Por Luiz Ferri de Barros - 21/10/2015
Arraigado como ideologia, com a força antropológica de insuperável mito, o ideal de progresso atua de forma racional e inconsciente, movendo os homens e as sociedades.
A ideia de progresso pressupõe mudanças históricas, sendo ainda constitutiva do mito a crença na irreversibilidade das mudanças, sempre em uma única direção: a do aperfeiçoamento.
Entretanto, “o progresso tem uma lógica interna que pode ultrapassar a razão e nos levar à catástrofe. Uma sedutora trilha de sucessos pode terminar numa armadilha”, argumenta o arqueólogo, historiador e ensaísta inglês Ronald Wright, várias vezes premiado por suas obras.
Os primeiros avanços do homem, as ferramentas rudimentares e vestuários, levaram-nos ao ponto em que “ultrapassamos os ambientes que nos geraram e começamos a gerar a nós mesmos”.
Por mais de 100 mil gerações os homens não tiveram a exata consciência deste processo, muito menos de suas conseqüências, agindo no mundo como sonâmbulos, tal como se “a natureza tivesse posto alguns macacos no laboratório da evolução e nos tivesse deixado lá, brincando com um suprimento crescente de ingredientes e processos”.
Para Wright, o fenômeno mais surpreendente na história do homem é o que se poderia denominar de “colapso do tempo”, uma vertiginosa aceleração dos processos de mudança. “Da primeira pedra lascada ao primeiro ferro fundido foram necessários cerca de três milhões de anos; do primeiro ferro à bomba de hidrogênio, apenas três mil”. Hoje a velocidade da mudança é tal que aquilo que aprendemos na infância já é obsoleto ao completarmos trinta anos e poucas pessoas com mais de cinqüenta anos conseguem manter-se em dia com sua cultura.
Atribuindo o colapso de antigas sociedades e civilizações à degradação de seu “capital natural” (exaustão dos recursos naturais), o autor analisa, de passagem, os casos da Suméria, Ilha de Páscoa, Roma e os Maias, que perduraram perto de mil anos, além de Egito e China, que por tratarem diferentemente o solo, perduraram por cerca de três mil anos.
Uma Breve História do Progresso é um livro de difusão científica, com excelentes notas explicativas e indicações bibliográficas. Seus capítulos aparentemente derivam de ensaios anteriores do autor, havendo diferenças de estilo entre eles. O texto é bem escrito, muitas vezes provocativo, contendo passagens de leitura bastante agradável.
Por vezes o autor desliza para linguagem e argumentação característicos de militância política, mas suas conclusões são serenas. Para ele, “a mudança necessária não é anti-capitalista, anti-americana ou sequer profundamente ambientalista; ela é simplesmente a transição do pensamento de curto prazo para o de longo prazo. Da imprudência e do excesso para o princípio de moderação e precaução”.
Ainda assim, evitar o desastre talvez seja uma impossibilidade antropológica. No primeiro capítulo, quando narra o surgimento do Homo sapiens no planeta Terra, o autor assim nos qualifica: somos “caçadores da Era Glacial, com um desenvolvimento parcial em direção à inteligência; espertos, mas raramente sábios”.
Serviço:
Uma Breve História do Progresso. Ronald Wright; tradução de Carolina Araújo. Rio de Janeiro, São Paulo: Record, 2007. 238 Páginas.
* Originalmente publicado no Diário do Comércio. São Paulo, 2007.
Luiz Ferri de Barros é Mestre e Doutor em Filosofia da Educação pela USP, Administrador de Empresas pela FGV, escritor e jornalista.
Publica coluna semanal no Empório do Direito às terças-feiras.
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