Poema De Uma Semelhança

22/07/2022

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

 

Tive medo de te ver
encontrar você me gelava o corpo
deixava trêmula as minhas mãos
tornava inexistente qualquer tipo de palavra

Te rever depois de tudo que vivemos, individualmente
era fazer sangrar o que tentei ignorar e fingir por meses
era encontrar com a minha própria dor
rememorar e revisitar a minha ruína

Olhar no fundo dos seus olhos refletia tudo que vivi
me levava a reviver a minha dor e cada momento perpassado
cada sensação de desconexão que o segundo seguinte me trouxera

Ver você …
era estar diante de minha imensa e concreta finitude
e assim estar diante do caos de um amor que partiu
os estilhaços estavam por todo o chão, dentro de mim
meus pés e meu coração se cortavam ao tentar continuar a caminhar

A sua dor era a minha, a minha dor era a sua
misturávamo-nos numa proporção que já não era mais possível separar
talvez, realmente elas nem existissem distantes uma da outra

Seres Humanos se encontram e se reconhecem nas suas fragilidades
a dor, a perda, a morte, a frustração, o amor transformam semelhantes em iguais
não vê cor, não vê credo, não vê limite
e não põe fim, nunca a nada.

Está!
É!
Presente, fria e intensa
como seus olhos que tanto amei

tanto quanto os seus ensinamentos que conservo em minhas memórias e nas minhas atitudes

(R)encontrar opostos que partilham a flor da pele a mesma dor, a mesma sensação
nos faz libertos
nos faz sentir tudo que engarrafamos e a seco engolimos
nos faz capaz de abraçar o outro e como ato de amor e empatia nos abraçar também
nos faz gentil com nós mesmos, aceitando nossa pequenez e miudeza diante do mundo,
das coisas da vida, do amor e da própria necessidade de sobrevivência

Sentimentos caros à condição humana
um (não) lugar de fala que torna o estrangeirismo inexato
que faz do lugar do outro o nosso próprio lugar
A realidade da doença nos irmana
na insegurança, no sofrimento, na resistência
na luta pela vida

Afinal, ao te encontrar, seu abraço virou meu lar
permitiu que eu pudesse desabar e chorar
e foi assim que os rios de meus olhos verteram em correnteza
Foi naquele instante, naquele gesto, que eu vi o mundo parar
e entendi que o outro também é um lugar, um paraíso para se morar
através da escuta hospitaleira que é capaz de acolher, aquecer e transmutar

Somos poemas vivos, e nada é e não será mais sonoro e encantador do que as rimas feitas em
conjunto
métricas não estáticas e inconfundíveis
De uma independência que acontece somente com e através da interdependência.

Todo luto é uma forma de tentar fazer da vida eterna
Seria então, a morte um prenúncio da própria eternidade?
Silêncio!

A cura deste amor, desta dor
não está em outro lugar que não no próprio amor
e na própria dor!

 

Imagem Ilustrativa do Post:  fountain pen on black lined paper // Foto de: Aaron Burden // Sem alterações

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