Sobre Relações de Poder e Organizações Sociais

21/06/2019

Coluna Práxis / Coordenadoras: Juliana Lopes Ferreira e Fabiana Aldaci Lanke

O presente estudo se lança a averiguar no contexto histórico a distribuição do poder no contexto macrossocial, que implica diretamente na adaptação humana e organização social correspondente aos direcionamentos do poder institucionalizado. Pois, no contexto local, as ações e medidas coletivas ou individuais são de certa forma, atingidas pela deferência a uma lógica estabelecida e formalizada na sociedade, em todos os níveis e estruturas. Embora, não se possa estabelecer regra de comportamento duradoura, há uma determinação de durabilidade nas práticas coletivas.

Válido estabelecer diretriz de entendimento sobre poder, assim, recorre-se a Guareschi (2000, p.97) que compreende o poder como a “capacidade de produzir algo”. Assim, os indivíduos, de acordo com sua localização na sociedade possuem distintos graus, ou quantidade de poder. O autor trabalha, ainda, com o conceito de dominação que, de certo modo, está intrinsecamente ligado ao poder. Vez que, dominação é condição em que algum indivíduo é destituído de sua capacidade de produzir algo, em detrimento de outrem. A condição de subjugação frente aquele que concentra os poderes e age, produz, exerce e executa feitos segundo suas próprias necessidades.

Para Katz e Kahn (1987, p. 242) que analisaram diretamente as organizações sociais e os papéis que os elementos desempenham nos sistemas organizativos a ideia de poder se relaciona com autoridade, que confere legitimidade ao poder concentrado. Assim, “Poder é o potencial para influência, caracteristicamente apoiado por meios de coerção para cumprimento. [...] autoridade é poder legítimo; é o poder que uma pessoa tem, em virtude de seu poder legal e socialmente aceito.” Neste sentido, a relação de poder é apontada com a proposta de influência, e, diretamente ligada a proposta de mando. Obviamente, o foco de estudo dos autores sendo as organizações sociais, podem implicar vertiginosamente na compreensão e no estabelecimento dos conceitos eleitos. 

A questão da legitimidade que percorre as relações cotidianas, é descrita por Bauman (2014, p. 53) como “algo” pautado em “quem” tem o direito de traçar a linha divisória e definidora entre o legítimo e seu oposto. Perpetua-se, portanto, neste entendimento entre o legítimo e o ilegítimo um objetivo almejado nas lutas de poder. Contudo, na atualidade, estão permeadas pelo “adiaforismo”, que para o autor se refere a condição de dispensa de qualquer avaliação ética ou segurança moral. Contemplam-se neste contexto, as paixões exacerbadas pela novidade, que dará espaço a outra novidade, que por sua vez dará espaço a outra novidade.

Assim, a que se considerar que as relações de poder estruturadas na ação cotidiana civil, social ou política, e, entrelaçadas na microfísica das organizações sociais, também estão embebidas da característica de provisoriedade imperante na era Pós-Moderna. Para Bauman (2014, p. 59) o momento que vivemos corresponde a uma contínua liquidez das relações, das propostas e da ausência de busca pela verdade. Por mensagens breves e instantâneas ocorrem “viralizações” de “curtidas”, que são provisórias, mas disponíveis aos indivíduos. Há uma contínua busca por novidades e um apelo às crenças como codificadoras de fatos.

As instituições, que podem ser descritas como organismos se caracterizam por perdurarem no tempo, independentemente, de quem as tenha criado e classificam os poderes salutares a regência dos agrupamentos e da sociedade.  Ou seja, este ente dotado de permanência em seu sentido estrutural, seja físico ou abstrato, de cunho comercial ou política, consolidam em seu cerne a organização, planejamento e distribuição do poder.

Os autores Capra e Luisi (2014, p. 387) utilizam abordagem sistêmica para demonstrar que há uma configuração denominada de padrão de organização, que se trata da fôrma que permite a adaptabilidade e o trânsito orientado dos diferentes elementos reunidos para determinada finalidade. Uma organização é como um sentido para o qual os elementos são aglomerados, podendo ser diferenciada como estrutura, mas que mantém este sentido originário dado pelo padrão de organização.

No caso de um sistema social, é necessário que se tenha atenção para a característica da autonomia dos elementos de um sistema, ou de uma instituição. Também há uma expressão de padrão de organização, facilmente, pode-se encontrar características semelhantes que identifica uma igreja, ou uma escola. Mesmo que a estrutura entre duas igrejas possa ser distinta, há um padrão de organização que possibilita sua identificação como tal. Embora, haja uma regra organizacional, pela variedade do contexto, pelos anseios dos elementos, ou pela finalidade comum de algum agrupamento pode diferenciar seu comportamento em relação a outro agrupamento. Segundo Katz; Kahn (1987, p. 30-31) expressam como de fundamental importância conhecer o meio social no qual os indivíduos se organizam, além disso, reconhecer a ênfase sobre o indivíduo, como elemento sistêmico que possui ingerência sobre a finalidade. De tal modo, que regras ou categorias epistemológicas criadas para estudar os sistemas como organizações sociais, quando aplicados a sistemas sociais não possuem, necessariamente, efeito único.

A capacidade humana de estabelecer referências e valorar materiais físicos ou abstratos, advém das condições particulares pertencentes a cada indivíduo. Também, a construção de significados e experiências são particulares, Capra e Luisi (2014, p. 393) indicam que aquilo “que as pessoas percebem depende de quem elas são como indivíduos”. Ou seja, uma informação, um símbolo ou um dado pode ser percebido de forma distinta pelos indivíduos, pois as características culturais definem o significado que será dado as mensagens recebidas.

Assim, a capacidade autônoma dos elementos requer que uma ação interventiva, para organizações sociais, promova o equacionamento entre metas e finalidades dos indivíduos e as metas e finalidades das organizações às quais está ligado. Embora, esta seja uma incomensurável possibilidade de redução de erros e aumento de acertos nas ações públicas e medidas de atuação dirigida a sistemas sociais.

Desta maneira, nos casos em que as relações de poder estabelecidas almejam o estabelecimento de novos comportamentos, ou a renovação da denominada “cultura organizacional”, é válido compreender que os “sistemas vivos” pensam, sentem e constroem significados. Assim, uma intervenção imposta corre risco de ser rejeitada, pela tendência à recusa por imposições, então, “coordenação e controle, tornam-se fins por si mesmos, e não meios para um fim” (KATZ; KUHN, 1987, p. 42). Certamente, a atualidade com a impermanência das regras, valores e a flexibilidade de relações suplantam desafios aos atores e aos profissionais que proponham qualquer atuação com sistemas sociais.

 

Notas e Referências

BAUMAN, Zygmunt; DONSKIS, Leonidas. Cegueira moral; a perda da sensibilidade na modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.

CAPRA, Fritjof; LUISI, Pier Luigi. A visão sistêmica da vida: uma concepção unificada e suas implicações filosóficas, políticas, sociais e econômicas. São Paulo: Cultrix, 2014.

GUARESCHI. Pedrinho. Ideologia . In: STREY, Marlene Neves. et. al. Psicologia socia. contemporânea. 4ª. ed.  Petrópolis: Vozes, 2000.

KATZ, Daniel; KAHN, Robert L. Psicologia das organizações sociais. 3ª. ed. São Paulo: Atlas, 1987.

 

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