Os fatores da perda da diversidade biológica no mundo contemporâneo

24/02/2019

Introdução.

No mundo contemporâneo, cada vez mais antropocêntrico, é o homem quem define o que deve e o que não deve ser protegido, conservado e consumido. A relação de poder do Ser Humano em face dos demais seres vivos do planeta terra ao longo dos anos tem sido fator determinante para a extinção de seres vivos, de espécies da flora e do mundo cultural.

Mantendo o Ser Humano no ápice da cadeia alimentar e no comando das decisões sobre o mundo natural e sobre o mundo construído, tomando em consideração o processo de consumo que gera a degradação ambiental, resulta no que Jhon Maynard Keynes[1] explica como sendo o resultado suicídio, ou seja, mantendo-se as condições de intervenção no meio ambiente natural a longo prazo todos estaremos mortos.

O suicídio do Ser Humano decorre do processo incessantes de exploração da natureza, um ciclo vicioso que possui como resultado direto a perda da biodiversidade biológica de forma exponencial. O Ser Humano, incapaz de compreender a importância da filosofia ecocentrica, promove o exaurimento dos ambientes para além do limite de sustentabilidade, menoscabando que a própria sobrevivência é dependente do equilíbrio no meio ambiente.

A perda da diversidade biológica e a inclusão do Ser Humano.

A perda da diversidade biológica, sob o mote histórico e evolucionista, não é de todo um problema ruim, já que parte considerável dos organismos que foram extintos ao longo do tempo, fruto de transformações ocorridas no âmago da própria natureza e de suas relações com o universo. Paulo de Bessa Antunes[2], citando Leakey e Lewin, explica que as extinções ocorrem de tempos em tempos, tendo o planeta terra experimentado cinco grandes obliterações em massa por razões naturais e, atualmente, vive a sexta grande eliminação, a extinção que ocorre no nosso tempo, causado por fatores humanos e não por fatores naturais.

A questão que se coloca, sobre a perda da diversidade biológica, é saber o quanto a presença do Ser Humano altera ou modifica o fluxo natural das extinções de seres vivos e de organismo da natureza. Pensando a partir do processo de evolução do mundo e a inclusão do bicho Ser Humano na natureza, duas perspectivas podem ser discutidas. A primeira envolve o fato de que o Ser Humano como ser biológico, por si só não seria um problema para o ambiente, pois em suas condições próprias, assim como os demais seres vivos, luta pela sobrevivência; um instinto natural de qualquer organismo vivo. A segunda perspectiva é saber se o Ser Humano moderno, sociológica e antropologicamente descrito, compreende que a luta pela sobrevivência não pode ultrapassar os limites éticos de relacionamento com o meio ambiente, alterando as razões da luta pela sobrevivência e provocando a extinção do próprio ambiente em que vive.

É elementar que se compreenda que, biologicamente, a extinção de organismos vivos é uma consequência da vida e de todas as transformações decorrentes da constituição da natureza e do universo. O problema, contudo, é saber se o Ser Humano compreende o significado de tais transformações e, sobretudo, se o Ser Humano compreende que deve intervir o mínimo possível no ambiente, pois, a preservação da diversidade biológica pressupõe a preservação da própria espécie humana.     

Os fatores da perda da diversidade biológica.

 A perda da diversidade biológica pode ser provocada por inúmeros fatores, no presente artigo retrataremos três dimensões modernas que estão na linha de frente da dizimação biológica, destacadamente trata-se do consumo insustentável, da pressão pela sobrevivência dos mais pobres sobre os ecossistemas (incluindo a pressão urbana sobre os ecossistemas) e da pressão da agricultura intensiva.  

O Consumo, como regra, não pode ser objeto de condenação irrestrita, pois, é elemento intrínseco da biologia da sobrevivência das espécies, em especial da espécie humana. O Ser Humano, para viver, prescinde necessariamente de retirar do ambiente a matéria prima necessária para alimentação e constituição de um standard de dignidade. A questão, contudo, é o limite entre o consumo necessário e o consumo desnecessário (consumo insustentável). A opulência do consumo dos abastados não encontra limite ético, retirando da natureza recursos ambientais para satisfazer vaidades e luxurias que ultrapassam as premências compatíveis com a dignidade humana, alcançando uma casta de ricos inconsequentes. O consumo excessivo, por outro lado, não ocorre apenas pela prática individual e egoístas de grupos; estando vinculado ao padrão de economia capitalista, cujo único objetivo pode ser traduzido na obtenção de lucros a qualquer custo e de qualquer forma, mesmo que para tanto, seja necessário alienar o Ser Humano e esgotar os recursos naturais.    

A pressão pela sobrevivência dos mais pobres sobre os ecossistemas, é outro fator que determina a perda da biodiversidade. Para Flavin, citado por Paulo de Bessa Antunes (2012, p. 429), explica que não se pode desassociar os problemas ecológicos dos problemas sociais, destacando que considerados há muito como questões distintas, confiadas a órgãos governamentais independentes, os problemas ecológicos e sociais são realidades interligadas.

Os mais pobres, abandonados pelo mercado e sem qualquer perspectiva social (trabalho, moradia, saúde e educação), veem-se obrigados a ocupar espaços territoriais com expressiva biodiversidade e alto risco geofísico. As ocupações, denominadas de “favelas”, geralmente pressionam áreas de preservação permanente, áreas de manguezais e áreas de encostas, destruindo todo o ecossistema local, além de impor riscos à vida.  

A urbanização das cidades, de igual forma, mesmo que ordenada, exercem pressão sobre os ecossistemas, em especial pela redução dos espaços naturais para alocar prédios e asfaltos; pela produção de resíduos sólidos sem destinação adequada; pela sobrecarga nos mananciais; pela evaporação do meio ambiente cultural; pela ausência de relações pessoais solidárias e tolerantes.

 A agricultura, a pecuária e a indústria da madeira, por sua vez, também são responsáveis pela perda da biodiversidade, estando interligadas por dois objetivos básicos: a) atender o mercado e b) ampliar os lucros. A pratica da agricultura e da pecuária exigem espaço para aumentar a área de plantação e de pastagem animal, tendo a indústria da madeira como aliada direta. É indiscutível que não se pode tratar da pressão da agricultura sem interliga-la com a pecuária e com a indústria da madeira e vice-versa.  

Conclusão.

O Brasil, embora seja detentor de exuberante biodiversidade, possui perdas a partir da dizimação da cultura dos povos autóctones e dos ecossistemas da Amazônia, da Mata Atlântica, do cerrado, da caatinga e do pantanal. Por isso, é preciso que o Governo e a Sociedade Civil assumam o papel de protagonistas na proteção e na compreensão do papel da biodiversidade na vida dos Seres Humanos.

É fato que a extinção de espécies seja uma ação natural da vida, contudo, a partir da inclusão do Ser Humano, a extinção das espécies deixou de ser uma ordem natural do universo para se transformar em uma ordem proveniente do Ser Humano que, assumindo o papel de criador e de criatura (o centro do universo), passou a determinar quem deve viver e quem deve morrer, quem deve consumir e quem deve ser consumido, quem deve ser rico e quem deve ser pobre, quem deve estudar e quem deve viver na ignorância.

 

Notas e Referências

[1] Disponível em https://www.mises.org.br/ArticlePrint.aspx?id=921. Acesso em 21 de fev. 2019.

[2] ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 14 ed. São Paulo: Atlas, 2012.

 

 

Imagem Ilustrativa do Post: Enjoy your latifúndio improdutivo // Foto de: Pedro Newlands // Sem alterações

Disponível em: https://flic.kr/p/84wLNr

Licença de uso: http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

Sugestões de leitura