Rascunhando Reflexões em Tempos Pandêmicos(-Transformativos) e dialogando com e como Poetas    

02/02/2022

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

 

E se falássemos com e como poetas? Há um certo tom de loucura e sensatez nisso: (eu diria até que) é ato contínuo implícito que nos acompanha(rá) ao longo de nossas vidas.

Este texto não é um Ensaio na/da/à Loucura (inclusive, essa é uma empreitada e tanto em que Nietzsche se colocou — e que vai ficar para os que ainda virão). Tampouco é um elogio a elA (porque, aliás, deixo isto para Erasmo de Rotterdam, que ousou fazê-lo).

O que aqui escrevo são rascunhos de reflexões que acompanhar-me-ão por onde quer que eu vá. E aqui as coloco porque elas podem também lhe acompanhar.

Sem qualquer motivo especial, inicio este rascunho de conversa falando sobre a amizade. E, para essa conversa, convido-lhe Drummond. Tu não dizias que ‘’ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade’’? Pois bem, talvez escrever sem motivo é a mais pura forma de escrever – e de expressar o que se quer expressar.

Certa vez disseste que “A amizade é um meio de nos isolarmos da humanidade cultivando algumas pessoas’’. Mal sabias tu, Drummond, que um vírus acharia uma nova forma – ainda mais intensa e inevitável – de nos isolar.

E nesse vai-e-vem estagnado, vivo com (a) saudade: de ter o que antes tinha tão próximo de mim e o que um dia estará; e, sim, Mário (Quintana) “é o que faz as coisas pararem no Tempo”. É que também tenho saudade do que não existiu, Drummond, e só de pensar, dói(-me) a alma. Mas tuas palavras ressignificam – em partes – um todo, em sua magnitude particular: “A amizade é um amor que nunca morre’’ – que assim seja até o meu último suspiro.

Mas, e a saudade, Drummond? Olho ao meu redor e não vejo uma cura para ela. Mas tu, em teu ato mais ousado, disseste, Drummond, que o melhor remédio contra a saudade é a falta de memória. E se ela, a saudade, não existisse? E se ela deixasse – por um dia ou por uma eternidade inteira – de existir? Manuel Bandeira chamaria, ainda assim, sua amada Anarina para viver no Rio de Janeiro (largando os amigos, seus livros, riquezas, sua vergonha) e apreciar a Brisa dessa “Cidade maravilhosa, cheia de encantos mil”? Deixar-te-ei responder à essa inquietude. Tome o tempo que for necessário, mas não se demore, porque a saudade não (nos) espera(rá).

E por (ainda) falar em saudade, Toquinho e Vinícius, não me arriscaria a descrevê-la: é que ela é tão grande e intensa que sequer caberia neste escrito. O que ela é, para que ela serve, de onde ela vem, para onde ela vai? Eis o enigma. Também não me arriscaria a mensurá-la (o grau e/ou intensidade) dela em meros mortais, como nós. (Aliás,) Ousado(a) seria a pessoa que o fizesse — nos mais caprichosos pormenores — e que a justificasse para quem um dia já a sentiu, não acham?

Falo por e para mim e para quem quiser ouvir. Porque a saudade que sinto não pode — nem jamais poderá — ser redimensionada para caber em uma simples imagem de uma Galeria de smartphone. Ela vai além da Ciência e da Tecnologia do Mundo dos Homens. É intangível. Ele por si só já vibra — em frequência harmônica de sorrisos largos — uma quantidade de energia que seria capaz de consumir toda a bateria do aparelho — e, ainda assim, como num passe de mágica, permaneceria viva em minha Memória.

Talvez tenha uma vantagem de não a ter: divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez, dizia Nietzsche. Mas o que seria de nós sem memória, Drummond? Dizem por aí que a memória é como um HD e que ela é o local onde nossas vivências vão ficar para que um dia possamos relembrar o que vivemos em nossas vidas.

E a Vida? Ela, dizia Gabriel (García Márquez),  ‘’não é mais do que uma contínua sucessão de oportunidades para sobreviver’’. E quero lembrar de cada uma delas: afinal, qual o sentido de aproveitá-las e de realizar sonhos se, ao final, não iremos lembrar do que fizemos? Tu mesmo ousasses dizer que ‘’as coisas tangíveis se tornam insensíveis à palma de mão’’ Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão’’.

E a(à) Memória, Drummond, só de pensar em perdê-la, penso em esquecer isso. Porque, assim como Manuel (Bandeira), vivo nas estrelas e é lá que brilha a minha alma. Tenho em mim, Drummond, todos os sonhos do mundo: [aliás, estavas certo, Fernando (Pessoa)] ‘’Tudo vale a pena quando a alma não é pequena’’.

A vida é um sopro – e ‘’é muito curta para ser pequena’’.

 

Imagem Ilustrativa do Post: person holding a pencil // Foto de: Thought Catalog // Sem alterações

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