Em época de fazer aniversário, sempre fico um pouco reflexiva. Estava, por isso, perguntando-me as razões pelas quais me tornei Defensora Pública.
Talvez eu tivesse que alterar o título desta coluna, porque acredito que, de certa forma, ser Defensor@ Públic@ me escolheu.
Nunca sonhei com a carreira da Defensoria Pública, o que também se deveu ao fato de inexistir essa tão importante instituição em Santa Catarina. Mas tinha um sonho muito maior do que qualquer carreira, do que qualquer salário, do que qualquer cargo: o sonho de combater a injustiça, de combater as desigualdades do sistema brasileiro.
E, por isso, digo que a Defensoria Pública me escolheu. Porque passou a existir em Santa Catarina no momento exato, quando eu estava preparada para iniciar uma empreitada muito mais que profissional. Porque defensorar é lutar contra todo o sistema, dispondo de menos armas que os adversários. Mas defensorar talvez seja a única forma, atualmente, de enfrentar com certo grau de efetividade as atrocidades que vêm sendo cometidas.
Enquanto outras instituições fecham os olhos para a desumanização do outro (admitindo e legitimando, por exemplo, a seletividade dos direitos humanos), a Defensoria Pública vê as pessoas por trás de cada processo judicial.
Enquanto se vive em um mundo pautado por disputas, em que a judicialização passou a ser a regra, a Defensoria preza pela solução extrajudicial de litígios.
Quando todos preferem levar suas vidas abraçando apenas as causas que lhes convêm, a Defensoria Pública encampa todas as lutas, especialmente daqueles que jamais teriam voz – os ditos inconvenientes.
Em um mundo cada vez menos consciente do outro, @ Defensor@ Públic@ atua sempre pautad@ na noção de coletividade, visando ao bem comum.
Por isso, quando a Defensoria e eu nos encontramos, foi uma espécie de amor à primeira vista. Como Defensora, tenho ainda mais legitimidade e disponho de mais instrumentos para lutar por tudo aquilo em que acredito.
Apesar de ter romantizado um pouco a atuação de um@ Defensor@, está longe de ser um trabalho fácil. Grande volume de afazeres, noites mal dormidas, angústias ante as (não poucas) derrotas... mas nada disso se compara a ver uma liberdade restituída, a receber o carinhoso abraço de um@ assistid@ ou, até mesmo, a ter uma criança registrada com seu nome em sua homenagem. Nada se equipara a ver que a injustiça não se propaga sem qualquer resistência.
Isso é defensorar. Defensorar é uma luta diária contra ultrajantes “normalidades”. É a loucura em um mundo passivo. É ser o cronópio no meio de tantos famas.
Mas defensorar é também ver a luz onde só havia escuridão. É ouvir música onde só havia silêncio. É conseguir um pouquinho de justiça nesse mar de desigualdades.
E é por isso que, todos os dias, eu escolho ser Defensora Pública.
Imagem Ilustrativa do Post: One Blood... // Foto de: Enrico Petrarolo // Sem alterações
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