Coluna Espaço do Estudante
Todo gaúcho que se preze já sorveu um mate bem cevado. Mesmo não tendo o hábito é algo inerente ao ser gaúcho. Nessa tradição que perpassa gerações e ultrapassa o tempo e regimes políticos, temos um fator que por muito passa despercebido aos nossos olhos: o poder social do chimarrão.
As rodas de mate, outrora serviam para que o patrão da estância repassasse as lidas (serviços) que deveriam ser executadas durante o dia. Nisso, reuniam-se patrão e peões em volta de um fogo de chão (fogueira), mateando (tomando chimarrão). Não só nessas oportunidades, mas também em encontros políticos, ou mesmo nas carreteadas (viagens feitas por tropeiros conduzindo gado ou cavalos de um a outro ponto do Estado ou país; troca, compra e venda de alimentos o produtos feitos à base da carne de gado, como o charque), sempre tinha alguém tomando chimarrão.
O aludido poder social do chimarrão está na reunião das pessoas. Atualmente, em tantas oportunidades apenas um hábito, em outras relembrando fatos históricos do Rio Grande do Sul.
E onde o Direito entra nisso tudo?
O Direito antes de uma simples reunião de leis, codificações, é uma ciência jurídica e social. Sim, envolve pessoas, as leis são parte da sociedade. No entanto, a mera aplicação da lei sem a devida interpretação social, axiológica, distancia o conteúdo legislativo de sua efetividade. Ou seja, perpassar o plano jurídico e ocasionar seus efeitos no plano dos fatos, a realidade. Toda principiologia que envolve o Direito incide diretamente na vida social, nas pessoas, discuti-lo é fundamental para a necessária evolução de pensamentos, entendimentos e mudança de perspectivas em alguns casos.
Evidente que a dita discussão não resultaria numa “roda de chimarrão”, muito embora até fosse algo interessante para debates tão acalorados. Mas o que buscamos referenciar neste texto a socialização, efetivamente debater acerca do Direito em suas mais diversas nuances e aplicabilidades. Não se aplica o Direito distanciado da realidade, sob pena de incidir em ineficácia. O poder social do estudo do Direito cabe a todo jurista, assim como a explicação, os meios, métodos e resultados dessa aplicação. Sejamos atentos as mudanças peremptórias pelas quais passamos diariamente, pois necessitamos do corpo social para entendermos a nós mesmos, disputas, divergências, conflitos e mesmo pacificação. Razão pela qual o Direito tem em sua natureza o estudo sociológico, antropológico e mesmo filosófico.
Então, vamos matear com o Direito?
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Carlos Eduardo Martinez é Acadêmico do 10º semestre do Curso de Direito da Faculdade Cenecista de Osório e Conciliador do Juizado Especial Cível - Comarca de Tramandaí/RS. .
Imagem Ilustrativa do Post: My first taste of mate // Foto de: HannahWebb // Sem alterações
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