POR ENQUANTO

13/03/2022

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Enquanto ainda há tempo

percamos tempo sentindo o vento,

as mãos procurando afagos,

os dedos apontando estrelas maduras

na fresta aberta dos dias,

no estreito vesgo das noites,

pés descalços na relva, na calçada,

no chão da sala, na cama desfeita,

nos dias esticados sobre a mesa,

no farfalhar dos galhos avisando

qu'inda umas asas flutuam céu lá fora.

 

Enquanto ainda há tempo

permitamos uns delírios, uns lírios, uma lira,

acordes dissonantes

brincando de outras vidas em dimensões paralelas,

em que sonhar novos mundos

seja a melhor iguaria no céu da boca

onde aprisionamos nossa ira.

 

Enquanto ainda há tempo

façamos de conta que restamos todos num mínimo decentes,

guardando futuros quase perfeitos entre os dentes,

entre risadas felizes, estradas oblíquas, caminhos à frente.

 

(Enquanto ainda há gente).

 

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

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