Por Gabriela Ribeiro - 29/01/2017
Crimes cometidos por homens homofóbicos afetam a vida de mulheres homossexuais
O medo de ser violentada é algo corriqueiro na vida das mulheres - segundo o Instituto Datafolha 90% delas sofrem esse receio - principalmente aquelas que possuem uma orientação sexual diferente da tradicional e têm que se preocupar também com a existência de um crime direcionado para a comunidade LGBT, conhecido como “Estupro Corretivo”, em que o agressor tem a ideia ilusória de poder “curar” os homossexuais, mais especificamente as lésbicas.
Em janeiro de 2016, um caso em Tocantins se tornou público após o professor de uma adolescente de 14 anos relatar os abusos e agressões que a jovem sofria do próprio pai por conta de seu relacionamento homoafetivo. Segundo informações, ele queria fazê-la virar mulher.
Analisando os casos deste crime, o Juiz do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Alexandre Morais da Rosa diz que acreditar que o estupro possa ser corretivo demonstra a mentalidade autoritária e sexista da população que não tolera a diferença “vedar a liberdade em nome do ‘belo, recatado e do lar’ é algo que demonstra o grau de incivilidade de muitos”.
Segundo a psicóloga Fernanda Carito, 27 anos, esse ato pode estar relacionado a uma personalidade sociopata e, neste caso, a terapia é válida para que o agressor passe a entender melhor a figura feminina: “Já em casos mais extremos o auxílio psiquiátrico também pode ser uma forma de tratamento”.
Fernanda diz ainda que o abuso pode influenciar de muitas maneiras a vida da mulher violentada: “Ela pode desenvolver ansiedade, com bastante possibilidade de evoluir para episódios de pânico, dificultando sua vida como um todo. É muito comum que pessoas que sofrem esse tipo de violência passem a compreender a sociedade como ameaçadora”.
Em uma enquete do Facebook com 215 pessoas, homens e mulheres, obtive o resultado de que 18,6% dos entrevistados já denunciaram algum caso de violência.
Para a estudante Juliana de Lucena, 19 anos, a raiz do problema é a intolerância, o preconceito e, principalmente, o machismo, em que que o homem tem a necessidade de se mostrar o macho alfa, de ter o poder. “Afinal quem melhor para corrigir uma lésbica se não um homem alto, forte, bonito e com pegada, não é?”, ironiza a jovem que completa: “enquanto para nós é uma luta, para eles se torna o desafio do ‘duvida eu pegar aquela lésbica?’”.
A sociedade patriarcal e tradicional acaba alimentando esses agressores a realizarem tamanha violência. Desde pequena, por exemplo, Andreza Gomes, gerente comercial de 28 anos, ouvia seus pais se direcionarem às suas vizinhas com palavras de baixo calão, como “sapatão dos infernos”, por causa da opção sexual delas.
Uma pesquisa recente realizada pelo Instituto Datafolha revelou que um em cada três brasileiros concordam que a mulher é responsável pela violência sexual sofrida. Dados como esse mostram também uma realidade mais comum do que se imagina, aumenta a necessidade de se combater a “Cultura do Estupro” e reforçar a ideia de que a mulher é dona do próprio corpo e que tal crime independe do tipo de roupa ou preferência de gênero.
O ato em si acaba não sendo nada perto do que a vítima enfrenta para se ressocializar no meio em que vive. A família e os amigos passam a ter um papel fundamental para que os sentimentos de culpa e raiva não sejam alimentados. Além disso, uma forte base psicológica também ajuda a enfrentar esse pós-abuso. A psicóloga afirma que “quando a mulher acolhe sua própria decisão e as pessoas ao seu redor a aceitam acaba sendo mais fácil para ela conseguir lidar com a rejeição do outro e saber superar quaisquer obstáculos”.
Para as lésbicas, o agressor é um ser extremamente machista, violento e que não tem noção de que o estupro corretivo pode sim afetar a vida delas, mas de uma forma completamente diferente da que imaginam.
Mesmo não existindo estatísticas oficiais específicas para esse caso, baseado no 9º Anuário Brasileiro da Segurança Pública, sabe-se que a cada 11 minutos uma mulher é estuprada no país e parte dessas vítimas são homossexuais.
A falta de dados sobre esse tipo de violência - com um intuito moral de corrigir - impede que hajam informações exatas sobre os crimes cometidos e punições adequadas ao agressor.
A vergonha, a culpa e o medo também dificultam o trabalho das autoridades. Denunciar é necessário para que providências sejam tomadas e as vítimas devidamente protegidas.
Apesar de avanços serem obtidos, ainda vivemos em uma sociedade patriarcal, cheia de preconceitos e mentes fechadas, mas o importante é não desistir e continuar na luta do respeito ao próximo independente de orientação sexual, religião, cor ou classe social.
*Em 2016, 346 pessoas entre lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais foram mortas no Brasil. De acordo com o Grupo Gay da Bahia, nos 37 anos em que acompanha o número de vítimas da homofobia, ano passado representou um recorde de mortes. Segundo a pesquisa, há cada 25 horas uma pessoa foi assassinada.
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. . Gabriela Ribeiro está cursando o 7º semestre de jornalismo na Universidade Anhembi Morumbi.. . .
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