PARA A ÁGATHA VITÓRIA, EM NÓS

25/09/2019

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Pequena Ágatha, eu queria lhe dizer umas palavras. Estou tentando, desde que soube que mataram seus sonhos. Tenho dificuldade em digerir. Fica um bolo de violência parado na garganta. Mas acordei e me (in)vesti da coragem necessária para fazê-lo. Ainda acredito numa espécie de impontualidade pontual das palavras. Sei que seus sonhos morreram. Alguns por aí insistem em matar sonhos. Insistem em querer um mundo onde uns sonhos sejam mais importantes que outros. Mas sei que alguma coisa de você vive em nós. Sinto que ainda não conseguiram nos matar de vez. Morremos um tanto mais com você, Ágatha. Nós que morremos tanto com Marielle, Evaldo Rosa e outras tantas Marilles e Evaldos cujas mortes ficam silenciadas. Agora você, Ágatha. Morremos um tanto mais com a morte dos seus sonhos. E restamos aqui, cada dia mais miseráveis e desumanos. Escrevo para lhe dizer, Ágatha, que eu desejo muito que isso tenha fim. Sei que você empresta a nós, agora, seus próprios ouvidos. Esses ouvidos sensíveis de criança. Ouvidos que choram. E lhe prometo escutar e proferir seu nome, por onde eu passar: em minhas aulas sobre a (in)justiça do Direito, em meus escritos sobre a desconstrução desse mundo em ruínas, e em cada um dos silêncios ora aflitos, ora admirados, que eu lanço no universo. São eles que germinam em mim as palavras. Prometo que farei o mundo lembrar a Ágatha que vive em nós, antes de perecermos todos nesse ódio definhante. Por ora, Ágatha, perdoa-nos. Você, viva em nós, nos deixa essa herança: precisamos nos perdoar de assinarmos a autoria desse mundo cruel.  A Vitória do seu nome e o infinito vertical dos seus anos, esses infinitos 8 anos, há de ser a planta de uma nova arquitetura para o mundo, um mundo onde sonhos do jardim de nenhuma infância sejam arrancados. Eu prometo dar as minhas às suas mãos sustentando a voz desses amar-elos.

 

Imagem Ilustrativa do Post: Flor... // Foto de: Gabriel F Fontes // Sem alterações

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