Os Sonhos Falam no Presente do Indicativo – Por Agostinho Ramalho Marques Neto

20/09/2016

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“Freud sublinha no entanto que a elaboração do sonho é o que faz do sonho o primeiro modelo da formação dos sintomas. Ora, essa elaboração se parece muito com uma análise lógica e gramatical, que se tornou apenas um pouco mais erudita do que aquela que fazemos nos bancos escolares. Eis o registro que é o nível normal do trabalho freudiano. [...] Aí está o relevo da obra freudiana, sem o que nada do que ele desenvolve a seguir nem sequer é pensável”[1].

No início da seção “B” do capítulo VII de sua A Interpretação dos Sonhos, na qual, enquanto elabora teoricamente o conceito de regressão, também vai articulando passo a passo o esquema de sua primeira tópica psíquica, Freud, após afirmar que o processo de pensamento se transforma num sonho, durante o sono, em nome da realização de um desejo, aponta como “a característica psicológica mais geral e mais notável do processo de sonhar” aquela mesma regressão, que consiste, em síntese, no fato de um pensamento sobre algo desejado objetivar-se no sonho, ser representado como uma cena, e experimentado pelo sujeito que sonha como algo que está sendo por ele vivenciado [erlebt][2].

Em seguida, tendo afirmado que reflexões próprias do processo de pensamento são representadas no sonho numa situação atual que é percebida pelos sentidos como uma experiência [Erlebnis] de vigília, Freud aponta, além da regressão, isto é, da “transformação do pensamento em imagens visuais e em fala”, dois aspectos “quase independentes” que são característicos da forma assumida pelos sonhos. O primeiro consiste no fato de o pensamento [Darstellung] ser representado como uma situação imediata [gegenwärtige Situation], ou seja, em tempo presente. O segundo consiste na omissão do “talvez” [vielleicht] e de toda forma verbal optativa [FREUD, 1987, p. 490].

As indicações contidas nos dois parágrafos anteriores põem-nos diante de alguns dos aspectos estruturais mais relevantes na determinação da elaboração onírica e, por isso mesmo, na tessitura do próprio arcabouço teórico da Metapsicologia freudiana, visto que lançar alguma luz sobre o mecanismo dos sonhos é também lançar luz sobre o mecanismo da vida psíquica em geral. Os aspectos estruturais a que me estou referindo são verdadeiras condições de possibilidade da elaboração onírica, tais como a regressão enquanto transformação de representações em imagens visuais e em fala; a realização [Erfüllung, que também significa satisfação, cumprimento] de desejos inconscientes como a força propulsora dos sonhos; a objetivação do conteúdo dos sonhos; sua representação numa cena; sua experimentação pelo sonhador como algo sensorialmente vivenciado; o caráter atual, imediato, da situação onírica posta em cena, isto é, sua apresentação em tempo presente; e a omissão do “talvez” e das formas verbais optativas. A articulação desses aspectos no interior da teoria psicanalítica é um trabalho de imensa complexidade que, mais de um século após o advento dessa teoria, continua em aberto, convidando a novas elaborações, a releituras criativas.

A amplitude da temática que Freud esboça nas duas primeiras páginas da seção “B” do capítulo VII da Traumdeutung me impõe que desde já demarque os limites deste trabalho. Inspirado no trecho de Lacan que escolhi como epígrafe, pretendo fazer um breve exame dos dois últimos aspectos estruturais que relacionei acima, ou seja, o discurso onírico como algo que se enuncia em tempo presente, e como isto pode relacionar-se com a omissão de expressões de dúvida e de formas verbais optativas. Esse exame será feito dentro de uma perspectiva metodológica que trabalhará por um lado mediante a consideração de questões de natureza gramatical que presentifiquem características estruturais da linguagem que intervenham na determinação daqueles aspectos que selecionei, e pelo outro mediante a articulação de tais questões a certos elementos cruciais da distinção entre os dois modos de funcionamento do aparelho psíquico, os quais Freud designa como processo primário e processo secundário. Essa distinção, como se sabe, é absolutamente fundamental tanto no que tange ao arcabouço teórico da Psicanálise quanto no que concerne à clínica analítica, indissociável da teoria. Bem sei que, ao considerar os dois aspectos que escolhi, não poderei deixar de relacioná-los com outros aspectos dentro ou fora dos que antes mencionei, e que em princípio estou deixando de lado. Mas esse relacionamento se limitará ao que de relevante puder ser trazido para a apreciação do tema estrito do presente trabalho.

Para essa apreciação, talvez seja interessante começar dizendo duas palavras sobre esse conceito basilar da teoria freudiana, que é o de sobredeterminação. Este, como diversos outros, é um conceito que Freud vai tecendo ao longo do desenvolvimento de sua teoria, cujo método de construção frequentemente coincide com o método de sua exposição, visto que Freud não expõe uma teoria já pronta, mas sim uma teoria que vai sendo elaborada no movimento mesmo de sua exposição e que sempre deixa algum resto, daí resultando seu caráter essencialmente aberto e inacabado.

Pode-se dizer que, em Freud, tudo se dá nas malhas da sobredeterminação. Ora, isso significa, a rigor, que a associação nunca é propriamente livre. Significa, também, que o sujeito não é senhor da linguagem, que não pode simplesmente manipulá-la como instrumento a partir de uma posição de exterioridade em relação a ela, sendo, pelo contrário, constituído como sujeito mediante seu assujeitamento à ordem simbólica. No entrecruzamento de cadeias significantes, que se presentifica, por exemplo, na diacronia da fala, regida por processos lógicos nem sempre compatíveis entre si, há determinações estruturais que podem explicar, num nível profundo, aqueles eventos discursivos que, num nível de associações superficiais, podem parecer casuais ou destituídos de qualquer significação. “Se um elemento deixa de ser determinado por certa cadeia de pensamentos, sua determinação é imediatamente comandada por outra” [FREUD, 1987, p. 473]. Entendo isto como sendo uma das condições de possibilidade de haver algo como a Psicanálise. Se a associação de significantes pode ser explicável, ou interpretável, é porque não é tão livre assim!

As considerações acima evidenciam que a noção de sobredeterminação se constitui inteiramente na referência do registro da linguagem. Em outras palavras, a sobredeterminação é sempre simbólica. Sua lógica é a do significante, nos moldes em que esta é concebida por Lacan. Isto ultrapassa qualquer concepção de “causalidade”, por menos mecânica e por mais complexa que se possa supor que esta seja na sua origem. A simples idéia de causalidade já traz embutida uma concepção de temporalidade: a causa tem que preceder o efeito. Mas na lógica do significante, onde a significação se constitui num movimento retroativo (de S2 para S1), as coisas não são bem assim... Na perspectiva da sobredeterminação, no início não há nenhum “primeiro princípio”. Aquilo que causa é introduzido por uma falta. Sem este entendimento mínimo da noção de sobredeterminação, as considerações que serão feitas a seguir nem mesmo poderiam ser postas segundo uma perspectiva psicanalítica.

É dentro das condições da sobredeterminação simbólica que se constitui toda a elaboração onírica, desde a mais remota emergência do desejo inconsciente que busca satisfação, até a realização distorcida dessa satisfação no conteúdo manifesto do sonho, através da vivência regressiva de imagens sensoriais que o sonhador experimenta na cena onírica. É dentro dessas condições que se pode compreender o caráter de fala com valor de mensagem que é intrínseco aos sonhos, assim como o caráter de decifração que é próprio da interpretação analítica. Como adverte Lacan, na interpretação, a dimensão de que se trata é sempre a do significante. “A própria forma da palavra é absolutamente essencial quando se trata de interpretar. [...] Vocês acharão sempre uma sucessão de homonímias ou de metonímias, de formações onomásticas que são absolutamente essenciais à compreensão do sonho, e sem as quais ele se dissipa, se esvaece”[3].

Isso quer dizer que o sonho é um texto, ou melhor, um entrecruzamento de textos, sendo o texto manifesto, que se expressa segundo a sintaxe da condensação e do deslocamento, uma espécie de escrita sobredeterminada pela trama do texto ou textos latentes. Para Freud, a verbalização do texto dos sonhos é o caminho que se abre para sua interpretação analítica.

O sonho, então, é um texto, uma fala, mas não qualquer fala. É fala metafórica, metáfora do desejo. É uma fala que se enuncia segundo um conjunto de condições estruturais, segundo uma lógica, segundo uma gramática, segundo uma sintaxe que lhe é peculiar. Lacan diz que há dois patamares em que se desenvolve um sonho: “o patamar propriamente significante, que é o da fala, e o patamar imaginário, no qual se encarna, de certo modo, o objeto metonímico”[4].

Esse caráter do sonho, de ser uma fala sujeita a condições estruturais, remete à necessidade de um rápido exame daquela crucial distinção freudiana, a que acima me referi, entre os diferentes mecanismos dos modos de funcionamento dos sistemas psíquicos - o inconsciente e o pré-consciente/consciente -, que Freud nomeia com as expressões processo primário e processo secundário. Como observou o tradutor da obra, “a distinção entre os processos primário e secundário e a hipótese de que o funcionamento psíquico atua diferentemente neles figuram entre os conceitos mais fundamentais de Freud”[5].

O que me interessa aqui é apresentar um pequeno esboço da estrutura lógica desses dois processos sob o ângulo das formas de enunciação linguística e produção de enunciados que os caracterizam, para depois articular essas formas com certas considerações de ordem gramatical que permitam apresentar algumas indicações sobre o fato de o discurso onírico se enunciar em tempo presente e com exclusão de elementos dubitativos e optativos.

Para pôr a questão da diferenciação entre os dois processos de funcionamento a que me estou referindo, começo por reafirmar que entendo tais processos como expressões de lógicas, de gramáticas, de sintaxes - termos que estou tomando aqui como mais ou menos equivalentes -, dotadas de peculiaridades próprias. Freud às vezes se refere às formações do processo secundário como providas de racionalidade, por oposição a certa irracionalidade própria das formações do processo primário. Isto, entretanto, não quer dizer que as primeiras sejam “mais lógicas” que as segundas[6]. Apenas estão submetidas a estruturações lógicas diferentes, a que correspondem formas de enunciação e níveis de verdade também diferentes. Esses processos irracionais “não são, na realidade, falseamentos de processos normais - erros intelectuais -, mas sim modos de atividade do aparelho psíquico que foram libertados de uma inibição” [FREUD, 1987, p. 548].

Se tais processos são relativamente autônomos no sentido de possuírem especificidade própria, de não se confundirem um com o outro, não deixam, contudo, de relacionar-se constantemente, de interferir no movimento do outro, provocando desvios, inflexões de sentido. Não podem, portanto, ser concebidos como separados, estanques. Um exemplo típico desse atravessamento de um dos processos pelo outro ocorre nas formações de compromisso oníricas e sintomáticas em que uma representação pré-consciente aparentemente indiferente condensa em si o conteúdo de outra representação ou conjunto de representações inconscientes, apresentando inusitada intensidade psíquica e expressando-se pela via da deformação. Há aí, diz Freud, uma sujeição do modo de expressão próprio do processo secundário por aquele próprio do processo primário. A formação de compromisso que se estabelece entre essas representações não se deve ao acaso, mas está submetida à sobredeterminação: é como que um simulacro delas, e se expressa sob a forma de uma fala indireta, alusiva, subordinada a condições de enunciação análogas às dos chistes.

Mas como proceder à apresentação acima anunciada, de um esboço da estrutura lógica desses dois processos sob o ângulo das formas de enunciação linguística e produção de enunciados que os caracterizam? Para tanto, trago à baila a assertiva freudiana de que ambos esses processos buscam alcançar uma identidade: identidade de percepção no processo primário e identidade de pensamento no processo secundário. Não esqueçamos que, para Freud, o pensamento é o substituto intelectual do desejo alucinatório [FREUD, 1987, p. 517] e que a regressão, onírica ou alucinatória, procura repetir, no registro da percepção, uma satisfação anteriormente vivenciada, e é nessa repetição de uma vivência de satisfação que consiste a realização onírica de um desejo inconsciente. A identidade de pensamento, por seu turno, implica certo afastamento dessa forma primitiva de satisfação (em linguagem freudiana, uma certa inibição do princípio do prazer pelo princípio de realidade) e supõe, necessariamente, a instauração do registro da diferença, isto é, do simbólico[7]. “O pensar tem que se interessar pelas vias de ligação entre as representações, sem se deixar extraviar pelas intensidades dessas representações” [FREUD, 1987, p. 545-546].

Quando um pensamento pré-consciente, ou seja, um enunciado constituído segundo as condições do processo secundário, se transforma num sonho, ficando sujeito às condições do processo primário, as relações lógicas que lhe são peculiares “perdem necessariamente qualquer meio de expressar-se, exceto por imagens perceptivas. Na regressão, a trama dos pensamentos oníricos decompõe-se em sua matéria-prima”, quer dizer, “uma representação é retransformada na imagem sensorial de que originalmente derivou”, ou seja, “a intensidade psíquica dos elementos dos pensamentos oníricos é substituída pela intensidade sensorial dos elementos do conteúdo do sonho propriamente dito”, e com isso “os elementos se ordenam num contexto diferente” [FREUD, 1987, p. 498, 497, 512, 499]. Nesse contexto, os métodos primitivos de expressão e representação tomam o lugar dos posteriores, o que significa, em outros termos, enunciar segundo a lógica do processo primário o que seria enunciado segundo a lógica do processo secundário.

Mas, afinal, em que consistem essas lógicas, essas gramáticas diferentes? Apresentarei em seguida um esboço dos principais traços que me parecem ser, no pensamento freudiano, estruturantes das formas de enunciação próprias aos processos primário e secundário, após o que retomarei meu tema central, articulando aqueles traços com algumas considerações de ordem gramatical que talvez possam lançar luz sobre o modo e o tempo verbais do texto onírico.

O processo primário, que busca, como vimos, a repetição de uma identidade perceptiva, é logicamente anterior ao processo secundário e uma pré-condição deste. A enunciação segundo a lógica do processo primário se dá pela via metafórica da condensação, pela via metonímica do deslocamento, pela via de uma linguagem indireta, alusiva, marcada pela ambiguidade verbal, pelo descaso em relação às contradições, pelo recurso a homonímias, paronímias, associações baseadas na similaridade de sons, pela via, enfim, daquilo que Freud chama de “associações superficiais”. O discurso inconsciente, regido pela lógica do desejo que é a própria lógica do significante em seu movimento, o qual se enuncia conforme a gramática do processo primário acima esboçada, esse discurso se presentifica nos interstícios, nas falhas do discurso pré-consciente/consciente. Ele como que atravessa este último, fura-o, enviesa-o, submete-o a uma outra ordem, desconcertando a coerência, esse dizer-coisa-com-coisa que a intencionalidade do eu, do sujeito do enunciado, sempre quer atribuir-lhe – e com isso aponta para um Outro lugar, para uma Outra cena, para um lugar de enunciação. Como diz Lacan, “se o inconsciente fala, isso não é o bastante: é preciso que isso se encene”[8]. Esse discurso inconsciente se expressa, como se sabe, nos lapsos de linguagem, nos chistes, nos atos falhos e sintomáticos, nos esquecimentos de nomes, naquelas representações que Freud chama de intermediárias e mistas, tais como as formações de compromisso peculiares aos sonhos e aos sintomas neuróticos, nas quais as representações substitutivas manifestas são condensações e simulacros das representações substituídas latentes e uma alusão a estas. Essas representações substitutivas são em geral dotadas de grande intensidade psíquica, necessária para “forçar sua irrupção nos sistemas perceptivos” [FREUD, 1987, p. 540], e concentram em si todo um emaranhado de cadeias de representações.

Quanto ao processo secundário, que visa ao estabelecimento de uma identidade de pensamento (o que supõe, por exemplo, abstração), dele se pode dizer que corresponde, em sua estrutura básica, a uma lógica aristotélica. Nele vigoram os princípios da identidade para consigo mesmo, da não-contradição e da exclusão de uma terceira possibilidade na oposição entre o verdadeiro e o falso. Vigora também uma “ordem das razões” análoga à que rege o discurso de um filósofo, em nível demonstrativo, ou de um bom advogado, em nível persuasivo, ou mesmo de nosso pensar ordinário, segundo o senso comum. Segundo essa ordem de razões, a concatenação do que é dito antes com o que se lhe segue deve poder ser claramente explicitada e obedecer aos critérios aristotélicos acima indicados. Importam menos, aqui, as intensidades psíquicas características do processo primário do que o rigor “racional” daquela concatenação. Há aqui, no plano simbólico, todo um conjunto de complexas operações, no nível do significado, que supõem a vigência dos referidos critérios aristotélicos. Dentre essas operações, interessa particularmente aos fins do presente trabalho o estabelecimento de relações de subordinação entre enunciados, ou seja, de relações hierárquicas logicamente consistentes entre estes. A enunciação segundo a lógica do processo secundário se dá na forma de “juízos, inferências, negações, expectativas, intenções”, dúvidas, etc. [FREUD, 1987, p. 503]. Em oposição a isto e por referência ao processo primário, lembremo-nos de que, segundo Freud, não há não no inconsciente, os pensamentos mutuamente contraditórios subsistem lado a lado como se nenhuma contradição houvesse entre eles – o que me parece significar, a rigor, que aí vigora outra ordem de contradições –, além do que os processos inconscientes são inacessíveis à dúvida.

Pois bem, é na referência das supramencionadas relações de subordinação entre enunciados que retomo o eixo central deste trabalho e apresento agora, em articulação com as características dos processos primário e secundário anteriormente delineadas, algumas considerações de ordem linguística e gramatical acerca do modo e tempo verbais do texto dos sonhos.

Freud nos diz que o pensamento onírico é representado como uma situação imediata, em tempo presente. Explica este fato fazendo menção aos devaneios e mostrando que tanto estes quanto os sonhos se manifestam em tempo presente: “o presente é o tempo em que os desejos se representam como realizados” [erfüllt] [FREUD, 1987, p. 490]. Em outras palavras, se os sonhos são realizações de desejos e se os desejos se realizam em tempo presente, o texto, o discurso, a fala onírica, não pode se enunciar senão no presente. Mas como articular isto com outras asserções freudianas acerca dos processos inconscientes, tais como, por exemplo, sua atemporalidade? Observe-se, de passagem, que não se trata propriamente de uma não-temporalidade, mas de uma temporalidade Outra, não regida pela continuidade, pela sucessão, pela duração, pela cronologia, e sim pelo movimento retroativo [nachträglich] da significação na lógica do significante. Lembremo-nos, nesta passagem, de que, como especifica Lacan, a lógica do significante inclui o tempo e o sujeito. Como articular tudo isto, também, com a situação imediata própria da cena onírica e com a omissão das formas verbais optativas e indicadoras de dúvida?

A mim me parece que, em certo sentido, o presente não é propriamente um tempo, sobretudo se entendermos o tempo na perspectiva da sucessão. O fugidio instante presente, o instante da percepção, não é apreensível pelo discurso, cuja simples formulação já supõe a perda desse instante. Isto tem a ver com a assertiva freudiana segundo a qual percepção e memória são mutuamente excludentes. Dentro da perspectiva que acabo de esboçar, o tempo presente, de certo modo, dispensa o verbo. Bastaria, por assim dizer, apontar com o indicador... Tal concepção me parece em consonância com a situação imediata e atual da cena onírica. A cena, onírica ou não, é algo que se presentifica e se impõe. Nesse sentido, não pode comportar dúvidas.

Talvez seja oportuno observar, de passagem, que o tempo futuro dos verbos, por sua vez, é a enunciação de um desejo. “Vencerei”, “vencerás”, etc., provêm de “hei de vencer”, “hás de vencer”, etc. A rigor, portanto, não há aí o enunciado de uma ação certa, determinada. Apesar disso, sua inclusão como um dos tempos possíveis do modo indicativo parece justificar-se pelo fato de que, conforme o estrito sentido da frase, é como se fosse certo que realmente vencerei, vencerás, etc.

A questão da omissão da dúvida e das formas optativas nos desloca de uma análise temporal para uma análise modal do verbo da enunciação onírica. Essa dimensão modal já está presente nas considerações de ordem temporal que acabo de tecer. Com efeito, Freud, ao falar do tempo presente da cena onírica, utiliza o termo Präsens. Esse termo designa, em alemão, sobretudo o presente gramatical[9]. A tradução brasileira fala de presente do indicativo. Creio que um rápido exame da omissão das formas verbais optativas e dubitativas no texto onírico nos ajudará a entender um pouco melhor o porquê dessa tradução.

Nas suas formas propriamente verbais (por oposição às assim chamadas formas nominais dos verbos, que são o infinitivo, o gerúndio e o particípio), os verbos se conjugam nos modos indicativo, imperativo e subjuntivo, e em algumas línguas – como a nossa mesma, no Brasil, antes da reforma de 1959 –, também no condicional. Esses diferentes modos dos verbos que, como adiante veremos, são também referências a posições e estados subjetivos, têm a ver com a estrutura da linguagem e nessa condição comparecem mesmo em línguas que, como o inglês, não têm uma forma específica para o subjuntivo, mas nem por isso deixam de ter a função sintática do subjuntivo, isto é, sua ocorrência lógica no período e na oração.

Os gramáticos dizem que, enquanto os tempos verbais indicam quando se processa a ação, o estado ou o fenômeno expressos pelo verbo, os modos indicam como essa ação, estado ou fenômeno se processam. Nessa perspectiva, o modo indicativo designa uma ação certa, determinada, como quando se diz, por exemplo: sei que você me ama”. No dizer de um dos nossos mais reconhecidos gramáticos, o modo indicativo designa que “a ação expressa pelo verbo é exercida de maneira real, categórica, definida, quer o juízo seja afirmativo, quer negativo, quer interrogativo”[10]. O imperativo, por sua vez, denota comando, ordem, exortação, apelo, súplica. Falarei, no fim deste trabalho, de uma peculiaridade deste último modo verbal. Tal peculiaridade talvez possa ajudar-nos a compreender por que os sonhos, assim como acontece em relação ao subjuntivo, também não falam no modo imperativo.

O subjuntivo merece uma consideração especial aqui. É próprio desse modo verbal denotar uma ação incerta, indeterminada, apenas possível ou provável e passível de dúvida, como quando se diz: “quero que você me ame”. A ação denotada pelo modo subjuntivo é necessariamente subordinada à ação ou à condição de um verbo de outra oração que seja principal em relação àquela cujo verbo está no subjuntivo. Sem essa subordinação a outro verbo, do qual depende para ser compreendido, o verbo no subjuntivo carece de sentido. Essa indicação basta para nos mostrar que, embora o subjuntivo seja geralmente estudado no terreno da morfologia, é no da sintaxe que se pode apreender sua função lógica na tessitura das orações e dos períodos. Como diz Azevedo, o estudo do subjuntivo “deve ser entendido como parte de outro mais amplo, qual seja, o da subordinação em geral”[11]. O mesmo autor sustenta que o subjuntivo pode ser explicado sem que se tenha de recorrer a considerações semânticas: “O contraste subjuntivo vs. indicativo não corresponde a um contraste de sentido entre as formas verbais consideradas. Ao contrário, as formas do subjuntivo são usadas de maneira automática (embora essa obrigatoriedade não se estenda igualmente a todos os dialetos), segundo a subcategorização de certos elementos da oração, feita em termos de traços distintivos sintáticos”[12].

Essa necessária subordinação, pelo subjuntivo, da oração a que pertence, é uma das funções mais características desse modo verbal e está presente na sua etimologia. Com efeito, subjunctivu quer dizer, literalmente, o que se junta debaixo. O subjuntivo sempre exprime uma ação como subordinada a outra[13]. Empregado em sua função própria, não pode comparecer numa oração que não seja subordinada[14]. Considerando que “a presença do subjuntivo na oração subordinada é condicionada pela presença de um verbo de certo tipo na oração principal”[15], faz-se particularmente interessante para os fins deste trabalho a indicação de que os verbos volitivos, isto é, que exprimem desejo, subordinam a oração que os complementa e exigem que o verbo desta seja enunciado no subjuntivo. O mesmo ocorre com os verbos que indicam sentimento: “lamento que não me ames”, ou dúvida: “duvido que me ames”[16].

Mas tomando a ação, estado ou fenômeno expressos pelos verbos como o critério por excelência da diferenciação entre os modos, a perspectiva estritamente gramatical deixa de considerar a função – sobredeterminada e, conforme meu ângulo de abordagem, também determinante – do sujeito na constituição estrutural dos modos verbais. Creio que, assim como Kant referiu o tempo e o espaço ao sujeito, concebendo-os como pressupostos ou condições de possibilidade de toda experiência sensível, os modos dos verbos também podem ser referidos ao sujeito. Com efeito, esses modos não falam apenas do verbo, ou da ação, estado ou fenômeno por ele denotados. Os modos dos verbos falam antes de tudo do sujeito, de posições subjetivas, de modalidades de enunciação, de “estados de sujeito”, por assim dizer. Mais do que no verbo, é no sujeito que pode residir a dúvida, ou a certeza, ou o desejo. É ele que duvida, afirma, hesita, deseja, assevera, interroga, nega, apela, exorta... Os modos dos verbos denunciam diferentes estados, diferentes posições subjetivas.

A propósito, a referência que a gramática utiliza para distinguir os tempos dos verbos também é o sujeito da enunciação. É em relação ao momento em que se fala, ou seja, em que se enuncia, que se diferenciam o presente, o pretérito e o futuro. Essa referência gramatical supõe o tempo como continuidade e sucessão, diferentemente da temporalidade própria dos processos inconscientes, regida pela lógica do só-depois. O tempo, nesta última referência, é relação entre sujeito e significante.

Pois bem, as relações de subordinação entre enunciados a que anteriormente me referi, nas quais o modo subjuntivo desempenha o importante papel cujas linhas gerais acabo de esboçar, são relações cuja sintaxe se desenvolve na vigência da lógica própria ao processo secundário, a lógica do significado, do dito, que já apresentei como estruturalmente aristotélica. É nesse nível de complexidade lógica que é possível a dúvida. Onde não vigoram os princípios da identidade e da não-contradição não há lugar para a dúvida. Já vimos que tanto os verbos que denotam desejo quanto aqueles que denotam dúvida subordinam a oração que os complementa e forçam o verbo desta a se pronunciar no subjuntivo. O mesmo ocorre quando se empregam advérbios de dúvida, como “talvez”, “quiçá”, “porventura”, etc. Assim acontece também, como veremos a seguir, com as formas optativas dos verbos. O modo indicativo, como já foi dito, caracteriza-se por designar a ação de modo certo, preciso, sem dar margem a dúvidas. O modo indicativo não comporta dúvidas. Ele tem uma incompatibilidade gramatical com a dúvida.

As formas optativas, como se sabe, são as daqueles verbos e expressões linguageiras que designam desejo, voto ou imprecação, como ocorre quando se diz: possa eu ser bem sucedido!”, ou vivam os noivos!”, ou “diabos o carreguem!”, ou ainda “oxalá faças boas provas!”. Pode-se ver que em todos estes exemplos o verbo está no subjuntivo.

As expressões optativas e dubitativas nos põem diante de uma aparente dificuldade. Se o subjuntivo é um modo verbal que sempre subordina a oração a que pertence, como explicar sua incidência em orações absolutas constitutivas de períodos simples como os dos exemplos que acabo de dar, sobretudo se considerarmos que as orações absolutas são por definição independentes? Alguns gramáticos pretendem resolver essa dificuldade cunhando a expressão “subjuntivo independente”, a qual, entretanto, me parece visivelmente contraditória. A resposta a essa dificuldade, que se articula com a explicação já dada para a obrigatoriedade da ocorrência do subjuntivo nas formas optativas e dubitativas e para a possibilidade lógica e gramatical de tal ocorrência, é que apenas num nível superficial os períodos acima são simples, quer dizer, formados cada um de uma oração absoluta e por isso mesmo independente. Com efeito, num nível maior de profundidade, encontram-se, subentendidos, verbos que denotam desejo, sentimento ou dúvida: espero que possa ser bem sucedido”, “desejo que vivam os noivos”, etc. Esses verbos, como já vimos, subordinam a oração que lhes complementa o sentido e exigem que o verbo desta oração seja enunciado no subjuntivo. As observações acima ajudam a compreender a formulação geral segundo a qual “orações aparentemente independentes em que ocorre uma forma subjuntiva podem ser descritas, em termos da representação subjacente, como orações subordinadas”[17].

Posso ainda acrescentar, para concluir, que as observações acima são também aplicáveis ao modo imperativo dos verbos. Aparentemente, não há formulação mais independente do que a que se enuncia no imperativo. Quando se diz, por exemplo, “cidadãos, honrai vossa Pátria!”, é como se estivéssemos diante de um comando absoluto e incondicional. No entanto, num nível mais profundo, subjaz um verbo volitivo: “cidadãos, ordeno-vos [peço-vos, etc.] que honreis vossa Pátria!” – e o verbo honrar já passou para o subjuntivo. Por trás do imperativo, está o subjuntivo. Isto pode ajudar-nos a compreender melhor o imenso parentesco que há, na língua portuguesa e não somente nela, entre as formas verbais do subjuntivo e do imperativo. Não é por mero acaso que a conjugação deste último tem por modelo a do primeiro, com a exceção, e apenas na forma afirmativa do imperativo, da segunda pessoa do singular e do plural, que se constitui pela perda do “s” final dessas mesmas pessoas no presente do indicativo.

Isto também pode ajudar-nos a compreender que “o outro” do modo subjuntivo, o modo que se opõe dialeticamente a ele e que é o modo que afinal de contas Freud supõe na passagem da Traumdeutung que estou acabando de examinar, embora não formule expressamente essa suposição, é o modo indicativo. A incompatibilidade que ele aponta entre de um lado a escrita da cena onírica em tempo presente, e do outro o emprego do “talvez” e das formas optativas no texto dessa escrita, nos permite inferir os pressupostos em que ele se apoiou para afirmar que os sonhos falam num só tempo: o presente, e inferir também por que na tradução brasileira foi explicitado que esse presente é do indicativo.


Notas e Referências:

[1] LACAN, Jacques. Freud no Século. IN: LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 3: As Psicoses [1955-1956]. Texto estabelecido por Jacques-Alain Miller. Tradução de Aluísio Pereira de Menezes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985, p. 270-271.

[2] Todas as referências e citações relativas à Interpretação dos Sonhos foram retiradas do volume V da Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1987. Em ulteriores referências a essa obra, indicarei, no próprio corpo do texto: FREUD, 1987, nº da página. Os termos entre colchetes, em alemão, são os empregados pelo autor, no original.

[3] LACAN, Jacques. Freud no Século. Op. cit., p. 269-270.

[4] LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 5: As Formações do Inconsciente [l957-1958]. Texto estabelecido por Jacques-Alain Miller. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.

[5] IN: FREUD, Sigmund. A Interpretação dos Sonhos [1900]. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Tradução de Walderedo Ismael de Oliveira sob a direção geral de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1987, v. V, p. 545.

[6] “Todos os atributos que tanto valorizamos em nossas cadeias de pensamento e que as caracterizam como realizações complexas de ordem superior, são reencontrados nos pensamentos oníricos. [...] O máximo que podemos concluir daí é que isso prova que as mais complexas realizações do pensamento são possíveis sem a assistência da consciência”. FREUD, 1987, p. 538. (Grifos no original).

[7] A rigor, a identidade de pensamento, de que fala Freud, tem como sua condição de possibilidade a instauração do registro da diferença. Essa “identidade”, portanto, só é possível na diferença. Como observa Guyomard, “o exercício da psicanálise dificulta a identidade. Muito antes, por seus jogos de palavras, pela pluralidade das cenas que ele implica (não funcionamento do princípio de não-contradição, atemporalidade), o inconsciente é uma cena que se opõe a qualquer identidade: tanto à identidade consigo mesmo quanto à identidade com as coisas. Ele impõe o não-idêntico, a alienação do sujeito do inconsciente. Frente a esses efeitos de vertigem, o idêntico é obtido ao preço do fechamento e do recalcamento social. Ser é esquecer. [...] Aos engodos e fixações identificatórias, a psicanálise opõe sua ascese de fala: ela é uma empreitada de desidentificação. O processo analítico se exerce às avessas das identificações. Elas tanto são constitutivas dos conflitos psíquicos quanto constituídas (como fantasias e sintomas) por eles. Freud comparava o eu a uma cebola cujas túnicas tinham de ser retiradas uma após outra. Lacan não cansou de se opor a qualquer concepção da análise que visse sua conclusão numa identificação, fosse com o analista, fosse com um objeto enfim possuído. A identificação bem-sucedida não é, por si só, um critério de análise finalizada. Tampouco o é a simples desidentificação. Ambas passam ao largo do essencial, que é, no conjunto de suas implicações, o destaque da dimensão humana – e trágica – do desejo a partir do inconsciente”. GUYOMARD, Patrick. O Gozo do Trágico: Antígona, Lacan e o Desejo do Analista. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996, p. 9. (Grifos no original).

[8] LACAN, Jacques. A Instância da Letra no Inconsciente ou a Razão desde Freud [1957]. IN: LACAN, Jacques. Escritos. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

[9] Cf. TOCHTROP, Leonardo. Dicionário Alemão-Português. Rio de Janeiro: Globo, 1987, p. 404.

[10] ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática Metódica da Língua Portuguesa. São Paulo: Saraiva, 1975, p. 201.

[11] AZEVEDO, Milton M. O Subjuntivo em Português: um Estudo Transformacional. Petrópolis: Vozes, 1976, p. 7.

[12] Id. Ibid., p. 24-25. (Grifos no original).

[13] Alguns autores apontam como exceção a essa regra a presença do modo subjuntivo em orações coordenadas alternativas, como no período: “quer chova, quer faça sol, irei ao jogo”. É visível, entretanto, sem que com isso se negue a alternância de possibilidades contida no exemplo, uma idéia de concessão: “ainda que chova...”, que torna logicamente possível a inclusão de orações desse tipo no rol das subordinadas.

[14] “[Le subjonctif], on le sait, n’existe qu’en subordoneé; c’est un outil de transposition. [...] Si la phrase tu réussiras est transposée en complément d’objet dans je doute que tu réussisses, on constate que le verbe douter oblige le verbe réussir à passer du futur indicatif au présent subjonctif”. BALLY, Charles. Linguistique Générale et Linguistique Française. Paris: Ernest Leroux, 1932. (Grifos no original). Apud AZEVEDO, Milton M. Op. cit., p. 23.

[15] AZEVEDO, Milton M. Op. cit., p. 27.

[16] O mesmo ocorre em diversas outras línguas, como, por exemplo, o francês: “En effet, les différences entre phrases contenant et phrases ne contenant pas le subjonctif tiennent [...] à la présence ou à l’absence [...] des éléments (tels que verbes ‘de volonté’, ‘de sentiment’, etc.) dont dépend l’application obligatoire de la transformation”. RUWET, Nicolas. Introduction à la Grammaire Générative. Paris: Plon, 1968. Apud AZEVEDO, Milton M. Op. cit., p. 24.

[17] AZEVEDO, Milton M. Op. cit., p. 12.


* Trabalho apresentado na mesa-redonda “Tempo e Interpretação”, por ocasião do Congresso Internacional de Psicanálise e suas Conexões, sob o tema geral A Interpretação Psicanalítica, promovido pela Escola Lacaniana de Psicanálise do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 18 de agosto de 2000. Publicado em: PHILIPPI, Jeanine Nicolazzi (organizadora). Legalidade & Subjetividade. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2002, p. 143-160.

Trabalho apresentado na mesa-redonda “Discurso, Arquivo, Fantasia”, por ocasião do II Simpósio Grupo Teoria do Discurso, sob o tema geral Discurso, Arquivo e..., promovido pelo Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense. Niterói, 18 de maio de 2011. Publicado em: MARIANI, Bethania; MEDEIROS, Vanise; e DELA-SILVA, Silmara (organizadoras). Discurso, Arquivo e... Rio de Janeiro: 7 Letras, 2011, p. 22-37.

Uma síntese deste trabalho foi apresentada na mesa-redonda “Instante de Ver, Tempo para Compreender, Momento de Concluir”, por ocasião da XIII Ciranda de Psicanálise e Arte, sob o tema geral O Tempo passa... Nas Artes e na Psicanálise, promovida pela Escola Lacaniana de Psicanálise do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 23 de setembro de 2016.


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