminina responsável pelos ciclos da vida, respeito esse encontrado justamente em todos os “povos bárbaros”. Esse padrão machista não morre e suga o sangue das pessoas ao longo de milênios na Ásia e Europa, há mais de quinhentos anos esses sangue-sugas se estabeleceram no território que chamaram de Brasil e vem sugando a vida e riqueza das pessoas e de ecossistemas tão lindos e produtivos que aqui residem. Mas minha astróloga disse para respirar e não dar opinião. Vendo um país governado por homens proprietários e portadores de um paradigma de hereditariedade de concentração de riqueza, pergunto: falo ou não-falo? Era melhor quando era não-falo? Ou falo ou não-falo era tudo um mesmo projeto e supostas mudanças no cenário político é só um teatrinho bizarro numa escolinha cheia de alienados?

Então tá. Então é só-falo nos Ministérios, e não-falo nos textos. Não-falo porque tenho que respirar. Mas ninguém falou nada sobre repetir, afinal, todos vêm repetindo discursos como as cabras de Revolução dos Bichos, de George Orwell. Então se é para ter só não-falo nesse país, então vou só repetir algo já falado, pelo menos por enquanto, já que a regra agora, ao menos temporariamente, é de não-falo. Se eu repetir algo que falei antes, como mudei, não estarei falando, mas repetindo algo que eu disse, coisas que, quando escritas, estavam descontextualizadas do atual momento. Então falarei sobre um escrito antigo próprio, nomeado de “várias coisas”. Disse o seguinte:

“Na cidade, há três grupamentos: bandidos, polícia e população. Esta última se divide em vários grupamentos, alguns tranquilamente adequados aos padrões passados pelo sistema, outros que de alguma forma discordam, quando passam a ser chamados de “minorias”. O 1º e 2º grupamentos estão armados, a população, não. A não ser que a palavra seja considerada uma arma, porque, se for, então estou armada até as canetas, os teclados, as bocas de vozes que se propagam no universo. E o que tenho a dizer: nada. Só que vá cuidar da sua vida porque eu cuido da minha”.

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Marta de Oliveira Torres2. Marta de Oliveira Torres é Defensora Pública do Estado da Bahia, atriz no Teatro Fórum Rui Barbosa, fotógrafa, poetiza, mestra em Relações Sociais e Novos Direitos pela UFBA. . .


Imagem Ilustrativa do Post: estátua da “Coleção Albani” no Museu do Louvre // Sem alterações

Disponível em: http://manuaisdeinstrucao.blogspot.com.br/2013/07/como-alguns-homens-de-paris-se-divertem.html


O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.


 

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