Por Carla Mari Robaina Marcondes – 03/03/2016
Todo João é João mas nem todo é tão João que se quer saber mais
Um João é fulano e o outro João é o tal que tem sobrenome
Quando as gotas d'Água agulham do céu a furar, gotejante, a pele do João fulano
João fulano corre a se esconder abrigando-se embaixo duma laje
Obrigado, diz João de laje ao dono da laje
João que é o tal, o que tem sobrenome, procura apressado no molho de chaves a chave do carro
Pega a chave, abre o carro e dirige um pedido de desculpas pelo atraso no tribunal
O João de laje continua de molho esperando a chuva passar
A chuva cai para dois Joões, cai para Marias e Josés com ou sem sobrenome
João de molho, de olho no tempo que é escoado pelos ralos não tem como fugir
Esse João vai se molhar, quando era Joãozinho sem graça na piada
Ganhou uma sombrinha para se proteger da chuva e das agruras do tempo
Para driblar o vento que agora entorna em sua garganta como grito invertido
A sombrinha está rasgada, parecendo estopa, cobertas de rasgos e furos
Cada furo é como uma boca, são como mil bocas a falar sobre João de sombrinha de estopa
Caminhe homem, quem sai de casa é para se molhar
Honre a sua ordem e processo, acerte o passo, se molhe, corra, João, olhe a hora!
Fique silente, aceite que nasceu para ser João fulano, João de laje, João de molho, João de estopa
Aceite que pra gente que é João Fulano, Ciclano, Beltrano, se nasce marcado
Não lute contra sua sina, escute os sinos, quem saiu de casa é para se molhar
Vê se me erra, João marcado, vê se se apressa que o dia está frio e eu quero calor
João que é o tal coberto pela lataria do seu veículo está seco e certo de si
Depois pretende tomar um trago para aliviar a cabeça cheia
Parado no trânsito faz tráfico de mensagens com a esposa
Manda carinhas, pequenos vídeos e carinhos, quando o trânsito aperta encerra a conversa
Depois buzina, ameaça, vê a sua caça, sai da frente, barbeiro!
Cortaram a frente do João que é o tal, isso é agrave, não tem perdão, não basta a confissão
Agora é guerra, mostra sua cara, não se camufle, chegue no horário
Olha o trânsito! João que é o tal grita indecoroso.
É para ver por quem dobram os sinos, as sinas, os ponteiros do relógio, as horas, os deleites e os direitos
Por quem se dobram eles? Você sabe com quem está falando?
Quem é este sujeitinho que fez o João que é o tal, profissão juiz, quase estragar a lataria com o corpo duro na pele do seu carro?
É Joãozinho que roubou o pão de fulano quando era garoto com olhos de bola de gude e cheiro de alude
João, você que é fulano, que roubou seu próprio pão, moeu e colheu seus próprios grãos
E agora vai comer o pão que você assou, seu diabo, vai comer o pão que o Diabo amassou
João fulano, você era culpado por ter chovido quando saiu de casa
Por que você se engana? Se ilude demais. Por que você não escuta a luta? Por que matuta tanto?
Veja só quem clama, Joãozinho sem graça! Veja só quem clama! É o povo que lhe convida para tomar um copo de bebida
O povo quer lhe oferecer a cana, você lhes deu sua cor, sua origem, sua cor de fuligem, aceite, adoce a boca e feche-a de vez
Tenha o corpo fechado, o copo aberto! Receba a cana, você atrapalhou o trânsito, quem dera chegasse até o final!
Você era culpado por ter chovido antes mesmo de sair de casa!
João fulano, João de Laje, João de molho, João de estopa, João marcado, João culpado
Conforme-se João culpado, você não tem sobrenome, foi você quem fez chover
Você não é o João que é o tal e nunca, jamais, será!
João que é o tal, depois de baixada a ordem de levantar-se o copo de cana para aquele João qualquer
Tornou a sua casa e dirigiu-se ao bar com banquetas rotatórias de madeira
Sua esposa o serviu uma dose de bebida cuja base é agave azul para convidar para um encontro entre os olhos do João que é o tal com o céu azul que é o dele e com a bebida que vem conhecê-lo na intimidade
Depois de alguns goles titubeou na banqueta e disse em tom baixo característico de quem vive em alta
A situação é grave, a situação é grave, a vida pode dar voltas
Por quem os sinos dobram, por quem dobram as sinas, os ponteiros do relógio, as horas, os deleites e os direitos?
É a vida pode dar voltas, mas cada João é um João, é grave, disse João que é o tal
Usando os pés fez o banquinho rotatório girar enquanto a esposa o servia com mais uma dose de bebida.
É grave, é grave, é agave, é agave, é João Fulano e é João que é o tal
Todo João é João mas alguns Joões são mais João do que os outros
Explicação:
A Constituição é o que protege da chuva, chove para todos, mas é fato que a proteção que cada um recebe ao longo da vida é diferente, os rasgos da sombrinha, as bocas que falo na poesia é a opinião popular e o impacto que ela tem no processo penal.
Cana é prisão, mas isso nem tem que explicar. E o João fulano fica preso sem conseguir sair do trânsito (em julgado) porque jogam em um indivíduo todo o peso dos males da sociedade e dizem que foi ele quem fez chover
. . Carla Mari Robaina Marcondes é bacharel em Direito e pós graduanda em Direito Penal Econômico pela Universidade Positivo. . .
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