Ao pensar no que escrever a respeito do livro agora lançado, lembrei de duas obras muito importantes para minha formação a respeito do tema que se apresenta: o mundo tecnológico/digital. Comecemos por elas. Em 1964, Humberto Eco lançou um ensaio para analisar a cultura de massa (surgimento da TV etc.). A ideia central era que, ao se deparar com o novo mundo que surgia, os intelectuais se dividiam em duas categorias básicas: os apocalípticos, que sempre tinham uma visão extremamente crítica e negativa das inovações; e os integrados, que, com um certo otimismo ingênuo, acreditavam no progresso e no desenvolvimento. Para Humberto Eco, os apocalípticos detinham uma certa visão aristocrática, um certo nariz empinado, apontando os riscos do novo mundo; enquanto os integrados detinham uma certa visão populista, acreditando piamente nos benefícios sem freios das novidades. Analisando com um olhar atual, talvez os dois lados tivessem razão: ao mesmo tempo que a cultura de massas alienaria as pessoas, permitindo uma disseminação ? democratização - das informações, o que possibilitaria uma melhoria na vida destas mesmas pessoas. Uma das leituras possíveis da obra de Umberto Eco vai neste sentido: "Então a fórmula ?Apocalípticos e Integrados? não sugeriria a oposição entre duas atitudes (e os dois termos que teriam valor de substantivo), mas a predição de adjetivos complementares, adaptáveis a esses mesmos produtores de uma ?critica popular da cultura popular?."1 Podemos retomar o contexto deste debate quando enfrentamos as discussões a respeito das inovações tecnológicas da atualidade. Discussão difícil, mas ainda necessária.