Conflito de gerações nas instituições jurídicas

26/01/2017

Por Camila Marques Rosado Ferraz – 26/01/2017

O conflito de gerações nas instituições jurídicas do país sempre existiu. Contudo, a dificuldade encontrada, atualmente, é que nunca antes na história do Brasil, aconteceu de tantas gerações conviverem simultaneamente nos mesmos ambientes sociais. Isso tem cada vez mais acontecido, devido ao aumento da expectativa de vida do brasileiro. Assim, pessoas de mais idade estão frequentemente convivendo com pessoas de menos idade.

Nesse cenário, percebe-se no cotidiano profissional das Instituições de Direito do País, uma forte polarização geracional marcada por suas naturais diferenças. De um lado, estão os jovens de idade. De outro, os mais velhos. Tais disparidades, no entanto, ao invés de serem encaradas como um fator enriquecedor para a Instituição, são entendidas como um incômodo e um fardo diário, causando constantes desavenças entre os indivíduos.

Num polo estão os mais jovens. A juventude, muitas vezes é marcada pela irreverência, ousadia, flexibilidade e inovação. Contudo, alguns operadores do direito, ao perceberem-se mais novos, impõem regras e limites aos que possuem mais tempo de casa. Não raro, os percebem com um olhar de apequenamento e os subestimam nas atribuições. Isso porque podem considerá-los sem valor, lentos e retrógrados. Nessa posição, desvalorizam todo o trabalho que os mais experientes fizeram ao longo de vários anos de Instituição.

Com essa errônea acepção, muitos jovens, devoraram doutrinas, Códigos e outros conhecimentos jurídicos acumulados durante anos por gerações anteriores, e chegam nas Instituições acreditando serem mais espertos que todo o passado. Baseiam-se somente naquilo que leram para emitirem suas convicções, sendo que não possuem toda a experiência do veterano. Sequer a consideram nos seus juízos!  Não percebem que tal ato é prejudicial ao pensamento próprio e que, desse modo, tornam-se desacostumados com a clareza e com a profundidade do saber e da compreensão. Isso acontece porque evitam o ponderamento com outras gerações sobre diferentes acepções que cercam as matérias jurídicas. Agindo dessa maneira, podem não chegar a realizar nada de grandioso para o local que trabalham, porque seria preciso que tivessem o diálogo e entendimento de diversas perspectivas como meta.

De outro polo, estão os mais velhos de idade. Esses são pessoas com bastante conhecimento que lutaram por conquistas e crescimento da Instituição, para as gerações subsequentes. Alguns, contudo, acreditam serem os mais novos, incompetentes e superficiais para seus ofícios. Dizem que são ingênuos e ditam a todo o momento como esses “deveriam ser”. Concisos, rigorosos e inexoráveis nas decisões, subestimam-os impondo suas vontades tiranamente. Percebem nos mais jovens um perigo existente, pois representam mudança, quebra de paradigmas e outros jeitos de se pensar. Tudo isso nem sempre é encarado pelos mais antigos de bom modo. Há preconceito e falta de diálogo dos dois lados.

Nessa esteira, ainda que existam discrepâncias definidas pelo critério etário, percebe-se tanto mais velhos quanto mais novos que atuam nas Instituições Jurídicas sem nenhum ideal. Tanto um quanto o outro, trabalham apenas pela questão da sobrevivência e seus fins de remuneração. Não há chama para exercer a função social do direito. Ambos, assim, estão equiparados no que almejam.

Por outro lado, também ocorre nas Instituições Jurídicas algo extraordinário: os antigos e os recentes com os mesmos ideais! E é nesse ponto que ambos se encontram e podem se unir. Juntos, com a experiência dos mais velhos e energia dos mais novos, são capazes de fazerem grandes obras para que a Instituição exerça a finalidade e a função social pela qual foi criada. Quando ocorre o encontro há uma explosão de ideias que trazem à baila um equilíbrio harmonioso transformando as diferenças em oportunidades de colaboração, bem como crescimento pessoal e institucional.

Os jovens, pela questão etária são geralmente mais frágeis, mais imaturos, mais inseguros e mais infantis. Contudo, são como são como materiais explosivos nos quais está acumulada uma enorme força. Na maioria das vezes basta um estímulo de uma pessoa mais experiente para fazer vir ao mundo uma boa ação, um bom destino e alguma modificação.

Por tudo isso, percebe-se que as Instituições de Direito do país tem cada vez mais sofrido com as mudanças de geração. Entretanto, esse fato nem sempre deve ser encarado de modo negativo, eis que toda geração tem algo para ensinar. Conflitos geracionais são normais e para pacificar as relações é preciso confiança e cooperação de todos. O pensamento dialético se faz importante, pois evita a tirania de ambos os lados.

É importante que o jovem entenda que o saber de que precisam para trabalharem, não existe apenas no papel, na internet e nos livros. Estes são apenas “memórias de papel”. O que acontece verdadeiramente no cotidiano, a parte que está realmente viva em cada momento dado, está em nas cabeças que compõe as instituições das pessoas que você convive. Cabeças de diferentes idades porque somos interdependentes ao exercer nosso trabalho.

Por tudo isso, para a melhoria das Instituições é preciso perceber que todos temos muito que aprender e por isso devemos tratar qualquer semelhante com seriedade e respeito. Fazer isso em meio às dificuldades atuais de nosso país é de imensa responsabilidade e não é tarefa pequena. Não haverá êxito sem uma grande confiança de ambas as partes. O respeito mútuo entre as diferentes gerações é uma noção essencial e nova nas instituições de direito e, portanto, desafiadora.

Melhorar uma Instituição jurídica não significa apenas melhorá-la por si só. Isso vai gerar diversos impactos positivos na sociedade, pois irá desaguar em um serviço público de melhor qualidade, melhorando o todo. O Estado, o atendimento ao jurisdicionado, as pessoas que trabalham nos órgãos públicos: O POVO irá sair ganhando, a fim de que os direitos dos cidadãos fiquem amplamente garantidos.


Notas e Referências:

CARA, Mariane. Gerações juvenis e a moda: das subculturas à materialização da imagem virtual. 2008. Disponível em: . Acesso em: 14 jan. 2017.

LIMA, Ranieri. Perfil das gerações no Brasil: as gerações X, Y e Z e seus perfis políticos. São Paulo: Baraúna, 2012.

ZEMKE, Ron; RAINES, Claire; FILIPCZAK, Bob. 2008. Choque de gerações. Disponível em: . Acesso em: 10 out. 2011


Camila Marques Rosado Ferraz.

Camila Marques Rosado Ferraz é pesquisadora, extensionista e estudante do 9° período de Direito da PUC Minas. E-mail para contato: cmarquesrosado@gmail.com . .
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O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.


 

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