Educação Transpessoal na Infância

13/11/2015

Por Evanilsa Coelho Martins - 13/11/2015

1. Introdução

A educação é vista como um fator de transformação social, neste contexto, já na educação infantil acontece à interação e intervenção. Com a inserção da criança muito cedo no ambiente da educação, o atendimento a ela desenvolvido vem passando por mudanças. Dessa forma as práticas educativas, tendem a adequar-se as exigências sociais.

Deste modo, considerando que a educação infantil é a base dos conhecimentos da criança, pensando na importância desses primeiros passos para a criança, faz-se necessário ‘novos olhares’ para a educação. Pensando nisso, questiona-se a dimensão e a importância de uma prática pedagógica com uma visão do ser integral. Assim julga-se necessário desenvolver este trabalho de pesquisa que tem como objetivo: Educação do ser integral.

Considerando que ao se voltar para a subjetividade, a ciência não encontra respostas sobre o que é um ser humano. Deste pensamento, surgiu a problemática: Qual a contribuição da pedagogia transpessoal na educação infantil?

A partir disso, firmou-se como objetivo geral: Explorar a colaboração da educação transpessoal na infância. Para se chegar a essa análise, perpassou-se pelos objetivos específicos, os quais foram: Evidenciar a contribuição da pedagogia transpessoal no processo de ensino; Investigar sobre algumas técnicas transpessoais que podem ser aplicada na educação infantil e propor reflexões acerca da integração da educação transpessoal na infância.

A relevância da pesquisa se encontra no fato de que se torna necessário esse olhar para a introdução de práticas transpessoais na educação, assim, posteriormente, podem-se produzir novas reflexões acerca do trabalho desenvolvido nessa etapa de ensino para a melhoria das mesmas visando a uma educação de qualidade. As práticas transpessoais possibilitam que a criança seja vista não mais como um ser repetidor, mas como um ser que pensa e que tem aspirações, sendo valorizadas sua identidade e perspectivas.

Foram consultadas algumas literaturas relativas ao assunto em estudo, explorando livros que possibilitassem que este trabalho tomasse forma para ser fundamentado. Segundo Marconi e Lakatos (1992), o levantamento bibliográfico tem como finalidade fazer com que o pesquisador entre em contato direto com o material escrito sobre um determinado assunto, auxiliando a análise e manipulação das informações.

1.1. Educação Tradicional Versus Educação Transpessoal

O educador pode ser comparado a um artesão que esculpe nos materiais mais rudimentares um novo ser. Segundo Alvarez (2008, p.15) “O educador precisa extrair da rocha bruta dos instintos a flor da essência daquele ser único em sua diferença, e igual em sua humanidade.” Porém, se pensarmos o educador como artesão, logo, um agente de mudança, esse mestre da arte de ensinar torna-se envolvido num modelo dogmático. Para que ocorra a mudança desse modelo educacional vigente na grande maioria dos estados, as mudanças precisam ocorrer nos educadores, pois o processo passa pelo fluxo entre ser educador e aprendiz simultaneamente. Paulo Freire já ensinava que para haver mudanças, antes de tudo era preciso que ocorra a libertação da consciência (ALVAREZ, 2008).

Para Acampora (2013), somente aprendendo a defender a nossa subjetividade, ou seja, somente conhecendo a si mesmo, poderemos conhecer e ajudar o outro.

Você faz parte de um todo. Você é um pedacinho do universo. Você é feito luz, é capaz de fazer as coisas mais maravilhosas...Use a imaginação e comece a criar: você e sua criança interior. E o resultado será maravilhoso. Seu trabalho, sua rotina, seus relacionamentos irão se transformar (ACAMPORA, 2013, p.19).

Do contrário, se não questionamos o modelo educacional vigente estamos utilizando a “fôrma” que é igual para todos. “Nesse molde estão presentes uma identidade, uma linguagem e um sistema de valores.” Essa fôrma está à disposição do sistema que prepara as pessoas para serem passivas e obedientes (ALVAREZ, 2008, p.16). Entretanto, precisamos criar e transmutar no sentido de inovar, mas também precisamos do ‘porto seguro’, ou seja, de certa organização que o sistema proporciona. Desse modo o segredo parece manter o equilíbrio entre criar e aceitar. O paradoxo da educação é justamente não fazer esse equilíbrio, pois existem educadores que aprisionam a criatividade das crianças e outros quando buscam liberta-la são ironizados e desprezados pelo sistema.

Um exemplo desse paradoxo é o ensino na área médica, as pessoas são concentradas em especialidades (ortopedia, cardiologia, etc.). Essa tendência do ensino forma profissionais específicos, sem a visão da conexão com o todo.

Ora, a realidade não é fragmentada. Não existe nada independente e separado no mundo, desde as moléculas mais simples até a sociedade humana. O que separa, divide, fragmenta, é o intelecto em sua atividade analítica. Imaginem um corpo retalhado em órgãos: coração, rins, fígado, intestinos, ossos, sangue, neurônios... isso não é um corpo vivo, é um cadáver. Um corpo vivo supõe uma conexão vital entre as partes, todas funcionando de forma equilibrada e harmoniosa (ALVAREZ, 2008, p.19).

Essa visão fragmentada, no entanto vem sendo questionada pela transdisciplinaridade (busca o conhecimento do mundo presente) e pela teoria sistêmica (focaliza na interação e interconexão do todo). A teoria sistêmica faz menção ao pensamento holístico (todo sagrado) e ecológico (não altera o ecossistema), assim uma visão integrada da vida e de seus processos. Pode-se dizer que o paciente passa a ser visto como um ser humano na sua totalidade, e não mais uma patologia específica. Com essa visão do todo e esses novos conceitos criaram um novo paradigma de conhecimento, possibilitando embasamento para o método integrativo na educação e posteriormente a Psicologia Transpessoal.

Segundo Acampora (2013, p.18) ao trabalhar com crianças precisamos libertar nossa criança interior para compreender a criança do outro. Para a autora a espontaneidade está em aproveitar coisas simples e belas da vida, “é preciso escutar sua criança interior”. Ela expõe que no trabalho com crianças precisamos:

Lá no fundo do seu “eu”, sua criança está escondida. Ela quer falar, mas você na maioria das vezes se esquece de ouvi-la. Vamos escutá-la com atenção? Abra sua mente e seu coração, pois você terá sucesso com crianças quando realmente entender o pequeno sol que brilha dentro de você. Então tudo será mágico (ACAMPORA, 2013, p.18).

Conforme Acampora (2013) o educador conseguirá a aproximação com o outro, nesse caso as crianças em especial. O educador precisa estar preparado para as possíveis reações das crianças no cotidiano do ensino, tais como: resistências, bloqueios e sentimentos de incapacidades, entre outros. As crianças precisam ser acolhidas em suas dificuldades e não criticadas por não corresponderem às expectativas dos pais e dos professores, pois ao fazer a crítica inibisse o potencial criativo da criança.

Hall (2004) chama atenção para o fato da criança, às vezes, não diferenciar a imaginação e a realidade, logo, se assistir a um filme de vampiros pode sofrer com medos noturnos. Assim conclui-se que a mediação do adulto deve sempre ser no sentido de propiciar a imaginação e criação, porém sempre deve avaliar a faixa etária e o conteúdo do que se passa para a criança.

Alvarez (2008, p.66) diz que a criança sente a necessidade e têm interesse pela magia e os mistérios da vida. E cita como exemplo a série milionária de livros e filmes de Harry Potter dessa necessidade de estímulos criativos ao místico. “Nunca foi tão evidente a carência dos seres humanos por sentimentos de fé na própria capacidade de criar novos mundos, de transformar a realidade, de imprimir na vida a marca do seu jeito”. O sentido de fé descrito não está referenciando a religiosidade, mas sim aquilo que você acredita. O acreditar na criança é relativo, pois uma criança que assisti ao filme de Harry Poter pode sentir medo ou do contrário pode sentir muita excitação e alívio emocional por concluir que aquilo é uma ficção.

O conteúdo da aprendizagem pode vir de filmes ou programas de televisão, ou ainda do que vemos e ouvimos. Infelizmente, embora sejam em geral observadoras atentas, as crianças nem sempre possuem a capacidade intelectual ou emocional de processar o que aprendem por meio da observação, e o resultado pode ser ansiedade e medo (HALL, 2004, p.20).

Para Hall (2004, p.16) “algumas crianças podem esconder o desconforto emocional e intelectual que sentem, mas pai e mãe sagazes conseguem perceber pela observação de sintomas físicos e comportamentais”, porém acrescento que também os educadores participam do processo de observação desses comportamentos e providenciar manejos para aliviar estes desconfortos.

Quando o educador utiliza a imaginação como fonte positiva pode realizar ‘milagre’ com os medos das crianças, “você lembra do poder mágico de um pequeno curativo? Se curativos fazem milagres com cortes, imagina o que podem fazer com os medos!” (HALL, 2004, p.51) Segundo a autora um toque, uma voz calma em um tom afetuoso faz com que a criança sinta-se amada e segura.

Atualmente pode-se dizer que a ciência nasceu da ruptura com o mundo encantado, ou seja, o mundo metafísico misterioso foi deixado de lado por um mundo previsível, uma ideologia cientificista, na qual a objetividade transformou-se em critério de verdade. Alvarez (2008, p.38) relata, no entanto que “hoje, com as descobertas das neurociências, podemos afirmar que a realidade não é uma visão única, como o quer a ciência clássica, mas um processo de construção subjetiva incessante”. A autora diz que os investimentos educacionais deveriam ser no processo de construção do aluno, por meio de trabalho pedagógico participativo, e não mais apenas a assimilação de conteúdo.

Um dos pensadores e defensores do movimento por uma educação em valores humanos foi o educador Régis de Morais, que partindo do princípio de que há uma conexão entre educação e espiritualidade, definiu critérios norteadores de uma pedagogia fundamentada na busca da transcendência e da espiritualidade:

  • O reconhecimento da dignidade da pessoa humana;
  • O cultivo da solidariedade, em oposição ao individualismo;
  • A reconquista do corpo como o território do sagrado;
  • O resgate da consciência ecológica (ALVAREZ, 2008, p.43).

Quando falamos de transcendência do pessoal, estamos definindo uma visão globalista, holística e universal do ser, portanto o termo mais adequado seria transpessoal. Essa visão sintética da realidade pode complementar a atual visão analítica.

Logo, uma pedagogia de orientação transpessoal significa que este conceito é aplicado a um projeto educacional que, desse modo, adquire as qualidades transpessoais. Ou seja, ele irá possuir uma visão sistêmica e holística da pedagogia e, por consequência, irá tornar-se um método para formar estudantes transpessoais (ALVAREZ, 2008, p. 44).

Segundo Alvarez (2008), essa proposta educacional, ou seja, uma pedagogia transpessoal, tem como fundamento o resgate dos valores humanos na educação, facilitando que as virtudes individuais sejam descobertas. “Para a psicologia transpessoal, a consciência pode ser obscurecida pelas ilusões do ego, que desviam esse contato com nossa alma e mantém nosso eu atado à satisfação das paixões sensoriais e apegos egóicos” (ALVAREZ, 2008, p.44). Com isso forma-se uma falsa consciência que só se restabelece pelo retorno à verdadeira consciência.

A transpessoal contribui na educação com um método mais simples do que o vigente, pois não busca adequar os alunos aos ajustamentos sociais e ao mercado de trabalho com sucesso financeiro e profissional. Pelo contrário, a transpessoal encoraja o aluno a mística da vida, estimulando a capacidade criativa, dando vazão à transcendência (ALVAREZ, 2008).

1.2    A Imaginação Criadora

Segundo Vigotsky (2009) o ato de criar está relacionado intimamente à imaginação, e esta depende do contexto histórico ao qual a criança está inserida e a diversidade de estímulos. Tudo isso ligado aos sentimentos e emoções, dando significado a tudo que nos rodeia, construímos nosso imaginário durante toda a vida.

[...] se a atividade do homem se restringisse à mera reprodução do velho, ele seria um ser voltado somente para o passado, adaptando-se ao futuro apenas na medida em que este reproduzisse aquele. É exatamente a atividade criadora que faz do homem um ser que se volta para o futuro, erigindo-o e modificando o seu presente (VIGOTSKY, 2009, p.14).

O autor ainda ressalta que para cada fase da vida a criação torna-se diferenciada, pois depende do conhecimento a priori, “[...] quanto mais rica a experiência da pessoa, mais material está disponível para a imaginação dela.” (VIGOTSKY, 2009, p.22).

Alvarez (2008, p.73) diz que a magia que estimula a imaginação está em falta, mas que atualmente, entre os educadores, começa a ocorrer certo despertar pelo “resgate das tradições, de mitos e símbolos relacionados com a volta à natureza, aos festivais ligados à terra, aos ritos de passagem, às antigas danças sagradas circulares” que desenvolvem a percepção da conexão universal.

Este tipo de consciência de fato enriquece a nossa vida, porque nos consente a transcender os limites do cotidiano; e esta é uma experiência da qual nós realmente necessitamos se desejamos realizar plenamente nossa humanidade. Não é a curiosidade a origem do desejo de aprender e de conhecer, uma vez que a curiosidade é rapidamente satisfeita. É a maravilha, segundo o meu olhar, que nos projeta em direção a uma penetração cada vez mais profunda nos mistérios do universo e a uma autêntica aproximação na conquista do humano (BETTELHEIM, 1997, apud (org.) PEIXE, NEIVERTH, p.29).

Oferecendo à criança a possibilidade de admiração e maravilhamento pelas coisas do mundo. Assim a imaginação como fonte criadora, surge desde a infância e perpetua no decorrer da vida com toda a sua ‘bagagem’ de conhecimento.

1.3. Técnicas Transpessoais Aplicadas Na Educação

A transpessoal possui uma visão holística do ser integral, para estimular o desenvolvimento do físico, o emocional, o mental e o intuitivo. Roberto Crema denominou de alfabetização psíquica, tratando isso como uma tarefa a ser introduzida nos bancos escolares, visando uma pedagogia que restabelecesse o afeto, que estimulasse os vínculos afetivos e que ensinasse a criança a lidar com seus sentimentos.

A alegria é uma lição fundamental, na escola da existência. A tristeza é uma estratégia saudável, no contato com as perdas. Aprender a lidar com a raiva é imprescindível, na relação com o mundo. E o medo é outra lição que precisa ser trilhada, no confronto com o desconhecido. Quando o aprendiz não tem acesso ou reprime a expressão emocional das emoções autênticas, um disfuncional repertório emotivo substitutivo é adquirido (CREMA, 2006, p.1).

O relaxamento atualmente está sendo utilizado em muitas práticas terapêuticas, com o objetivo de ajudar nos problemas emocionais, e as crianças pode obter grandes benefícios com essa expansão da consciência. A professora Giorgina Martins (citada por Alvarez, 2008, p. 121-122) traz o relaxamento como proposta de facilitação ao aprendizado e a memorização na criança. Abaixo será transcrito os passos desse relaxamento:

[...] Entre outras coisas, o relaxamento libera tensões e, estresse, ativa energias positivas e criativas, harmoniza e equilibra pessoas e ambientes. Associado às cores, o relaxamento trabalha principalmente com as emoções, equilibrando, harmonizando e tranqüilizando-as (ALVAREZ, 2008, p. 121).

  • Música: é um fator importante, pois ao ser instrumental e suave facilita o estado de interiorização, além de harmonizar as crianças;
  • Corpo relaxado: a postura relaxada propicia a criança maior entrega aos comandos da facilitadora (o) do relaxamento. Pede-se a criança que soltem objetos, fechem os olhos e se posicione de maneira confortável sobre a carteira;
  • Respiração: de fundamental importância, ela começa ritmada e profunda, depois tornasse mais suave e harmônica. A respiração principalmente para a criança favorece que, em estado de medo, estresse e ansiedade, que ela se acalme.
  • Visualizações: como a criança possui uma imaginação bem fértil as visualizações são bem aproveitadas como fonte de imagens positivas para a mente. Nessas visualizações pode-se utilizar de luzes coloridas como sugeri a professora.

Segundo Alvarez (2008, p. 180-184) uma das lições da Transpessoal ensina que precisamos sonhar o “sonho lúcido”, diurno, consciente. “Os primeiros a usar o sonho acordado, como uma técnica para entrar nesse domínio do inconsciente, foram os xamãs”. Os xamãs eram pessoas com capacidade mediúnicas ou treinadas para atuar em estados alterados de consciência. O relaxamento como prático, e auxiliado com visualizações imaginativas é um estado alterado de consciência.

Janet Hall (2004, 55-59) relata que a imaginação infantil é um precioso material para se trabalhar, assim a preferência por atividades que envolvem relaxamento é muito produtivo. Ela faz uso da “respiração mágica” e “brincadeira do desengonçado”. Também se refere à produção da própria fita de relaxamento, ou seja, personalizada, todas as informações e exemplos dos relaxamentos estão presentes em sua obra.

Robin, este é seu momento especial. É seu tempo de relaxar, sentir–se confortável e ouvir uma música agradável. Agora, imagine que está respirando um pó mágico. Robin, imagine que uma fada está agitando sua varinha mágica e um pozinho cai sobre você. Agora, inspire e vá contando até vinte; quando chegar a vinte, Robin, vai estar se sentindo muito, muito relaxado e confortável (HALL, 2004, p.57).

Outra técnica a ser utilizada com crianças na educação transpessoal e que obtém bons resultados são os desenhos. “Todo mundo tem a habilidade natural de expressar sentimentos por meio de imagens...” (HALL, 2004, p.69). Para a autora, ao incentivar a criança a desenhar os pensamentos piores, pode-se então, entrar em contato com a realidade e a força desses pensamentos, a deste modo vai conseguir ajudá-la a enfrentar seus medos. Como processo de cura no caso de medo, pode-se sugeri que o desenho seja queimado pelo adulto, como forma de a criança criar uma imagem de desaparecimento do medo materializado.

[...] enquanto desenham ou criam objetos também brincam de “faz-de-conta” e verbalizam narrativas que exprimem suas capacidades imaginativas, ampliando sua forma de sentir e pensar sobre o mundo no qual estão inseridas (BRASIL, 1998, p.86).

Meus desenhos de mandalas eram criptogramas que me eram diariamente comunicados acreca do estado do meu si-mesmo. Eu podia ver como meu si-mesmo, isto é, minha totalidade estava em ação (JUNG, 1971, p.199 apud ROTH, 2011, p. 59).

Na transpessoal são utilizadas como fonte de equilíbrio e cura os desenho de mandalas. Para Jung as mandalas aparecem nos desenhos infantis e representam de modo especial também os impulsos desenvolvimentistas do si mesmo.

Alguns estudos também sugerem que os contos de fadas ajudam crianças com problemas emocionais, pois a psicologia por trás dos contos apresenta imagens à mente infantil, contribuindo na identificação da criança de seus próprios medos e sonhos inconscientes. “Lembre-se de que os contos de fadas levam ao sonho, que são parte do modo que a natureza tem de ajudar nossa mente a integrar, projetar, analisar e experimentar possibilidades.” (HALL, 2004, p.69).

Uma possibilidade de trabalhar com crianças é a utilização de elementos da natureza como fonte de inspiração. “O mundo onde a criança vive se constitui em um conjunto de fenômenos naturais e sociais indissociáveis, diante do qual ela se mostra curiosa e investigativa” (GONÇALVES, LEMES, ARAGÃO in: (org.) PEIXE, NEIVERTH, 2014, p.232). As pedras, por exemplo, podem ser usadas como elementos de integração da natureza em uma massagem corporal. Onde a criança ao receber o estímulo da massagem reconheça as sensações corporais e perceba as reações físicas. Com essa técnica pode-se trabalhar experiências e aprendizagens significativas por meio de contato com elementos naturais, tais como: areia, água, pedras, ar, argila e outros. Além disso, aconselhasse a usar sons da natureza (pássaros, mar e animais), como fundo, criando uma atmosfera mágica de uma floresta (GONÇALVES, LEMES, ARAGÃO in: (org.) PEIXE, NEIVERTH, 2014, p.238). Ao citar a massagem como prática educativa, estamos falando da importância do toque para a criança e seu desenvolvimento emocional. Então a massagem aliada a óleos ou cremes, podem ser uma tática de trabalho bem interessante na educação transpessoal.

Existem muitas técnicas que podem ser utilizadas em proveito de uma educação transpessoal, foram citadas apenas algumas alternativas, mas as fontes não se esgotam. O educador ao criar as técnicas também exercita o seu processo imaginativo e entra em contato com sua criança interior.

2. Considerações Finais

A pesquisa propôs um levantamento de informações bibliográficas sobre a importância da transpessoal na educação. Constatou-se que a transpessoal utiliza técnicas para desenvolver o poder criativo e a transformação das imagens mentais. Dentre as técnicas, foram estudadas as que envolvem o relaxamento, a visualização, o desenho, a massagem, entre outras. Além disso, verificou-se que as técnicas citadas podem interagir entre si, ou seja, serem utilizadas ao mesmo tempo. A utilização dos mecanismos de visualização consciente, relaxamento, massagem e desenho, quando bem planejadas possibilitam a criança esculpir formas criativas de elaborar e ressignificar seus sentimentos. As estratégias pedagógicas podem ser sistematicamente elaboradas levando em conta a criança como ser integral e dotada de emoções imaginárias. O educador que cultiva a educação transpessoal concentra no equilíbrio ao vivenciar uma cultura de paz, respeito e amor.

E para finalizar, nada melhor do que retomar as palavras de Osho no livro El Nuevo Niño (apud VECCHIO, 2006, p. 126):

O amor e o respeito podem ajudá-los docemente a serem mais compreensivos no mundo, podem ajudá-los a estar mais alertas, conscientes, cuidadosos, porque a vida é preciosa e é um presente da existência. Não deveríamos desperdiçá-los.

Para Osho, quando falamos de respeito em relação à criança significa não invadir a sua potencialidade, mas apenas ajudá-la a ser feliz para que possa expandir sua felicidade. Conclui-se que quando o educador transpessoal possibilita a alegria autêntica na criança, isso faz com que ela encare a vida escolar de maneira mais saudável.


Notas e Referências:

ACAMPORA, Bianca. Psicopedagogia Clínica: O despertar das potencialidades. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora wak, 2013.

ALVAREZ, Mani. Transpedagogia: Educar para a Consciência. Coleção Tempo Transpessoal. 2008. Edição Independente.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.

CREMA, Roberto. Educar a Alma - Alfabetização Psíquica. 2006. Disponível em http://idem.shark3ds.org/pdf/191.pdf. Acesso em 15 de set. 2015.

HALL, Janet. Bicho papão não existe: ajudando seu filho a superar medos. São Paulo: Editora Fundamento Educacional, 2004.

KLAJNER, Henrique. A auto-estimulação das crianças: Como permitir que seu filho desenvolva todas as suas potencialidades motoras, intelectuais e psicológicas, dos 4 meses de idade aos 12 anos. São Paulo: Marco Zero, 2002.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Editora Atlas, 1992. 4a ed. p.43 e 44.

PEIXE, Débora Cristina de Sampaio; NEIVERTH, Thaisa. Creches Catarinenses: experiências de formação e práticas pedagógicas. Florianópolis: UFSC-CED-NUP, 2014.

ROTH, Wolfgang. Introdução à Psicologia de C.G.Jung. Wolfgang Roth; tradução de Edgar Orth e Enio Paulo Giachini. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2011.

VECCHIO, Egidio. Educando Crianças Índigo: Uma nova pedagogia para as crianças da nova era. São Paulo: Editora Butterfly, 2006.

VIGOTSKY, Lev Semenovich. Imaginação e criação na infância: ensaio psicológico: livro para professores. Apresentação e comentários de Ana Luiza Smolka. Tradução de Zoia Prestes. São Paulo: Ática, 2009.


Evanilsa Coelho MartinsEvanilsa Coelho Martins é formada em psicologia pela UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina), mediação pelo TJSC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina), especialista em Psicologia Transpessoal pelo ITECNE (Instituto Tecnológico e Educacional de Curitiba), e atualmente cursa especialização em Gênero e Diversidade na Escola pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).

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Imagem Ilustrativa do Post: Children Jumping // Foto de: Jon Grainger // Sem alterações

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/jongrainger/14869969397/

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O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.


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