UNS VERSOS ENTRANHADOS  

03/03/2021

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Inspirado em visita à Penitenciária Feminina Abreu e Lima (PFAL), em Pernambuco.

I.

"Teve rebelião hoje, vocês vão querer entrar?"

Boas-vindas sem cheiro na testa nem aperto de mão

Rangendo as entranhas até mãos e pés começarem a vazar

 

Nos entreolhamos detector  adentro

Um apito.

Ufa, eram apenas os botões metálicos da minha calça jeans

 

Jeans também usava a bailarina

Tínhamos, inclusive, semelhanças em nome

E era uma outsider, assim como também sou

Aliás

dizia-se outsider

Como também me digo às vezes

De resto, via o mundo pelas​ frestas do pavilhão

Já eu

Esforçava-me por ter olhos que ao menos irrompessem o tal

centro de gravidade

Se bem me lembro das aulas de Física

 

Que dizê-la

Ela começou:

- Sou dançarina!

O fim da história é como dá pra imaginar

Ambas temos Facebook

Mas ela carregou muito mais pedras.

Quilos, na verdade

Foi assim que não pôde ver o adolescer do filho

 

II.

Aqui fora, vejo linhas cruzadas por toda a parte

Vem à lembrança a bailarina encarcerada

Disse-me que quando sair não quer saber de pedra

E eu

Nunca quis

 

Quê mais nos aproximará?

É a pergunta que prefiro responder

A outra

Ah

essa atritará/como também aprendi nas aulas de Física

com o pó encoberto pelos nossos tapetes

"Teve rebelião hoje, vocês vão querer entrar?"

 

Imagem Ilustrativa do Post: grave // Foto de: MichaelGaida // Sem alterações

Disponível em: https://pixabay.com/pt/photos/cemit%C3%A9rio-grave-tombstone-figura-1670223/

Licença de uso: https://www.pexels.com/creative-commons-images/

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

Sugestões de leitura