Por Saíle Bárbara Barreto – 27/02/2016
Hoje entrei na Catedral para rezar um pouco. Às vezes faço isso quando estou voltando do Fórum. Gosto da paz de entrar em uma igreja vazia. Gosto de olhar os santos, fazer o sinal da cruz com a água benta e rezar um Pai Nosso, uma Ave Maria e a oração de Santa Bárbara, que é a que mais me conforta. Nem adianta falar que teve inquisição na idade média, que fizeram isso, que fizeram aquilo. Eu sei, eu sei, mas sinto presença de Deus ali e não vou mudar de ideia, ok?
Bom, hoje fiquei ali, absorvendo aquela paz e reparei que a igreja não estava sem ninguém, tinha uns turistas tirando fotos, algumas senhoras rezando e comecei a pensar: por que eu deixei de ir à missa?
Aí lembrei do padre! Nem sei se ele ainda reza missa (quando eu era criança ele rezava na igreja que eu frequentava em São José). Meu Deus, como eu tinha medo daquele homem! Ele expulsava as pessoas da missa! E expulsava por vários motivos: “Essa mãe com essa criança berrando, saia da igreja!” “Essa moça com esse decote na segunda fila, saia da igreja!” Esses dois rindo aí atrás, SAIAAAAM DA IGREEEJA!!”
E ao mesmo tempo ele também impedia quem queria sair mais cedo. Se visse alguém saindo de mansinho, ele interrompia o sermão e berrava: “Eu ainda não dei a benção final!!!” A pessoa ficava tão sem graça que voltava e sentava de cabeça baixa. Era um padre bipolar?
Nossa, que sufoco eu passei na época da 1ª comunhão. Aquele padre malvado inventou de fazer chamada na igreja. Sim, chamada, como se fosse uma sala de aula! As crianças da eucaristia eram obrigadas a comparecer aos domingos, do contrário e segundo ele, seriam impedidas de renovar o batismo. Então, eu não podia mais faltar. No fim da missa, ele fazia a chamada e a gente tinha que ficar em pé, levantar o braço e dizer bem alto “presente”. Como era sofrido todo domingo passar por aquilo...
E a confissão? Tínhamos apenas 10 anos e tivemos que nos confessar. Eu não sabia que pecado dizer, minha vó mandou: “fala que és muito malcriada e que não és estudiosa.” A cara dele quando eu falei isso, nunca vou esquecer. Mandou que eu rezasse 5 Ave Marias e “não tornasse a pecar”.
Foi a única vez que eu me confessei, mas não parei de pecar. Aliás, se o padre souber tudo de pior que eu fiz depois daquela confissão, se eu fosse mesmo me confessar com ele hoje, acho que me mandaria rezar umas 10 mil Ave Marias, isso se não berrasse: “saia da igreja!!!”
Foi por isso que eu parei de ir à missa. Não quis me crismar, mesmo sob os protestos da minha avó e de várias tias (minha mãe nunca foi muito católica). Eu não aguentaria mais dois anos daquela tortura. Foi por causa daquele padre. Foi para não ouvir a voz dele que eu passei a rezar em casa e ir à igreja apenas quando ela está vazia.
É, foi isso. Agora eu lembrei, aqui no delicioso silêncio da Catedral Metropolitana de Florianópolis. Como eu adoro esse lugar...

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