OS DIREITOS SOCIAIS E INDIVIDUAIS FORAM CONQUISTADOS COM MUITO SUOR E SANGUE

10/03/2020

Nestes momentos atuais de risco concreto de retrocessos, torna-se mais do que relevante salientar o óbvio, ou seja, que o Estado, comprometido com o grande capital, nada cede gratuitamente.

Neste sentido é o poético, excelente e sensível texto da Juíza Federal, Dra. Raquel Domingues do Amaral. Não a conheço, mas já posso afirmar tratar-se de um grande figura humana.

Assim, o que abaixo vai transcrito é um verdadeiro “grito” de alerta e mesmo de desespero, tendo em vista o obscurantismo que ameaça as sociedades em geral.

"Sabem do que são feitos os direitos, meus jovens?
Sentem o seu cheiro?
Os direitos são feitos de suor, de sangue, de carne humana apodrecida nos campos de batalha, queimada em fogueiras!

Quando abro a Constituição, no artigo quinto, além dos signos, dos enunciados vertidos em linguagem jurídica, sinto cheiro de sangue velho!

Vejo cabeças rolando de guilhotinas, jovens mutilados, mulheres ardendo nas chamas das fogueiras! Ouço o grito enlouquecido dos empalados.

Deparo-me com crianças famintas, enrijecidas por invernos rigorosos, falecidas às portas das fábricas com os estômagos vazios!

Sufoco-me nas chaminés dos Campos de concentração, expelindo cinzas humanas!

Vejo africanos convulsionando nos porões dos navios negreiros.

Ouço o gemido das mulheres indígenas violentadas.

Os direitos são feitos de fluido vital! Para se fazer o direito mais elementar, a liberdade, gastaram-se séculos e milhares de vidas foram tragadas, foram moídas na máquina de se fazer direitos, a revolução!

Tu achavas que os direitos foram feitos pelos janotas que têm assento nos parlamentos e tribunais?

Engana-te! O direito é feito com a carne do povo! Quando se revoga um direito, desperdiçam-se milhares de vidas ...

Os governantes, que usurpam direitos, como abutres, alimentam-se dos restos mortais de todos aqueles que morreram para se converterem em direitos!
Quando se concretiza um direito, meus jovens, eternizam-se essas milhares vidas!

Quando concretizamos direitos, damos um sentido à tragédia humana e à nossa própria existência!

O direito e a arte são as únicas evidências de que a odisseia terrena teve algum significado!"

 

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