TENTATIVA DE POEMA

03/04/2020

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Um dia me perguntaram se eu já tinha cometido algum crime

Respondi que sim, ao que meu interlocutor incrédulo me perguntou: “mas qual crime cometeste?”.

E eu ligeiro respondi: “Escrever!”.

E meu interlocutor: “Como assim escrever!?”.

E eu respondi: Escrever em um reino onde o soberano ama a boçalidade, é um ato revolucionário. E eu escrevo sobre a vida, a morte, a dor a tragédia e talvez até sobre o amo. Em tempos angustiantes e formado por pessoas hipócritas e egoístas, somente o afeto pode ser revolucionário.

Porque pelo afeto as pessoas passam a sorrir, o afeto faz a pessoas se sentirem confortadas em um mundo cada vez mais angustiante e medicalizado.

Pode ser que até um dia eu seja preso e as pessoas passem a perguntar qual crime que eu cometi. Uns dirão que é porque sou comunista — mas na realidade nunca fui —, outros dirão que é por causa de uns ditos “criminosos” que eu defendo — ainda que alguns dos apontadores cometam barbaridades muito maiores —, mas na verdade mesmo o maior crime que eu cometi e que talvez seja digno de me levar à masmorra, é o de tentar ser poeta, porque em um mundo tão vazio é tão sem amor, expressar sentimentos provavelmente é o crime mais grave da história.

 

Imagem Ilustrativa do Post: Moleskine Smart Notebook // Foto de: Shou-Hui Wang // Sem alterações

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/vector_tf/8671746455

Licença de uso: https://creativecommons.org/publicdomain/mark/2.0/

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

Sugestões de leitura