(RE)PENSANDO O DIREITO A PARTIR DA ARTE

04/09/2019

 Coluna Substractum / Coordenadores Natã Ferraz, Juliana Jacob e Luciano Franco

A nudez e a crueza da realidade são essencialmente cruéis. Imagine viver sem a música, o livro, o filme, a peça de teatro. Seríamos piores do que já somos sem a arte que nos cerca, nos contamina, nos emociona. Menos coloridos. Mais submissos. Menos humanos. Insensíveis. Seria insuportável. Um inferno, um Deus nos acuda. A arte não é só diversão, também é diversidade, conscientização, pedra no sapato, um não dito, um abrir e fechar de portas, um espeta bolhas. Ela nos traz ritmo, motivação, perspectiva, direção.

Bebemos nessa fonte – ou ao menos deveríamos partir dela para devaneios abstratos, viagem ao autoconhecimento. Sem o artístico não teríamos condições de olhar o outro e, sobretudo, nós mesmos. Nossa intimidade. Conflitos. Que dureza. Seríamos um apanhado de um mesmo prefixo: insatisfeitos, inseguros, inquietos, ingênuos, intolerantes. Faltar-nos-iam educação, discernimento, senso crítico e sentimento cívico.

Somos, contudo, violentos com a arte. Alvo primeiro de toda e qualquer forma de autoritarismo, especialmente o disfarçado. Feito uma flor na primavera, ela se transforma, no que é autoritário, em resistência, horizonte. Os ideais e valores democráticos na era da pós-democracia agonizam, adoecem. A arte vira urgência. A democracia tem pressa. Os sujeitos de direitos também. Uma vida seca de arte é uma vida seca de direitos. Direito e arte nos emancipam, nos tornam sujeitos, nos situam, dimensionam o lugar do outro, nos ajudam a compreender o outro, o mundo. Arte é direito. Direito é arte. Pensar o direito a partir da arte significa (re)pensá-lo. Se as produções artísticas são provenientes, em parte, do cotidiano social e são frutos de inúmeros momentos de crítica contra instituições estatais, não há dúvidas de que muitas obras nos aproximam de vários fenômenos jurídicos.

A proposta dos nossos futuros artigos é fomentar o encontro entre direito e arte e buscar nas produções artísticas um ponto de partida para (re)colocar as questões jurídicas, políticas e sociais que nos rodeiam. A arte e o direito oxigenando o mundo. Um oxigenando o outro. Sempre bom respirar.

 

 

Imagem Ilustrativa do Post: Pintura La Nascita Di Venere // Foto de: WikiImages// Sem alterações

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