Os Normalpatas

30/06/2015

Por Luiz Ferri de Barros - 30/06/2015

"Só para loucos."

Herman Hesse - O Lobo da Estepe

"O nosso ideal é uma tranquilidade desvairada."

Cleo - personagem de Anjo Carteiro - A Correspondência da Psicose

 

"A normalpatia é a síndrome mais universalmente difundida nas sociedades modernas. Consistindo na plena convicção que a maioria dos indivíduos nutre a respeito de sua total e absoluta sanidade, esta síndrome não tem cura, posto que o conceito de cura só se aplica aos doentes. A hipotética cura do normalpata seria paradoxal: só se daria pela aquisição de uma disfunção de comportamento, pensamento ou emoções, o que o levaria a estar doente e não a estar curado. A normalpatia é a mãe de todas as ortodoxias, estas camisas de força em que o normalpata encontra uma segurança que, na verdade, não tem por conta de si mesmo. A única segurança efetiva que nutre a presunção do normalpata é estabelecida pelo contraste que julga existir entre sua suposta sanidade e a loucura que atribui aos outros. O heterodoxo é a trilha em que só sabem trafegar os loucos. E só a heterodoxia pode credenciar-se ao estudo da normalpatia. Ressalte-se que a heterodoxia que os loucos podem vir a praticar para o correto estudo dos normalpatas em nada se assemelha aos falsos movimentos ou doutrinas heterodoxos que enlevam os normalpatas ao se arvorarem o direito de serem loucos, quando isto é prerrogativa apenas nossa. As heterodoxias correntes, sejam as dos grupos marginais e delinquentes, sejam as dos economistas desorientados, sejam as dos políticos eternamente dissidentes mesmo quando no poder, além de outras, consistem na negação falaciosa apenas da parte que lhes convém dos axiomas das doutrinas ou convenções prevalecentes. Nós somos heterodoxos por outra via de construção doutrinária. Somos heterodoxos porque, a isto castigados por nossa sensibilidade e nossa sina, abarcamos, cada qual, em nossas mentes, a totalidade das ortodoxias presentes, passadas e futuras. E, com o perdão da palavra, processamos esta merda toda de forma tão definitivamente abrangente que, pelo excesso de postulados, normas, leis, axiomas, teoremas e deduções, nossa cabeça pifa e nós enlouquecemos. Se, uma vez loucos, somos privados pelos normalpatas de todos os nossos direitos de cidadania, isto não implica, contudo, que nos seja lícito abandonar nossos deveres de cidadãos. Nossos direitos somente serão reconquistados a partir do pleno cumprimento dos deveres que o destino nos impõe. Nosso maior dever, meus confrades, é dedicarmo-nos com a mais livre inconsequência que só a loucura proporciona - ao estudo dos normalpatas. Esta é uma contribuição que só os loucos podem prestar. E a história será nosso juiz: apenas o transcorrer dos séculos poderá julgar o mérito de nossas descobertas. Mais uma palavra apenas, embora eu a saiba desnecessária: rogo a todos que nunca se afastem, na condução de nossos debates, da mais estrita fidelidade ao código de ética dos loucos. Declaro aberta a Primeira Semana Psicótica de Estudos da Normalpatia."

Com estas justas e alucinadas palavras, pronunciou ao vento o seu discurso, falando a ninguém, o Prof. Ludovico, Doutor em Epistemologia pela Escola Livre (por correspondência) de Estudos Mentais, fundada por ele mesmo e da qual ele era o único docente, pesquisador e aluno. (Quando não falava sozinho, ele escrevia cartas para si mesmo).

Esta escola, sediada, por força das circunstâncias, nos jardins de uma "clínica de repouso", eufemismo que ele julgava indecente para designar "hospício", tratou em primeiro lugar de propor novas nomenclaturas para conceitos, objetos e lugares que ele julgava mal definidos.

O primeiro lugar a ser rebatizado foi a própria sede da escola. Substituiu, com um esgar dolorido nas faces quando lhe ocorreu a descoberta, a designação do local de "Jardins da Clínica de Repouso da Granja Real" por "Pátio dos Abandonados do Hospício de Vila Perdida". Logradouro? Passou de "Rua do Embaixador Justo Leal, n 100%" para "Avenida da Injustiça, Quadra Zero, Fundos. Bloco da Deslealdade, s/n. Indicação de roteiro: 10 léguas além do cu do mundo".

Destas modificações iniciais, mais chãs e vulgares, passou ele, a seguir, a repensar termos e conceitos mais intrincados que pululavam no hospício. Breve amostra da natureza de suas reflexões, neste período primeiro de sua escola, são os seguintes:

"Delirar não é afastar-se da realidade e sim a capacidade de apreender o surreal".

"Alucinar não é enxergar e escutar o que não existe e sim a capacidade que só os loucos têm de perceber clara e distintamente o que existe dentro deles mesmos".

"Psicólogo é um sujeito que por não saber contar histórias gosta de ouvi-las dos outros".

"Psicologia é uma ciência do comportamento e portanto não se aplica aos mal-comportados".

"Psiquiatras são esquisitos porque tentam compreender o que nem sequer percebem".

"Psiquiatria é um ramo da medicina que se criou para que os cartunistas e piadistas não se incomodassem com a ginecologia e a proctologia".

"Anti-Psiquiatria foi um movimento que proporcionou excelente encaminhamento para os anti-loucos".

"O único termo certo que se usa neste hospício é quando nos chamam de pacientes. De fato é preciso muita paciência para aguentar isto tudo".

O desenvolvimento de sua escola não se absteve de uma revisão da lógica e dos pressupostos científicos. Na esfera de suas reflexões sobre a filosofia da ciência, investigação que empreendeu para solidamente alicerçar o desenvolvimento de seu pensamento, encontram-se formulações da seguinte natureza:

"Paradigma é um axioma falso a priori".

"Paradoxo é um fato absolutamente incontestável".

"Não é mesmo um paradigma que sendo os psicólogos os que acreditam em mitologias, sejam os psiquiatras os que acreditam em pós e poções mágicas enquanto os psicólogos nelas não acreditam? Este é um paradoxo."

"Se a realidade fosse sensível, mulher feia não casava".

Muito tempo passou Ludovico a construir seu cabedal e isto tanto mais tempo lhe custou pelo fato de que, por mais indesejável que lhe fosse, de vez por vez, saindo de seu mundo de alucinada divagação, ele ao mundo real retornava e então bramia pelos pátios e corredores sua dor de ser homem enjaulado, hospitalizado, internado, institucionalizado, cerceado, cassado, preso, acorrentado, humilhado, desrespeitado e tanto dizia, tanto gritava, tanto brigava, que acabava amarrado no quarto escuro, frio e fedido da clínica de repouso e então ali era posto para repousar, seus pés atados aos pés da cama, seus braços aos lados da cama, as faixas e amarras imobilizando seu pensamento pela dor que lhe causavam as amarrações. E os remédios que lhe faziam então ingerir mitigavam sua memória de tal sorte que, ao regressar ao pátio, depois, era mister iniciar de novo seu sistema epistemológico.

Ele já havia reconstituído diversas vezes as bases de sua cosmologia, quando por fim chegou ao paradigma que lhe abriu as portas da mente para a possibilidade do estudo da normalpatia:

"Saúde é uma disfunção dos que não são doentes".

Após esta descoberta, nunca mais Ludovico entrou em crise e pôde desenvolver a seu contento os conceitos de sua disciplina, tendo por vezes oportunidade de debater suas idéias com algum médico que porventura não dormisse no plantão. Mas nunca por muito tempo porque as questões que Ludovico lhes propunha, em consonância com sua filosofia, alucinadas que fossem, desconcertavam os sexto-anistas de medicina que pastam nas clínicas. A um deles, conta-se que Ludovico teria proposto a seguinte questão:

- Sendo a morte a finalidade última da vida e as doenças os meios pelos quais pode-se alcançar a morte, qual é o sentido de dedicar-se a um ofício que combate a morte e as doenças?

De outras vezes teria dito:

- Se a vida nada mais é do que preparar-se para morrer, não leva vantagem o que é doente sobre o que é saudável?

- Se a Medicina só estuda as doenças, como é que pretende promover a saúde?

Suas conversas mais agradáveis, entretanto, eram com o psicólogo, a quem propunha questões do seguinte tipo:

- Não existindo ciência desinteressada, se a Psicologia estuda o comportamento, deve ser para modificar comportamentos, suprimindo uns, instaurando outros, conservando alguns. E você deve estar aqui querendo fazer isto comigo, não é mesmo? Tudo bem, sou capaz de concordar desde que você me explique um detalhe primeiro. Qual é o juízo de valor que você pretende usar para estabelecer quais comportamentos manter, quais suprimir, quais instaurar? O meu juízo ou o seu? Se for o meu, você é louco, se for o seu, você é um tirano.

Por estes tempos, passou a frequentar a clínica, aos sábados, uma moça de nome Matilde, estudante de psicologia pretendente a trabalhar com psicóticos. Ficou sabendo das histórias de Ludovico e, encantada com a ideia dos paradigmas paradoxais, procurou aproximar-se dele.

- Prof. Ludovico, gostaria de conversar.

- Quem é você?

- Meu nome é Matilde, eu estudo psicologia e...

- E pensa que eu sou um objeto de estudo. Eu sou um ser ensinante, não um objeto de estudo. Entendeu, mocinha? Adeus.

- Bom, muito bem, se o senhor é um ser ensinante, me ensine. Estou aqui para aprender.

Aprender o quê, exatamente?

- Aprender a cuidar das pessoas.

E quem lhe disse que as pessoas precisam de seus cuidados? Você é da Grécia Antiga, por acaso, e foi consultar algum oráculo? Esteve em alguma cartomante? Ou andou lendo artigos de revistas femininas? Todos os grandes mestres da Psicologia que estiveram em hospícios estudando loucos apenas desenvolveram teorias que se aplicam ao entendimento de pessoas que se dizem normais, nenhum contribuiu em nada para a causa dos psicóticos.

- Como assim? Quem, por exemplo?

- Por exemplo, para começar, Freud e Jung. Quer que diga alguém mais? E para que serve a psicanálise ou a psicologia analítica no tratamento de um esquizofrênico ou de um psicótico-maníaco-depressivo, para quê?

- Mas são terapias profundas, por certo indicadas para quem sofre de males profundos.

- É justamente aí que reside o erro profundo, no uso da Psicologia Profunda para casos profundos. Só pode ser entendido pelo uso dos paradigmas paradoxais.

- Qual paradigma paradoxal?

- Terapias profundas aprofundam casos profundos, portanto só servem para casos leves.

Onde o senhor leu isto?

- Está escrito nas estrelas.

E é para se acreditar no que está escrito nas estrelas?

- Com a mesma intensidade que se acredita no que está escrito na alma.

- E como se explicaria este paradoxo que a Psicologia Profunda não se preste aos casos profundos?

- Por outro paradoxo.

- Qual paradoxo?

- Estudos desenvolvidos a partir da análise da patologia não explicam a normalidade. Assim sendo, não se prestam as técnicas deles derivadas para fomentar a normalidade nos casos patológicos.

- É como dizia minha avó.

- Que é que dizia sua avó?

- Si non é vero é bene trovatto...

- E você me acha por acaso um trovador?

- Bem, não sei ainda. Não há mais nada que explique isto que não seja um paradoxo?

- Claro que há: é o paradigma.

- Ai ,meu Deus!, Prof. Ludovico, que é que tem que ver agora o paradigma?

- É paradigma: a normalidade psicológica se estabelece quando há um equilíbrio harmonioso entre consciente e inconsciente.

E daí?

- Daí que eu devia deixar o resto da dedução por sua conta, mas vou dizer-lhe de uma vez para ver se você me deixa em paz. A Psicologia Profunda, estudando a patologia, descobriu os mistérios do inconsciente, posto que na patologia é o inconsciente que está à mostra, à flor da pele. E a partir daí desenvolveram-se técnicas para fazer aflorar à consciência componentes do inconsciente que não estejam fluindo normalmente. Isto é análise. Os casos patológicos, no entanto, carecem de técnicas inversas, que façam refluir as almas penadas do inconsciente que assolam a consciência dos loucos, entendeu, mocinha? Precisa-se de uma anti-análise, dá para sacar?, que abafe o inconsciente à deriva, descontrolado, avassalador da consciência. Como é que para problemas inversos os psicólogos querem propor a mesma solução?

- Mas isto é uma loucura...

- Claro que deve ser: eu sou louco.

- Mas isto também é muito razoável.

- É lógico, baseia-se na mais pura epistemologia, na análise lógica dos paradigmas paradoxais. E, além do mais, este assunto é velho. Freud já dizia que psicanálise não se prestava ao tratamento de psicóticos. Só que a explicação que ele deu para o fenômeno foi invertida, talvez devido a seu cacoete metodológico de sempre buscar explicações invertidas. Como são vidrados em transferência, os psicanalistas transferem a questão da ineficácia da psicanálise para os loucos, dizendo que nós somos incapazes de transferência. Se você não entendeu o que Freud explica tão cristalinamente, eu simplifico: como a frieza, a prepotência e os preconceitos dos freudianos ortodoxos não permitem que brote neles nenhum tipo de contra-transferência construtiva-afetiva em seu contato com psicóticos, eles dizem que os loucos não são capazes de transferência.

- O senhor não gosta mesmo do Freud, Prof. Ludovico!

- Engano seu, menina. Nem conheci o sujeito para saber se era de se gostar ou não; pelo que ouço falar era meio difícil no relacionamento, cheirava cocaína, apunhalava amigos pelas costas quando eles tinham opiniões diferentes, mas estas são coisas que acontecem com todo mundo que teve aqueles tipos de problemas na infância, você sabe. A questão não é gostar ou não gostar dele, nem da psicanálise, nem nada disto.

- Qual é o problema então?

- São dois problemas apenas: o primeiro é o que ele escreveu e o segundo é quem leu o que ele escreveu. Estou falando sobre a psicose, daquele estudo que ele, contrariando seu método, como você sabe, resolveu fazer falando dos outros e não de si mesmo.

- Não, desculpe-me, não sei. Que estudo é este?

- Se você não sabe, não sou eu que vou lhe dizer para de repente você ir lá, ler, e voltar aqui para ser mais uma a pensar que todo mundo neste hospício, inclusive eu, além de todos os loucos do mundo, nada mais somos do que homossexuais enrustidos.

- Ora, Prof. Ludovico, parece que o senhor se sente ofendido. A questão da sexualidade é central na teoria freudiana, o senhor sabe...

- Sei, mas isto de louco ser bicha enrustida está completamente errado.

- Por que está tão completamente errado?

- Se você quer mesmo saber, para início de conversa, porque também tem louco que é bicha assumida. Se a teoria estivesse certa, não haveria loucos entre os homossexuais assumidos...

- !!!

- ... e, depois, para não se falar mais disso, é que tem muito louco que é louco por outras razões, ora bolas.

- Bom, isto é sabido. Muitas doenças mentais se manifestam após traumas os mais variados.

- É sabido; claro que é sabido. Mas é aqui então que entra o segundo problema, aquele que diz respeito a quem leu o Freud. Psicanalista só lê Freud e freudiano. Quando lê qualquer outra coisa é para coletar novas evidências comprobatórias da resistência à psicanálise ou colecionar pontos frágeis das teorias adversárias para despejá-los em cascata em debates públicos e artigos d’ A SOCIEDADE. Então a situação é esta: nós estamos pior que rato de Skinner em laboratório - não adianta negacear, a sentença está selada. Mais dia menos dia vai chegar o momento e o psicanalista vai se revelar ao louco e dizer que ele é uma bicha enrustida...

- Ele quem? Ha, ha, ha...

- Ah! Gostei desta, Matilde. O louco, Matilde. É claro que é o louco que é o homossexual. Mas a revelação não é esta porque isto já se sabia desde o princípio, até antes da primeira consulta. A revelação é outra. Todo o processo da psicanálise se resume em dois detalhes enigmáticos, um de suspense e o outro de revelação, que se desfecham de maneira simultânea. O suspense consiste em tentar adivinhar qual é o momento e de que forma o psicanalista vai discorrer a respeito da homossexualidade latente do cliente, fato que em si mesmo, depois de Freud, não causa qualquer comoção a ninguém, pois todo mundo está cansado de saber que homossexualidade latente é padrão de normalidade e não critério de patologia.

- E a revelação, qual é?

- Ah, sim, eu estava esquecendo. A grande revelação da psicanálise ocorre, como eu já disse, de maneira simultânea. Quando o psicanalista diz ao cliente que toda a questão, em essência, se resume no fato de que ele é uma bicha enrustida, o cliente finalmente descobre que o psicanalista não só não é mudo e sabe falar, como fica sabendo que até mesmo pessoas esclarecidas como psicanalistas também já ouviram falar do Freud e acreditam nele. Neste momento o paciente recebe o choque da vida dele, a psicanálise acaba e o paciente tem alta.

- Prof. Ludovico, o senhor me permite um comentário? Tudo isto que o senhor está falando é muito engraçado, serve para se rir um bocado, mas não corresponde à realidade, a começar porque a alta não existe como conceito em psicanálise e muitas pessoas fazem psicanálise anos e anos a fio; mesmo se correspondesse à realidade, não faz sentido. Nem é necessário argumentar seriamente para desconstruir o seu chiste. Para um homem tão preocupado com a lógica, como o senhor, vou fazer apenas uma pergunta: que choque é este de se saber da homossexualidade latente, se o senhor mesmo disse que isso não é novidade para ninguém?

- Matilde, você é uma menina inteligente porém muito ingênua, o choque não é este...

- Vai dizer que é a descoberta de que o psicanalista falava?

- Claro que não, isto era piada. O problema é que antes de dizer que o cara é bicha, o psicanalista começa a falar da mãe... E mãe, você sabe, não é para se pôr no negócio, assim. Mas o cara aguenta. Com o passar do tempo, entretanto, quando o analista põe o pai na jogada também, e isto tudo é muito lento e muito didático, o pequeno Édipo vai descobrindo como analisar seu analista e como trabalhar com a contra-transferência dele, até o dia da revelação, quando ocorre o insight libertador e se dá a alta.

- Que insight é este?

- Quando vem o papo da bicha enrustida, o paciente descobre que o analista está indo muito longe em suas fantasias contra-transferenciais, deixando-se tomar pelo complexo de Laio e começando a querer ser muito paizão, de repente, aos poucos e sem jeito, abandonando a frieza conceitual e partindo para um discreto e subreptício aconselhamento. Como anteriormente ele já fora convencido de que era inexoravelmente Édipo, o paciente abandona a análise para não ter de matar mais um pai. Na verdade, se psicanálise funcionasse para loucos, o único problema poderia ser esse: a depender do tipo de louco, na hora do insight libertador, o psicanalista poderia ser morto de fato. Agora, quanto às pessoas que fazem psicanálise a vida inteira, sem receber alta, isto acontece quando o paciente não descobre o complexo de Laio do analista, e, via de regra, existe na jogada algum tipo de Jocasta para pagar a conta da análise.

- Eu desisto, Prof. Ludovico. O senhor está insuportável hoje. Entretanto, se Freud não dá, continuo sem saber porque o senhor não gosta de Jung.

- Não disse isso. Adoro Jung, embora eu tenha uma grande diferença com ele. Só disse que a psicologia analítica não funciona para loucos.

- E por que a psicologia analítica não funciona para loucos? Qual é a sua diferença com o Jung?

- Existem três Jungs. O psiquiatra, o psicólogo e o místico. O jovem Jung psiquiatra é um cientista-pesquisador iluminista de grande talento, que realiza tão grandes descobertas com os loucos que deixa de ser iluminista e pesquisador empírico e passa o resto da vida tentando entender o que anteviu. Esse psiquiatra, embora amoroso, não cura ninguém porque naquele tempo a Psiquiatria não curava ninguém. Com o que aprendeu com os loucos, Jung desenvolveu teorias psicológicas e tornou-se psicólogo. Essa é minha diferença com ele: uma espécie de sentimento de ter sido traído. Não teria sido problema se fosse só ele a debandar, é que se trata de um exemplo arquetípico do abandono que nós sofremos. Em todas as especialidades médicas, veja as cirurgias cardíacas, por exemplo, quem atende o paciente nos momentos críticos é o mais alto especialista da equipe. Na psiquiatria é ao contrário: só enfermeiro cuida de louco em crise, quando muito o plantonista. Psiquiatra estabelecido na carreira só cuida de louco acertadinho e se o psiquiatra for renomado mesmo, então está a um passo de virar analista, prefere atender no consultório, como o Jung preferiu. Nisto, aliás, Jung foi autêntico discípulo de Freud, que se tornou analista abandonando a neurologia.

- O senhor não está sendo muito pessimista, deixando-se dominar por algum ressentimento com o qual Jung não tem nada que ver? Afinal o senhor está criticando os psiquiatras e Jung, embora tenha sido psiquiatra, ficou conhecido mesmo por sua obra na Psicologia. Na verdade, ele foi um psicólogo.

- Eu sei que ele pessoalmente não tem nada a ver. Ninguém é culpado por encarnar um arquétipo inconscientemente, como ele fez. Só que é irônico que ele tenha feito isto. É mais um exemplo dos paradigmas paradoxais: Jung encarna o arquétipo do psicólogo que abandona os loucos; de certa forma, mais que isso: ele inaugura o arquétipo, é o mito original. E é dos psicólogos mesmo que estou falando agora, das levas e levas de jungzinhos como você que vêm fazer estágio aqui a cada ano para receber seu diploma e nunca mais se interessar por nós, só tendo como ideal ir montar consultório para cuidar de neuroses e problemas existenciais - de preferência leves.

- Bom, Prof. Ludovico, o senhor está se exaltando, não creio que seja construtivo nós discutirmos este tema agora. Desculpe-me, talvez não tenha sido uma boa ideia perguntar-lhe a respeito do Jung. O que é que o senhor acha de nós falarmos de outro assunto?

- Mas você não vai nem querer saber porque a psicologia analítica não funciona para psicóticos?

- Se for para o senhor fazer o mesmo tipo de comentário que fez sobre a psicanálise, não sei se vale a pena...

- Ora, Matilde, parece que você não conhece o Fernando Pessoa, tudo vale a pena se a alma não é pequena, é o seguinte: como lhe disse, entre os analistas junguianos existem os místicos e os psicólogos. A maior parte dos junguianos é constituída pelos místicos, que só conhecem, por assim dizer, a obra literária do "feiticeiro de Zurique", o velho Jung, fruto de sua curiosidade intelectual, sem sequer se dar conta de que Jung um dia foi de fato um psicólogo que elaborou uma complexa teoria; aliás, a teoria que mais se aproxima de entender os loucos - embora, como já disse, não se preste a curá-los. Os místicos não curam loucos e conseguem um resultado que denomino transposição de distúrbios...

- Transposição de distúrbios?

- É fácil exemplificar: um louco paranoico, com grande fobia social, iniciado no I-Ching por um místico junguiano competente, pode perder realmente o medo de sair de casa todas as vezes que o I-Ching der a resposta positiva. Mas, para obter a resposta positiva do I-Ching, ele frequentemente se transforma em louco obsessivo-compulsivo, jogando rodadas e mais rodadas de consulta ao livro, antes de poder levar o cãozinho fazer xixi no parque. Ele carrega o livro numa sacolinha embaixo do braço e diante de qualquer sensação persecutória que começa a sentir, senta-se no banco da praça e consulta compulsivamente a sabedoria oriental milenar. De tanto folhear e refolhear o I Ching, o livro, à medida que envelhece e é submetido a tomar chuva e sol e a pegar suor do sovaco do louco, começa a soltar tinta e sujar a mão do louco. Daí o sujeito inicia aqueles rituais e, quando menos se espera, completa-se a transposição do distúrbio: o I Ching pode ser retirado porque o louco não é mais paranoico, apenas lava as mãos no mínimo quinze vezes por dia, tendo-se tornado um perfeito obsessivo-compulsivo. O destino deste louco, então, será cair nas mãos dos behavioristas. Grande progresso: de Jung a Skinner, via I-Ching...

- Prof. Ludovico, fico contente que o senhor esteja bem humorado novamente. Mas sua ironia apenas o leva a falar um monte de bobagens a respeito dos junguianos, como no caso dos psicanalistas...

- Bobagens? Se você acha bobagem a transposição de distúrbios, quem sabe pense diferente sobre a transposição temática...

- Transposição temática?

- É outra especialidade dos místicos. Não conseguem esvaziar os bolsões psicóticos delirantes, mas são eficazes na modificação dos enredos dos delírios. Vou ficar novamente no exemplo do paranoico, que é o mais simples. Antes de consultar o místico, o sujeito sentia-se perseguido por tudo e tanto o tempo inteiro que não conseguia fazer nada direito na vida. Depois de fazer o seu mapa-astral, participar de cursos e grupos de estudos, o louco, afinal, acabou concordando com o junguiano que o seu incômodo era fruto da confluência daquelas constelações astrais específicas e que não havia ninguém que o perseguisse. Havia apenas um problema: aquela estranha sincronicidade que ele passou a perceber nos astros, todos girando no universo com a única finalidade de ajustar a posição exata para que fosse disparado dos céus um meteorito que o fulminaria...

- O senhor continua exagerando, Prof. Ludovico. Isto é gozação sua...

- Você acha que é gozação porque eu sou louco e você me vê como um objeto de estudo. Ouça-me como um ser ensinante, despreocupe-se de meu jeito de falar, e busque aprender com minha crítica. Tenho mais anos de psiquiatria e de psicologia do que os que me atendem têm de vida. Só que do outro lado do balcão. De um lado que eles nunca enxergaram. E julgam bobagem o que digo, como você, agora. Cada um enxerga o mundo de um jeito, e os junguianos, assim como os psicanalistas, assim como todos os outros isso-e-aquilo não percebem que o jeito deles enxergarem as coisas também é cheio de bobagens. Pior que isso, não percebem nunca que nenhum jeito é o único e nenhum jeito serve para entender todo mundo - muito menos todos os loucos.

- Está bem, Professor. Diga então o que o senhor acha dos psicólogos junguianos, já que o senhor só falou dos místicos.

- Fazer terapia junguiana é um deleite. Nada pode ser mais agradável na área da psicologia, só que não funciona para loucos. Porque se o analista for ruim, deixa o cliente mais louco ainda, perdido naquela névoa de imagens emergentes que parece cinema em três dimensões - e se o analista junguiano for bom mesmo, ele fica louco junto.

- O analista fica louco?

- Os junguianos tentam buscar a porta de saída da loucura pelo lado de dentro, depois de explorar seus territórios. Se o analista é muito bom, ele consegue entrar tanto na loucura que depois não sai mais - o, que, aliás, acontece com quase todos os bons terapeutas de todas as linhas: por isto existem tão poucos bons terapeutas. Os que são bons mesmo, de repente, você vai ver, o cara desbundou.

- Se a psicanálise e a psicologia analítica não curam loucos, qual é a saída?

- Se eu soubesse não seria mais louco. Na verdade, a loucura não tem porta nem de entrada, nem de saída. Entra-se nela e dela se sai por caminhos desconhecidos. Quando alguém imagina ter curado um louco, pensa que encontrou um método, escreve uma teoria baseada em um único caso, ou em meia dúzia, sem se dar conta de que todos os procedimentos nada mais foram do que uma sucessão de acasos aleatórios, sendo irreproduzíveis as condições para outros pacientes. Não sei o que funciona. E, se quer saber, não ataco nem defendo linha nenhuma, acho que existem pessoas capazes de ajudar e pessoas que atrapalham. As pessoas que ajudam costumam saber ser flexíveis quanto a teorias e técnicas. Loucos não se dão bem com construções pré-moldadas. Apenas o que eu estive comentando com você foram alguns detalhes essenciais do efeito perturbador que freudianos e junguianos mal-avisados provocam nos loucos. Poderia falar outro tanto a respeito de qualquer teoria em uso, inclusive as linhas comportamentais-cognitivistas, atualmente em voga entre os psiquiatras, mas você acha que me cabe mesmo este papel? Toda essa conversa começou quando eu lhe disse do paradoxo que consiste em querer fazer aflorar ainda mais à consciência do louco o seu inconsciente, que já está emergido, dominando totalmente a consciência. Muitos autores combatem o uso de técnicas profundas com psicóticos, ou pelo menos sugerem cautela. E ninguém se toca, continuam indicando psicanálise para louco sob a justificativa de que males profundos exigem terapias profundas. Você se surpreende com esta discussão toda porque não leu nada.

Não sei não. Já li bastante...

- Leu os livros errados. É pior do que não ler. E mesmo o que você leu, será que leu direito? Volte aos seus manuais e verifique como as principais teorias são baseadas no estudo da patologia. Se não se conhecem com o mesmo rigor os traços distintivos da normalidade, como é que se quer curar o louco?

- E como é que se poderia, então, de fato ajudar os loucos? Estudando os normais, por acaso?

- É claro. É o que digo há anos. Mas não os normais-normais: os normalpatas.

- Normalpatas? Quem são os normalpatas?

- Normalpatas são os louco de normais. Os normais além da conta. Os patologicamente normais. São os que pensam deter o monopólio da normalidade. Neles os traços da normalidade são tão distintamente manifestos que podem ser claramente estudados. São os que veneram a racionalidade, identificando-a apenas em si mesmos... São os que prejudicam a todos por pretenderem ser tão normais.

Acho que um exemplo facilitaria...

- Os que pagam os impostos religiosamente, por exemplo, são normalpatas.

- Ora essa!, e que é que há de prejudicial nisto?

- Ao manterem cheias as burras do Estado, corrompem os poderosos que assaltam o Tesouro. Não houvesse Tesouro, não haveria bandidos. Todos seriam sonegadores, mas ninguém seria corrupto.

- No entanto o que leva as pessoas a pagarem os impostos em dia é o dever de contribuir para o bem de todos.

- Nada disto: é o medo de que os corruptos os apontem na rua como sonegadores.

- Prof. Ludovico...

- Que é?

- Parece-me que o senhor está fugindo do tema..., vai por acaso começar a discursar sobre a Desobediência Civil?

- Não. Queria chegar ao tópico do medo. É o medo a maior força mantenedora da normalidade. E toda a loucura se caracteriza pelo descontrole das forças do medo. A normalidade é um equilíbrio do medo. Pessoas que têm medo a menos são loucas (e talvez, então, por compensação, alguns loucos passam a ter medo de tudo); pessoas que têm medo a mais são normalpatas.

- E de que têm medo os normalpatas?

- De serem considerados loucos. Temem qualquer tipo de marginalidade social. Temem demasiado a tristeza, por exemplo. Porque a tristeza, socialmente, só é aceita nos velórios e enterros. Então criaram um modelo de sociedade hedonista, em que é obrigação de todos serem felizes. Como a vida nada tem que justifique um culto perpétuo à felicidade, todas as pessoas vivem duplamente infelizes. Primeiro são infelizes porque não estão se sentindo bem consigo mesmas; depois são infelizes pelo fato de não se estarem sentindo felizes.

- Bem, Prof. Ludovico, não creio que estejamos avançando muito...

- É você quem pensa. Eu há muito já concluí minhas investigações sobre o medo e nada mais tenho a avançar quanto a este tópico. Veja bem: sendo o descontrole do medo (um medo a menos para os loucos, um medo a mais para os normalpatas) o que caracteriza as patologias, a solução para o louco é deixar de ter medo...

- Não seria ao contrário? Se o louco tem menos medo, não deveria desenvolver maior medo para se restabelecer?

- Nada disto. Se o louco funciona ao contrário, as coisas para ele é que devem ser ministradas ao contrário. O louco precisa é perder o medo.

- Medo de quê?

- Perder o medo de ser louco. Este é o caminho da recuperação: aceitar a loucura. É por aí que a coisa funciona. O louco que se reconhece louco readquire a racionalidade.

- Acho que esta foi a única coisa certa que o senhor falou até agora.

- Obrigado mocinha, obrigado, você é muito generosa. Este é um grande elogio. Há pessoas que falam a vida inteira sem nada de certo dizer. Em tão pouco tempo, já terei então proclamado alguma verdade, ainda que paradoxal? Volte outro dia, quem sabe, e poderemos conversar mais.

No sábado seguinte, Matilde voltou ao hospício, e tão logo pôde foi procurar por Ludovico, que estava ao canto do pátio, sentado num banco, lendo.

- Lendo a Bíblia?, não sabia que o senhor era religioso.

- Não sou. Isto é coisa dos normalpatas.

- Ser religioso é normalpatia?

- Não menina. Normalpatia é só permitir aos loucos que leiam a Bíblia. Isto aqui é um mundo das trevas. No hospício só se pode ler a Bíblia. Outras leituras podem alimentar pensamentos insanos. Já pensou? Imagino então quais seriam as leituras que inspiraram Jeová a lançar as pragas do Egito. Caramba. Como são malévolos os deuses!

- Você acha que os deuses também são normalpatas?

- Não. São supranormais. Por isto só os profetas, os místicos e os loucos conseguem falar com eles. Por mais religiosos que sejam os normalpatas, sempre à procura de Deus, nunca o encontram. Só os loucos o encontram.

- Os loucos, os místicos e os profetas...

- Os místicos e os profetas são loucos também.

- Bem, Prof. Ludovico, não é bem sobre isto que eu queria lhe falar. Estive pensando sobre suas palavras a respeito da aceitação da loucura. Se pela aceitação da loucura o louco readquire a racionalidade, deixando de ser louco, e se o senhor já fez este caminho, por que continua internado?

- Porque sou louco.

- Não entendi, como assim?

- Ser racional não é ser normal. A loucura não é a antítese da racionalidade, é a antítese da consciência, determinada por um desregramento da emoção. A partição razão e desrazão é uma falsa pauta para a discussão dos limites entre loucura e sanidade e a filosofia moderna não consegue avançar além de Foucault. Os normalpatas também são racionais e nem por isso deixam de ser patológicos. Só que vivem soltos e nós vivemos presos. O louco é, em muitas situações, o mais racional dos seres.

Então sua afirmação sobre a reconquista da racionalidade estava errada...

- Claro. O louco que admite ser louco não está reconquistando a racionalidade, que pode nunca ter perdido, está reconquistando a consciência e, assim, não deixa de ser louco: deixa apenas de ser inconsciente. Passa a ser um louco consciente de sua loucura.

- Se os loucos são racionais, por que raciocinam errado?

- Não raciocinam errado; nenhum louco erra raciocínios. A razão é o senso melhor desenvolvido nos loucos. Sua lógica é perfeita. O que acontece é que partem de premissas erradas, porque sua percepção é enganosa, sofrendo interferências do inconsciente ou deformações pelo desregramento das emoções. E como a razão é o mais tortuoso dos caminhos para conduzir alguém ao que é certo, ela sozinha não é capaz de corrigir as distorções da percepção.

- Isto é justo ao contrário do que dizia Descartes.

- Descartes era um cara que existia porque pensava e que nunca percebeu que existir sem pensar tanto é muito melhor. Não é nítido se ele de fato percebeu com a intensidade necessária que para pensar clara e distintamente, o que precede o tipo de existência cartesiana, qualquer um, inclusive o filósofo, já existe sempre muito tempo antes. Depois, se ele pensa para existir e não é capaz de existir sem pensar - isto se constitui numa maldição. Até para acreditar em Deus o sujeito tinha de raciocinar. A racionalidade na fé ou é embuste para apaziguar inquisidores ou pura pobreza de espírito.

- Mas no tempo dele existiam os inquisidores...

- Inquisidores sempre existiram e nunca vão deixar de existir. Apenas o que varia é o tipo de fogueira e a definição do que é pecaminoso. E para que os outros não nos queimem à revelia é necessário a cada dia cauterizar um pouquinho de nós mesmos, sacrificando o corpo para salvar a alma ou a alma para satisfazer o corpo.

- Por que você acha que tem sempre de sacrificar uma parte da vida? Uma parte de si mesmo?

- Estou cansado, menina. Por que você não vai embora?

- O que foi que eu disse que o incomodou?

- Você está progredindo, está se tornando psicóloga. E eu não gosto de psicólogos.

- Se eu tenho progressos é por sua causa. Estou aprendendo com o senhor. Eu gostaria de continuar a visitá-lo.

Ludovico ficou longo tempo encarando Matilde antes de responder. Ela sustentou seu olhar fixo em seus olhos durante alguns momentos e depois, baixando o rosto, pegou suas coisas e levantou-se do banco, fazendo menção de despedir-se, quando finalmente ele falou:

- Se você vier me visitar como pessoa, não como estudante de Psicologia, a mim, Ludovico, uma pessoa, não um paciente sem dono, eu terei prazer em discutir filosofia com você.

Ela agradeceu e foi-se embora.

Nunca mais voltou. Era uma normalpata.


Originalmente publicado em: Revista Mirandum- Estudos e Seminários. ANO II No.4 Jan-Abr 98

Editora Mandruvá em co-edição com o Centro de Estudos Árabes do Departamento de Línguas Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Número especial em co-edição com a Facultad de Ciencias de la Información de la Universidad de Navarra.

Texto incluso no livro: Os Normalpatas, Não Matei Jesus e outros textos, publicado pelo autor em 1999: Imago, Rio de Janeiro.

Disponível emhttp://www.hottopos.com/mirand4/normalpa.htm


Luiz Ferri de Barros é Mestre e Doutor em Filosofia da Educação pela USP, Administrador de Empresas pela FGV, escritor e jornalista.

Publica coluna semanal no Empório do Direito, às terças-feiras.                                                         

E-mail para contato: barros@velhosguerreiros.com.br                                                                                                                                                                                                       


Imagem Ilustrativa do Post: Piercing The Crowd // Foto de: Miguel Virkkunen Carvalho // Sem alterações

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