PORRA! Que porra é essa?

26/04/2015

Por Denival Francisco da Silva - 26/04/2015

Porra-louca! (Porra, que louco! Como se escreve isso depois da reforma ortográfica?).

Porra nenhuma! É possível?

– Porra, que porra é essa?

Todo idoso foi um dia adulto não idoso (salvo Benjamim Button que nasceu velho e morreu bebê), que por sua vez foi adulto e que antes fora jovem, sobrevivido da adolescência onde teve tudo para ser, mas conseguiu superar, ou não teve escapatória incorporando para sempre o tal porra-louca. Todo adolescente foi outrora criança que havia sido antes um bebê. O bebê foi nascituro, que era feto, e que era óvulo que recebeu a visita permanente de um espermatozoide e que foi…

– Porra, entendeu né!?!

O fato é que todos nós já fomos uma porra qualquer algum dia e se agora te chamam de porra nenhuma significa que você passou a ser nada. Nada mesmo, muito pior do que voltar a origem, quando alguma porra você era.

Em relação ao nominativo de porralouca (ainda continuo com a porra de uma dúvida de como escreve isso), imagino seja o indivíduo nascido da conjunção de um óvulo careta que vestido solenemente para o encontro nupcial, se vê penetrado por um espermatozoide que desdenhou todos os seus milhões de concorrentes, tendo saindo por último na corrida da fertilização, nadou de ré, fez performances pelo caminho e ainda chegou primeiro.

Que porra-louca a nossa origem, não!  Com milhões e milhões de espermatozoides à disposição vindo ao seu encontro, o óvulo tantas e tantas vezes maior se contenda com unzinho! E não é qualquer unzinho, simplesmente o que chegar primeiro!

Mas será que na porra de nossa vida, o mérito é simplesmente de quem chega primeiro? Resta saber como se faz para estar na dianteira e que nem sempre significa estar a frente do seu tempo.  No mundo real o primeiro a ser escolhido e a forma de seleção se dá numa disputa desigual, onde as condições de competição favorecem os previamente eleitos. Nesta falsa concorrência tem muito porra-nenhuma ganhando espaço e notoriedade sem o merecer. Não sem razão, depois, não fazem porra-alguma de importante para a sociedade, ao contrário, agem exclusivamente para atender a porra de seus interesses, sem conseguir enxergar nada mais ao seu redor.

Quanto ao porra-louca é ser idealista, vanguardista, é se atirar primeiro. Puro ato de porra-louquismo. Assumir posicionamentos diferentes do trivial e ter que enfrentar, por vezes, a incompreensão e rejeição, numa sociedade conservadora, cheia de preconceitos, cujos prenúncios se dão justamente com a negação de tudo isso. Os porras-loucas para se assumirem como tais, devem estar preparados para o repúdio e por vezes têm que lidar inclusive com a sanha odiosa dos que não aceitam a pluralidade e não admitem as diferenças. Mas o verdadeiro porra-louca não se entrega e luta para superar o conservadorismo, as velhas práticas e rancores tradicionais, no desejo de alcançar conquistas e ganhos coletivos.

Afinal, o que seria o mundo atual e da própria sociedade sem aqueles que se colocam na condição de controversos e incompreendidos, os que morreram por um ideal e foram mártir de uma causa, os porras-loucas de seu tempo?


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Denival Francisco da Silva é Doutorando em Ciências Jurídicas pela UNIVALI/SC. Mestre em direito pela UFPE. Juiz de Direito. Professor.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            


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