SOBRE PERTENCIMENTO E PANDEMIA  

31/05/2020

 

Eu disse a ele que me sentia aérea, que já não me identificava com a terra natal porque não sou mais aquela que vivia lá e também não pertencia a este lugar no qual sou sempre bem tratada, como costuma ser em todos os lugares, mas que reconhece que sou parte de uma violência histórica para com ele. Afinal, não foram os meus a desbravar ou simplesmente a queimar, desmatar enxugar esta terra, ignorando e dizimando seus habitantes originários e seus costumes?

Ele ficou encabulado com a palavra “aérea” analisando todas as sutilezas do vocábulo. Disse que adorava pertencer, que não poderia ser diferente. Eu disse que não pertencer era grave, tema psiquiátrico no meu caso.

Migrar é desprender-se, é conhecer mais, ganhar novas camadas, tolerar um pouco mais as diferenças, no entanto, migrar é também perder o chão, a segurança, as certezas.

Ele pediu que eu não me sentisse assim, que eu não sofresse, que eu me prendesse, que eu pertencesse.

Eu sempre achei que aérea era o que eu queria ser e descubro nas palavras dele (ou seria nas minhas palavras para ele?) a vontade de ser parte, afinal, é aqui que estou “em casa”.

 

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