São nossas notas culturais – Por Léo Rosa de Andrade

07/10/2015

Estado de civilização. O estado de uma civilização é um emaranhado de muitas coisas com cada uma delas influenciando e recebendo influência das outras. Definição do dicionário: “conjunto de aspectos peculiares à vida intelectual, artística, moral e material de uma época, de uma região, de um país ou de uma sociedade” (Houaiss).

Esse “conjunto de aspectos” é um enredo intrincado, não uma simples justaposição. Note-se a quadra que vivemos: punitivismo penal, rancores contra famílias não convencionais, corrupção como forma de governo, religiosos controlando comissões do Parlamento. É a triste música nascida das nossas notas culturais.

Outras partituras culturais registram outros sons sociais: “Segundo o site The Greenest Post, a Holanda [seguindo a Suécia] acaba de fechar 19 presídios por ausência de ocupantes! Desde 2009 o Ministro da Justiça holandês tem destacado a redução no índice de criminalidade no país.

Outro ponto importante é que, para as infrações leves, foi implementado o sistema de monitoramento eletrônico em substituição ao cumprimento de pena em prisões, uma vez que tal medida possibilita que essas pessoas continuem trabalhando e colaborando para a economia do país” (http://migre.me/rHLLb).

Creio que as notas culturais gerais pela Europa são outras: A Inglaterra “fecha cerca de 20 igrejas por ano. Cerca de 200 igrejas dinamarquesas foram consideradas inviáveis ou subutilizadas em 2014. Na Alemanha, 515 igrejas católicas fecharam nos últimos 10 anos.

Na Holanda a tendência parece ser a mais avançada. É estimado que 700 igrejas protestantes fechem as portas nos próximos quatro anos naquele país, conhecido pelo forte ateísmo e pelo apoio à agenda política homossexual, à eutanásia, ao aborto e às drogas” (http://migre.me/rHNbl).

Este último site é religioso; a matéria é expressão de pesar. Confirma, todavia, a minha hipótese: não por acaso temos situação inversa à europeia: deputados religiosos, agressões a homossexuais, proibição da eutanásia, aborto na ilegalidade e guerra às drogas. Isso compõe o todo da nossa música social.

Nós temos outras características invertidas com relação a esses países que vivem um “ateísmo materialista” e “toleram o pecado”: considerando educação, saúde, distribuição de renda, igualdade entre sexos, violência, transportes etc, a Holanda está entre os primeiros países do mundo; o Brasil, entre os últimos.

Há dois caminhos que se dirigem para lugares diferentes e que levam as pessoas a conviverem em mais ou menos harmonia social. Um é o das bibliotecas (e o do hábito de frequentá-las): o Brasil tem uma biblioteca para cada 33 mil habitantes. E eu desconfio da qualidade dessas bibliotecas.

O outro caminho é o nosso predileto: o das igrejas. “Evangélicos abrem 14 mil igrejas por ano no Brasil” (http://migre.me/rHO0S); “Igrejas no Brasil são criadas e registradas quase 12 por dia” (http://migre.me/rHOsU)  “Levantamento revela que no Brasil é aberta uma nova igreja a cada duas horas” (http://migre.me/rHOqu).

Ainda, somos o maior país católico do mundo, com incontável número de templos distribuídos em 10.802 paróquias. Essa igreja opera 37.827 centros pastorais, 6.882 centros educativos, 20.701 sacerdotes, 144.910 missionários leitos, 483.104 catequistas (http://migre.me/rHOI9) e muito outros aparelhos ideológicos.

A nossa partitura de História: escravatura, coronelismo, hierarquia social, corrupção. Ademais disso, religião. Por sobre tudo isso, a causa das outras causas: somos ignorantes. Não surpreende, pois: enquanto a Holanda fecha presídios, nós elegemos donos de templos, que pedem mais prisões.


 

Imagem Ilustrativa do Post: Exposition Robert Delaunay "Rythmes sans fin" - Centre national d'art et de culture Georges Pompidou - Paris // Foto de: Yann Caradec // Sem alterações

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/la_bretagne_a_paris/15565797578

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