Nesta oportunidade, colocamos, em nossa coluna deste importante site, três recentes reflexões sobre a existência do moderno ser humano nesta sociedade tecnológica e de consumo desenfreado.
Nos textos abaixo, questionamos se, nos dias de hoje, temos ou não mais condições objetivas e concretas para podermos efetivamente ser felizes. Até porque felicidade é o que importa !!!
1ª REFLEXÃO: QUEM TEM MAIS CONDIÇÕES DE SER FELIZ? FELICIDADE É O QUE IMPORTA !!!
Esta minha mensagem pode parecer fruto de um mero saudosismo. Ela pode ser interpretada como uma postura conservadora e avessa ao desenvolvimento das sociedades. Seria um equívoco esta interpretação.
Na verdade, estou provocando um questionamento sobre o “turbilhão” a que a complexidade desta nossa vida moderna nos arrastou.
Será que esse “massacre” tecnológico é benéfico para o nosso desenvolvimento humano? Será que ele é algo natural ou é resultante de escusos interesses econômicos? Temos condições de sermos mais felizes que os nossos avós ou somos mais aflitos, excitados, ansiosos e irrequietos?
Lembro-me de que, quando tinha pouco mais de dez anos, meu falecido pai, advogado e professor, tinha tempo para tudo. Tinha condições de levar uma vida muito mais tranquila que qualquer profissional liberal leva nos dias de hoje.
Meu pai tinha o seu escritório na rua da Quitanda, centro da cidade do Rio de Janeiro. Ia para a cidade de automóvel, que estacionava perto do local de seu trabalho. Por volta do meio dia ia almoçar em casa, no bairro Tijuca. Ele se deitava após o almoço. Todos nós almoçávamos e todos jantávamos juntos. Conversávamos nestas horas também. Não havia celulares e a televisão somente era ligada na parte da noite, após o jantar. Havia paz, tranquilidade e camaradagem entre pais e seu filho e duas filhas. O tempo não “sufocava” ninguém e havia reflexão sobre os nossos valores, sobre o que tínhamos feito e o que projetávamos fazer.
Nos dias de hoje, as coisas são bem diferentes. A “sofreguidão” tomou conta de todos nós e temos de trabalhar para consumir, pois o consumir é que nos dá a falsa felicidade. O individualismo e a necessidade de afirmação perante o grupo são uma realidade nos dias de hoje. Até o que comemos é fotografado e divulgado pela internet.
Acho que as pessoas estão sendo infantilizadas e já parecem verdadeiros “zumbis”, caminhando pelas ruas e shoppings com os olhos vidrados nos celulares e com os frenéticos dedos agitando-os para cima e para baixo. Veem muito, mas não têm condição de ler um pouco.
Neste tipo de sociedade, não somos mais sujeitos de nossos destinos e opções de vida. Somos, de alguma forma, domesticados ou manipulados para satisfazer os interesses de uma sociedade de mercado, que acaba determinando o que vamos ver, ouvir e gostar.
O homem moderno não mais tem tempo para pensar e refletir. Parece até que o “sistema” percebeu que as consciências críticas são perigosas subversivas.
Acho que o ser humano já não mais tem condições de mudar este processo. Sequer sabemos quem o comanda ou impulsiona. Trata-se de um processo social perverso e indomável.
A tudo isso, fica difícil uma constante adaptação, pois “corremos atrás” de algo que não conhecemos e permanentemente em mutação. Frustração é o que nos atinge a todo tempo. Tempo???
Estamos fadados à absoluta desumanização e robotização. Enfim, julgo que os administradores públicos, em futuro breve, terão de construir mais presídios e manicômios.
Concluo com a indagação inicial. Temos mais condições sociais para alcançar a sempre desejada felicidade do que os nossos antepassados? Está valendo a pena este “progresso tecnológico”, que atormenta muitos para fazer a riqueza de poucos? O ser humano está “cavando a sua própria cova”! O mal não é a tecnologia e, sim, o seu uso abusivo e compulsivo. O mal não é consumir, mas sim a sua forma compulsiva.
Como disse a banda Sepultura, em uma de suas barulhentas e instigantes músicas: “recuse, resista”.
Se é verdade que não mais temos condição de evitar o abismo que virá no futuro, não menos verdade é que podemos disto tudo ter consciência e, com maior desenvolvimento educacional e cultural, criar condições para o seu retardamento. Isso passa por advertir a novas gerações. Comecemos por nossos filhos e netos.
2ª REFLEXÃO: NESTE MODELO DE SOCIEDADE TECNOLÓGICA E GLOBALIZADA, AS NOVAS GERAÇÕES ESTÃO “SOLTAS NO ESPAÇO”
Vamos ser breves. Consigno aqui o que tenho observado de forma crítica. Nada de novo, mas pouco falado.
Refiro-me ao quanto volúveis se tornaram as novas gerações, influenciadas e manipuladas pelos interesses das grandes corporações mundiais.
A falta de uma consciência crítica torna os jovens “massa de manobras” de grandes projetos econômicos, lastreados em um “marketing” massivo e castrador.
Assim, tudo o que a grande mídia apresenta como “novo” é imediatamente incorporado ao dia a dia dos nossos jovens, que não percebem que estão sendo perversamente utilizados pelo grande capital internacional. O obscurantismo é um dos trunfos desta deletéria estratégia. Cultura geral ou humanista, nem pensar...
A moda deixou de ser um processo social natural e passou a ser dirigida por executivos das grandes corporações. Elas decidem se vamos assistir ao filme do “Homem Aranha” ou a mais uma franquia de “Guerra nas Estrelas”. Elas decidem se vamos caçar “pokemons” ou idolatrar um “cantor fabricado” por uma grande gravadora, que vai cantar no Fantástico ou no Faustão.
O fato é que, sem um ponto de reverência, sem conservar algo conquistado no passado como positivo, ficamos todos “soltos no espaço” e presas dóceis destas grandes articulações sociais e econômicas.
Nossos jovens estão sendo transformados em “zumbis”, que realimentam este perverso modelo de sociedade. Estamos a um passo do fascismo.
É preciso dizer aos meninos que os super heróis não existem e são mecanismos de fazer as crianças permanecerem em um “mundo de fantasia”, criando personalidades alienadas e maniqueístas. É preciso dizer para as meninas que as bonecas “LOL” são uma perversa enganação, forma de incentivar o consumismo e enriquecer empresários estrangeiros.
Os pais são também responsáveis por tudo isso. Muitos pais sucumbiram a esta realidade e não percebem os “monstros” que estamos criando.
Espero que eu esteja errado ou, ao menos, exagerando na minha análise. Entretanto, posso afirmar que a sociedade que se criará no futuro muito pouco terá de humana. Será uma sociedade de idiotas, como teria dito o grande Chico Buarque.
3ª REFLEXÃO: O SER HUMANO JÁ NÃO É MAIS O SUJEITO DE SUA PRÓPRIA HISTÓRIA.
No mundo atual, somos “governados” pela grandes corporações. Tudo gira em torno de interesses econômicos e o “mercado” é o grande artífice de nosso modo de vida.
É importante notar que o próprio “mercado” é controlado e direcionado, mundialmente, pelo grande capital, pelas empresas sem pátria e sem ética.
Projetos sofisticados e elaborados pelos executivos das grandes multinacionais acabam determinando, via produção e propaganda massiva, o que vamos consumir, o que vamos ouvir, o que vamos ver, do que vamos gostar, etc., etc., etc. Um exemplo disso foi a imposição das grandes montadoras de automóveis: elas decidiram que nós só teríamos carros prata, preto e branco. Acabamos gostando disso ... Puro autoritarismo.
Por outro lado, os novos automóveis, salvo as sempre presentes exceções, estão sendo fabricados sem aparelhos de som próprios para cds ou dvds. Que fazer com as nossas coleções? O que fazer com as nossas bibliotecas, quando elas forem substituídas por “pen drives” ou por leitores de textos, tipo “Kindles”.
Na verdade, a eles, não interessa o apego por nossas coisas. Ao “capital”, só interessa a sua acumulação ... O lucro não tem limites ... Os valores humanos não são limites à cobiça desmedida ...
A sociedade moderna e tecnológica está “roubando” o nosso tempo. Talvez porque o tempo seja subversivo ... O tempo nos permite pensar, nos permite vivenciar emoções, nos permite refletir e desenvolver uma consciência crítica da perversa realidade a que estamos sendo submetidos. Hoje tudo é feito para ser rapidamente consumido. Tudo é efêmero e descartável. Isto nos abrange até o ponto dos afetos.
Estamos substituindo e verdadeiro sentimento de felicidade pela excitação. A ansiedade é um dos muitos grandes males da sociedade tecnológica.
A intolerância é uma “epidemia” nos dias de hoje, resultante da falta de cultura e resultante de uma sociedade autoritária e preconceituosa.
Por outro lado, a ciência não é conhecida pela população, que apenas deseja usufruir da tecnologia imposta pelo mercado. Falam em “banda larga”, mas ninguém sabe o que seja ... Fala-se em tecnologia digital (diferente da analógica), mas ninguém sabe o que seja uma coisa ou outra ... Pior, não sabem e não têm curiosidade de saber ...
Os jovens atuais “abraçam” tudo o que o mercado deseja que eles venham a consumir, tudo de forma totalmente acrítica. A grande mídia nunca influenciou tanto a formação de novas gerações. A grande mídia é o reflexo perverso dos interesses econômicos que a sustentam.
Não somos mais sujeitos de nossa própria história e estou profundamente pessimista com o futuro desta sociedade globalizada e dominada pela ganância, pela hipocrisia, pela falta de humanismo e pelo individualismo. O ser humano está “morrendo com o próprio veneno”.
Parodiando o grande e saudoso historiador inglês Arnold Toynbee, termino demonstrando ainda alguma esperança na sobrevivência de nossa espécie, dizendo: espero que ainda haja a possibilidade de uma quarta guerra mundial, mesmo que ela seja de arco e flecha...
Como será a sociedade do futuro? Haverá futuro para o ser humano? Será ele verdadeiramente humano? Haverá ser humano e sociedade no futuro?
Imagem Ilustrativa do Post: Nomofobia - O vício tecnológico // Foto de: Bárbara Debeluck // Sem alterações
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