QUEM SABE DE TI?

26/01/2020

 Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Teu olhar de pontos

Verdes desfez-se no tempo.

Tua voz de contralto

Não te repete mais

Ideias fixas de ruína

Toc, toc, toc, a sina

Que levaste nos genes

Trazidos pelos mares

Distantes, prisioneira

Foste das promessas jovens,

Sonhos e suspiros em neve

Assados para o amado,

Ciumentamente guardados

Na lata sob a cama. Que

Não usavas, de pé à janela

Olhando a lua, noite inteira.

Teus vestidos belos se foram

Para o asilo das velhinhas,

Os mais novos adornaram

Os vivos da família.

Os que amaste te esqueceram,

E tua morte adolescente tem

Só dezoito anos. Como tinhas

Ao rezar o terço das freiras,

Devota, concentrada. Recusaste

Os abraços da vida, deus

Nos amava e a ti não via.

Do alto do farol eterno

Nos vigias, responsável ainda

Pelas vidas que geraste.

Aquieta-te, o firmamento cede

Para brilhares na distância.

A maldição persiste, batemos

Com chicote molhado nela,

A cada recaída. Puxa teu véu

Sobre o rosto, tule e violetas

Guardam teu perfume.

 

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

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