Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
Se assim fomos e somos,
feitas daquele barro vermelho (sem espelho),
daquelas agruras e daquelas doçuras,
daquela mistura contraditória e complementar a um só tempo,
sem tempo,
sem data marcada
para existirmos,
embora tenhamos nascido com dia certo,
e certificado,
é porque nossa história estava traçada.
E foi assim também que,
naquelas lonjuras,
nos tornamos
donas do próprio destino,
em desalinho
com o que pensaram para nós,
contrariando aquilo que estava carimbado.
Porém, quem voa antes do tempo,
do ninho,
ganha recriminação,
nada de compaixão,
e há de seguir seu coração
para ser o que veio para ser.
Crescer, ser, morrer sem perceber, renascer,
E de novo voltar a ser.
Essa teimosia em tirar da vida
o que pensou que lhe cabia,
acabou levando-a adiante.
Mas tudo pode desfazer-se em um instante.
E isso ela também sabia.
Porque no fundo só temos esse instante.
E ele é imenso, mas finito.
E com nada rima, pois a vida não tem tanta poesia,
embora sim nos reanima, com profunda emoção,
pois das tristezas também nascem belezas.
E nas certezas que temos, ah, se as temos,
conseguimos nos identificar,
e nos apoiar,
mesmo na distância da solidão.
*FOTO ARQUIVO PESSOAL DA AUTORA*