PEDOFILIA E CASTRAÇÃO QUÍMICA: EXPLORANDO A COMPLEXIDADE DE UMA NOVA INTERVENÇÃO

28/03/2024

A pedofilia é um dos crimes mais repugnantes e devastadores que assolam nossa sociedade contemporânea. Este distúrbio psicológico, caracterizado pela atração sexual de adultos por crianças pré-púberes, transcende fronteiras geográficas, culturais e sociais, deixando um rastro de dor e trauma onde quer que se manifeste.

A pedofilia é definida pela “American Psychiatric Association” como uma parafilia, ou seja, uma atração sexual intensa e persistente por crianças pré-púberes. Essa condição é clinicamente diagnosticada quando o indivíduo, com idade de pelo menos 16 anos e pelo menos cinco anos mais velho que a criança, possui fantasias, desejos ou comportamentos sexuais envolvendo crianças. É importante destacar que nem todo abuso sexual de crianças é cometido por pedófilos, mas a atração sexual por crianças é uma característica central da pedofilia.

A bem da verdade, não existe no Brasil um tipo penal denominado “pedofilia”. O que existe são diversos crimes que envolvem o abuso sexual a crianças (estupro de vulnerável, corrupção de menores, favorecimento da prostituição, divulgação de cena de sexo ou pornografia etc) e que podem ser reunidos sob o manto do que se convencionou chamar de “pedofilia”.

Vale ressaltar que as estatísticas sobre pedofilia são alarmantes, e, embora muitos casos permaneçam subnotificados devido ao medo, à vergonha e à manipulação por parte dos perpetradores, algumas estimativas oferecem uma visão sombria da extensão do problema. No Brasil, relatórios indicam um aumento preocupante nos casos de abuso sexual infantil, com crianças de todas as idades sendo vítimas. O poder público vem acanhadamente tentando minimizar esse problema, que se perpetua com o passar dos anos, procurando fornecer assistência às vítimas e promover a conscientização sobre a prevenção do abuso.

A atuação mais eficaz no combate a essa prática hedionda acaba ficando a cargo de instituições como Ministério Público, Polícia Civil, Polícia Federal e Poder Judiciário, que, por meio de investigações bem conduzidas e persecuções penais bem sucedidas, conferem a necessária repressão a uma imensa gama de delitos que envolvem o abuso sexual a crianças praticados por todo o país.

Globalmente, a Organização Mundial da Saúde estima que milhões de crianças são vítimas de abuso sexual a cada ano, com números alarmantes em todos os continentes. A disseminação da “internet” e das redes sociais trouxe novos desafios, facilitando o acesso de pedófilos a potenciais vítimas e aumentando a complexidade das investigações e da aplicação da lei.

A palavra "pedofilia" tem origem no grego antigo. Ela é formada pela junção de dois termos gregos: "paidos", que significa "criança", e "philia", que significa "amor" ou "amizade". Portanto, literalmente, "pedofilia" se refere a uma atração sexual por crianças. O termo foi adotado na psicologia e na medicina para descrever a condição em que um adulto sente atração sexual primária ou exclusiva por crianças pré-púberes. No entanto, em contextos legais e sociais, o termo "pedofilia" também é frequentemente usado para descrever atos criminosos de abuso sexual infantil.

A compreensão da pedofilia como uma condição psicológica complexa é crucial para desenvolver estratégias eficazes de prevenção e intervenção. Embora não haja cura definitiva para a pedofilia, intervenções terapêuticas podem ajudar a controlar os impulsos e reduzir o risco de cometer abusos.

Programas de tratamento para pedófilos geralmente envolvem terapia cognitivo-comportamental, visando identificar e modificar padrões de pensamento distorcidos e desenvolver habilidades de enfrentamento saudáveis A TCC é uma abordagem terapêutica amplamente utilizada no tratamento da pedofilia, em que os pedófilos trabalham com um terapeuta para identificar e modificar padrões de pensamento distorcidos ou disfuncionais que contribuem para seus impulsos sexuais inapropriados. Isso pode envolver o desenvolvimento de estratégias para controlar impulsos, lidar com gatilhos e evitar situações de alto risco.

Além disso, a terapia de grupo e o apoio social podem desempenhar um papel importante no processo de recuperação. A terapia de grupo permite que os pedófilos compartilhem suas experiências e desafios com outros indivíduos que estão passando por situações semelhantes. Isso pode proporcionar um senso de apoio, compreensão mútua e pertencimento, além de fornecer uma oportunidade para praticar habilidades sociais saudáveis.

Também a terapia de controle de impulsos pode ser utilizada. Este tipo de terapia se concentra especificamente em ajudar os pedófilos a controlar seus impulsos sexuais e comportamentos prejudiciais. Isso pode incluir o desenvolvimento de habilidades de autocontrole, técnicas de relaxamento e estratégias para lidar com situações de tentação.

No que se refere ao tratamento farmacológico, embora não exista uma medicação específica para tratar a pedofilia, alguns pedófilos podem se beneficiar do uso de certos medicamentos para controlar sintomas associados, como depressão, ansiedade ou impulsividade.

Muito se tem falado sobre a chamada “castração química”, que é um procedimento médico que envolve a administração de medicamentos para suprimir ou reduzir os impulsos sexuais de uma pessoa. No contexto da pedofilia, a castração química tem sido discutida e, em alguns casos, implementada como uma medida para prevenir reincidência em crimes sexuais contra crianças. A castração química pode ser alcançada por meio do uso de medicamentos conhecidos como agentes antiandrógenos, que reduzem os níveis de testosterona no organismo. Ao diminuir os níveis de testosterona, a castração química pode ajudar a reduzir os impulsos sexuais de um indivíduo.

O sexólogo John Money foi o primeiro americano a aplicar a castração química em 1966. Ele prescreveu acetato de medroxiprogesterona como tratamento para pacientes “com impulsos pedofílicos”.

Mas a utilização da castração química como coadjuvante na punição do pedófilo tem suscitado intensos debates, não apenas no Brasil como em todo o mundo. Enquanto alguns argumentam que a castração química pode ser uma ferramenta eficaz para proteger a sociedade contra criminosos sexuais, outros levantam preocupações sobre sua natureza coercitiva e invasiva, além de questionar sua eficácia a longo prazo.

Do ponto de vista ético, a castração química levanta questões sobre a autonomia do paciente, consentimento informado e dignidade humana. Além disso, há preocupações sobre a possibilidade de efeitos colaterais adversos dos medicamentos utilizados, bem como sobre o potencial de violação dos direitos humanos. Alguns estudos sugerem que pode haver uma redução significativa na incidência de reofensas entre os pedófilos submetidos à castração química, outros argumentam que os efeitos podem ser apenas temporários e que as terapias comportamental e psicológica são mais eficazes a longo prazo.

No âmbito mundial, a implementação da castração química varia de país para país. Alguns países, como Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Espanha e França, dentre outros, permitem a castração química como parte de uma sentença judicial ou como uma condição para liberdade condicional em casos de crimes sexuais graves, o que poderia muito bem ser implementado no Brasil, partindo-se da premissa de que o criminoso não seria obrigado a submeter-se ao tratamento. Concordando com o referido tratamento farmacológico, poderia o pedófilo ter sua pena reduzida, cumprindo-a em regime mais brando, ou até mesmo obtendo benefícios que lhe permitissem permanecer em liberdade ou antecipar sua soltura.

No entanto, é crucial reconhecer que o tratamento da pedofilia é complexo e requer um compromisso significativo do indivíduo, bem como do sistema de saúde mental e da sociedade em geral. O estigma associado à pedofilia muitas vezes dificulta o acesso ao tratamento e à reintegração dos pedófilos na comunidade após o cumprimento das penas, criando um ciclo perigoso de reclusão e recidiva. Por enquanto, o que temos no Brasil é a resposta penal rigorosa, podendo, entretanto, ser a castração química colocada como mais uma importante peça nesse intrincado tabuleiro que se apresenta à comunidade jurídica e à sociedade em geral.

 

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