Por Marta de Oliveira Torres – 06/12/2015
“im.be.cil (cil) adj2g. s2g. 1. V. idiota (1). 2. V. tolo (1, 2 e 6). 3. Psiq. Diz-se de, ou aquele que sofre de imbelicilidade. [Pl.: -cis.]
Im.be.ci.li.da.de sf 1. Qualidade ou ato de imbecil. 2. Psiq. Retardo mental em que o nível intelectual do indivíduo não ultrapassa o de uma criança de 7 anos.”
(míni Aurélio, 7ª edição, Editora Positivo, 2008)
Às vezes me acho uma imbecil. Se imbecil é fazer imbecilidade, e imbecilidade é uma demonstração que o nível intelectual do indivíduo é de uma criança de menos de 7 anos, posso dizer que me comporto como uma criança perguntadeira de 5 anos, no máximo. Tudo quero saber o porquê. Percebo que a pessoa que responde “estou cumprindo ordens” geralmente também é um imbecil.
“As ideias dos homens são jogos de criança” (Heráclito).
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MENINA: Sr. Deputado, o senhor foi membro do movimento estudantil, estudou Direito, então me sinto confortável de conversar com o senhor, porque ao menos o senhor entende de lei. Por que, então, votar a favor de um projeto do líder do Executivo, se o senhor sabe que é inconstitucional?
DEPUTADO: Eu e mais alguns Deputados conversamos com o Governador, mas ele insiste no projeto de lei...
MENINA: Mas Deputado, eu pensei que na Constituição Federal estivesse escrito que os poderes são in-de-pen-den-tes entre si...
DEPUTADO (enfurecido): VOCÊ TEM QUE ENTENDER QUE EM POLÍTICA É DIFERENTE: NÓS SOMOS UM GRUPO, E O QUE O GRUPO DECIDE, A GENTE TEM QUE SEGUIR!
MENINA: (...)
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A MENINA ficou feliz por alguns instantes. Ela acreditou que ser sincera adianta alguma coisa.
VIGILANTE DE UMA EMPRESA TERCEIRIZADA: Senhora, por favor, abra o banner que quero ver o conteúdo.
MENINA: Como assim? E dependendo do quê estiver escrito vocês vão barrar?
SENHORA: Deixe... é que ele pensa que estou junto aos professores protestando...
VIGILANTE DE UMA EMPRESA TERCEIRIZADA: Estou cumprindo ordens...
MENINA: Ordens de quem? Foi por que ato? Uma portaria? Uma circular? Cadê esse documento que pensa substituir a Constituição Federal, que garante a liberdade de manifestação de pensamento? Essa senhora tem o direito de entrar na chamada “Casa do Povo” com o banner dela e ela se responsabiliza pelo conteúdo! O que está vedado é o anonimato.
VIGILANTE DE UMA EMPRESA TERCEIRIZADA: Foi uma ordem verbal...
MENINA: Pois essa ordem verbal e nada é a mesma coisa. Você não tem autoridade alguma de decidir o que entra ou não. Isso é censura, e não podemos permitir.
SENHORA (após abrir o banner e mostrá-lo ao Vigilante de Uma Empresa Terceirizada): Satisfeito?
VIGILANTE DE UMA EMPRESA TERCEIRIZADA: (...)
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A MENINA ouviu que uns tais Deputados estão tocando o terror no país. Parece que querem destruir o povo brasileiro, envenenando sua comida com transgênicos e pesticidas ilegais no resto do mundo, e depois semeiam discórdia e julgamentos morais-religiosos para criar uma guerra interna entre os cidadãos envenenados. Ouviu também que só fazem permitir desmatamento e empresas cavarem nosso solo ou desviar nossos rios para espalhar desequilíbrio ecológico. A menina não entendia nada disso. Ensinaram na escola que representatividade (eita palavra grande!) era uma coisa assim ligada a “interesse do povo”. Ela dizia que criança quer é brincar como os índios, então os índios é que “representam”. Como uma criança, entendeu que tem dois grupinhos de um colégio maior que fica em Brasília (chamado Política Brasileira) e parece que estão brigando pela bola, pois um teve a bola a vida toda e, quando outros estavam jogando, resolveu tentar parar o jogo e pegar a bola de volta. Ficou sabendo que, quando os dois puxaram a bola, ela rasgou.
Imbecis.
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Marta de Oliveira Torres, Defensora Pública do Estado da Bahia, mestra em Relações Sociais e Novos Direitos pela UFBA, graduada em Direito pela UFAL. . .
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