INTERDEPENDÊNCIA GLOBAL: GOVERNANÇA E SOBERANIA NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO

25/07/2024

A globalização, como já vem sendo constatado há muitos anos no âmbito das relações internacionais, transforma profundamente diferentes aspectos da vida contemporânea, influenciando desde a economia até as dinâmicas culturais e políticas.

A governança global, por sua vez, se refere aos mecanismos e processos utilizados para gerenciar questões que ultrapassam as fronteiras nacionais.

Globalização pode ser entendida como o processo de intensificação das relações e interconexões entre países e povos ao redor do mundo, fenômeno que é impulsionado por avanços tecnológicos, especialmente nas áreas de comunicação e transporte, que facilitam o fluxo de bens, serviços, informações e pessoas, afetando diversos setores, incluindo economia, cultura, política e meio ambiente.

Diferentes teorias abordam a globalização sob perspectivas variadas. Segundo a Teoria Econômica, a globalização se manifesta na liberalização dos mercados, na diminuição das barreiras tarifárias e no incremento das trocas comerciais entre nações. Economistas como Joseph Stiglitz (“Globalization and Its Discontents.” W. W. Norton & Company. 2002) argumentam que, embora a globalização possa promover crescimento econômico, também pode exacerbar desigualdades e levar a uma distribuição injusta de benefícios. No âmbito da Teoria Política, Robert Keohane e Joseph Nye (“Power and Interdependence: World Politics in Transition”. Longman. 2001) propõem a teoria da interdependência complexa, sugerindo que as nações estão cada vez mais interligadas por meio de redes de cooperação que transcendem a política tradicional de poder. Essa interdependência reduz a probabilidade de conflitos armados, aumentando, entretanto, a necessidade de cooperação para resolver questões globais. Já para a Teoria Cultural, a globalização se refere ao intercâmbio e à difusão de culturas, ideias e valores entre diferentes sociedades, processo que pode levar à homogeneização cultural, mas também pode promover a diversidade e o multiculturalismo.

A governança global, por seu turno, envolve a criação de normas, regras e instituições para gerenciar questões que afetam vários países. Diferentemente do conceito de governo, que implica uma autoridade centralizada, a governança global é mais descentralizada e inclui uma ampla gama de atores, como Estados, organizações internacionais, ONGs e empresas.

Nesse aspecto, um dos principais desafios da governança global é a tensão entre a soberania nacional e a necessidade de cooperar em problemas transnacionais. Questões como mudança climática, terrorismo, pandemias e migrações forçadas demandam soluções colaborativas que, não raras vezes, limitam a autonomia dos Estados.

A crise climática é um exemplo emblemático da necessidade de uma governança global robusta. Nessa perspectiva, a incapacidade de um único país resolver problemas como o aquecimento global destaca a necessidade de cooperação internacional, como evidenciado pelo papel do Brasil no Acordo de Paris, que, em 2016, assumiu o compromisso de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e de adotar os instrumentos necessários para conter o aquecimento global até 2030.

Nesse panorama globalizado, não se pode deixar de lado as organizações internacionais, como a ONU, que tem papel fundamental na prática do multilateralismo e nas relações de cooperação do sistema internacional, além das ONGs, que desempenham papéis cruciais na governança global, facilitando também a cooperação entre os países, promovendo o desenvolvimento sustentável e defendendo os direitos humanos.

No âmbito doméstico, a globalização tem moldado de forma significativa o Brasil em múltiplas dimensões, incluindo economia, artes e entretenimento, literatura, cultura, educação, política e desenvolvimento industrial e empresarial, fenômeno que tem trazido tanto oportunidades quanto desafios, transformando o panorama nacional de maneiras complexas e interligadas.

Na esfera econômica, a globalização facilitou a integração do Brasil aos mercados internacionais. O País se beneficiou com o aumento do comércio global, atraindo investimentos estrangeiros diretos que impulsionaram setores como agronegócio, mineração e energia. Além disso, a abertura econômica iniciada nos anos 1990 modernizou a indústria e aumentou a competitividade. Mas o aspecto negativo disso, foi que a globalização também expôs o Brasil a crises financeiras globais e à volatilidade dos mercados internacionais, deixando evidente a necessidade de adoção de políticas econômicas sólidas para mitigar esses impactos.

A globalização tem tido também um impacto profundo nas artes e no entretenimento no Brasil. A indústria cinematográfica, por exemplo, ganhou visibilidade internacional com filmes brasileiros recebendo prêmios e reconhecimento global. A música brasileira, especialmente o samba, a bossa nova e o “funk”, tem se espalhado pelo mundo, influenciando e sendo influenciada por outros estilos musicais.

Por seu turno, a literatura brasileira tem alcançado um público mais amplo graças à globalização. Escritores brasileiros contemporâneos são traduzidos para diversos idiomas, permitindo que suas obras sejam lidas globalmente. Este intercâmbio cultural enriquece a literatura nacional, trazendo novas perspectivas e temas que refletem tanto a realidade brasileira quanto as influências globais.

No âmbito cultural, a globalização tem promovido maior difusão e valorização da cultura brasileira, tendo, por exemplo, os festivais de música, dança e cinema brasileiros atraído turistas e entusiastas culturais de todo o mundo. Não se pode negar que a exposição a outras culturas por meio da globalização tem enriquecido a cultura local, criando uma dinâmica de troca e fusão cultural, devendo ser dado destaque, no entanto, às preocupações sobre a preservação das tradições culturais locais frente à influência de culturas estrangeiras predominantes, como a norte-americana.

Já no campo da educação, a globalização tem facilitado o acesso a informações e recursos educacionais globais. Estudantes brasileiros têm mais oportunidades de estudar no exterior se beneficiando de programas de intercâmbio e bolsas de estudo. Instituições brasileiras também colaboram com universidades estrangeiras em pesquisas e desenvolvimento de tecnologias.

Como não podia faltar, a política brasileira também é impactada pela globalização, na medida em que questões globais como mudanças climáticas, direitos humanos e comércio internacional exigem que o Brasil participe ativamente de organizações e acordos internacionais. Além disso, a globalização promoveu um maior escrutínio internacional das políticas internas do Brasil, especialmente em relação à preservação ambiental e aos direitos indígenas. Ao mesmo tempo, o País busca afirmar sua soberania e defender seus interesses em fóruns globais, como o Mercosul, ONU e União Europeia.

Por derradeiro, o desenvolvimento industrial e empresarial no Brasil também tem sido impulsionado pela globalização por meio de investimentos estrangeiros, transferência de tecnologia e integração em cadeias de suprimentos globais. Muitas empresas brasileiras expandiram suas operações internacionalmente, enquanto multinacionais estabeleceram filiais no País, gerando empregos e promovendo inovação, exigindo que as empresas brasileiras se tornassem mais competitivas e inovadoras para poder competir no mercado global.

Por derradeiro, fica como lição a necessidade de se entender as complexas dinâmicas da globalização e da governança global como ponto crucial não apenas para a formulação de políticas eficazes, no âmbito interno e externo, mas também para fomentar uma cooperação internacional que respeite as diversidades culturais e promova um desenvolvimento sustentável, beneficiando toda a sociedade.

 

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