UM RECADO JOVEM AOS JOVENS-ADULTOS: REFLITAMOS SOBRE A VIDA E SUA SETÊNIALIDADE  

25/12/2020

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

‘’Não se pode mudar o mundo, mas podemos aprender a viver nele’’

‘’Não se pode mudar as pessoas, mas podemos ajudá-las a transformar a si próprias’’

Este texto, que mais se parece com um rascunho de desabafo mal-acabado, fala da vida e de seus ciclos. Não só isso, arisca-se enunciar uma reflexão direcionada aos jovens-adultos, aquelas pessoas que se encontram no conflito – delicado e infindável – entre ciclos: o da juventude e o da fase adulta. A compreensão das fases ou os ciclos da vida é indispensável ao aprendizado de nós mesmos e sobre o que nos rodeia: conhecer cada uma das fases pelas quais nós passamos e refletir sobre elas nos permite aprender como lidar melhor com cada uma delas.

Sem mais delongas, falemos sobre ciclos.

Certa vez, quando menos atarefado, decidi – curiosamente – dar uma pausa, ainda que temporária, em minhas atividades acadêmicas (de estudo e de pesquisa, haja vista ser graduando em Direito), para fugir da rotina, respirar novos ares – deixando um pouco de lado o mundo jurídico - e refletir sobre a vida e às suas fases.

Ao me permitir enxergar outros horizontes, deparei-me com algo que até então não conhecia: a ‘’Teoria dos Setênios’’.

Criada pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner, a Teoria dos Setênios - que encontra morada na antropofasia[1] - defende que a vida se subdivide em ciclos. Ainda, isso rememora um número: o número 7 (sim, este número) e um período: uma setênialidade (ou seja, sete anos). Essa escolha não se deu por acaso e foi fruto do estudo desse filósofo sobre o funcionamento da natureza de seus ritmos: a natureza funciona e se ritmiza através de ciclos.

Os três primeiros ciclos, que compreendem nossa fase 0 a 21 anos, são denominados ''setênios do corpo''. É o ciclo do amadurecimento físico, do corpo, e que também é responsável por formar a nossa personalidade. Os três ciclos seguintes, que vão de 21 a 42 anos, são conhecidos como ''setênio da alma''. Trata-se da fase em que, superadas as experiências básicas da vida, inserimo-nos na sociedade, fazendo escolhas quanto ao rumo de nossas vidas, tais como casar, ou não, trabalhar, ou não, ter filhos, ou não, conviver mais ou menos com a família, trabalhar em uma área específica. E, após os 42 anos, quando vivenciados os últimos setênios, estamos realmente preparados para imergirmos na vida com maturidade, profundidade e espiritualidade.

Mas, por que falar em teoria dos setênios e de que forma ela nos permite refletir sobre a vida?

Rudolf Steiner – criador da Teoria ora mencionada – nos ensina a viver a vida de forma cíclica e observar os ritmos da natureza.

A cada ciclo (de sete anos), aprendemos com o ciclo que se passou, desenvolvemos habilidades, assimilamos um conjunto de factores e caminhamos para o próximo período no qual esse ciclo se repetirá. Assim, a cada setênio (a cada sete anos) nossa vida muda por completo. Será se já paramos para pensar nisso? Em qual ciclo nós estamos? Onde nós estávamos há sete anos? Com quem estávamos? O que estávamos fazendo? Quais eram os nossos planos? De lá pra cá, tudo mudou? Nós mudamos? Tantos questionamentos para pouco tempo: conhecer a si mesmo e a natureza e seus ritmos nunca foi – nem será – uma tarefa fácil.

E eis o dilema da vida: o que fazer a cada ciclo setênial (de 7 anos)? Há quem diga que a cada intervalo setenial seria o tempo que levamos para absorver todo o conhecimento de um ciclo para, depois, partir para novos desafios. Poder-se-ia falar que é momento para transformar a nós mesmos? E mudar outrem? Se sim, como fazê-lo? Se não, por que não? Voltamos aos famosos ‘porquês’ (e não, não me refiro aos 13 porquês – ‘’13 Reasons Why’’) que inquietam todo e qualquer ser humano, aqueles sobre os quais a Paulla Toller falou em sua música ‘’Oito Anos’’.

A  bem da verdade, porém, Não se pode “mudar o mundo”, mas, como num filme: “muita calma nessa hora, muita hora nessa calma”, não há por que se desesperar e pensar que tudo está perdido. Ainda que nós não possamos ''mudar o mundo'', podemos, sim, interferir, que bom seria ''mudá-lo'', nele, do nosso modo, à nossa maneira, deixando a nossa marca. Caberia saber, porém, qual marca queremos deixar, que dirá como queremos ser lembrados: a de bondade e generosidade, ou a de maldade e perversidade?

 

Notas e Referências

[1]Muito resumidamente, a antropofasia é uma linha de pensamento, criada pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner, que defende uma ‘’pedagogia do viver’’, abrangendo várias áreas da vida humana, como o campo da saúde, o campo educacional, etc. Conforme tal linha de pensamento, o ser humano, como parte do mundo, deve conhecer a si mesmo para conhecer o universo. Trata-se de ‘’um caminho de conhecimento que deseja levar o espiritual da entidade humana para o espiritual do universo’’, e que defende existir uma subdivisão de ciclos da vida, intitulando-a ‘’Teoria dos Sentênios’’. Ainda, é uma forma de ler e interpretar a vida a partir de seus ciclos.

 

 

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

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