OLHEI ALGO SOBRE... E FUI PRO CARNAVAL!  

14/10/2020

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Hoje nossos corpos estão fadados, junto a um senso inconformado de raiva pessoal. Parece que agora nosso âmago está a procura de um lugar nesse mundo moderno. Em “as consequências da modernidade”, Anthony Giddensnos atenta a este olhar voltado para essa modernidade, no sentido de que, ao estarmos entrando em um período “pós-moderno”, estamos vivenciando os avanços em que as consequências dessa era moderna estão apenas se tornando mais complexas e radicais. Não estou advogando sobre o que foi essa sociedade em tempos passados (ou parecia ser), até porque, parece que não mudamos tanto.

Olhei algo sobre esse vírus semanas antes do carnaval, vi que já estava tomando uma notória expansão. Assim como todo brasileiro, ou pelo menos grande parte, decidi vivenciar o evento mesmo assim, o carnaval além de um acontecimento cultural, eu o considero como uma representação dialógica, sim, é como relações entre índices sociais de valores, constitui um enunciado e se compreende como uma unidade de interação social.

Relações e valores, duas palavras que fazem mais do que sentido quando estamos vivenciando uma pandemia, que nos força a um isolamento. Quais nossas relações? Quais os valores que colocamos nelas? Parece que o momento que segue, dois vírus estão em jogo, o vírus disseminado para destruir fisicamente e um vírus estruturado. A diferença é que um, ceifa vidas rapidamente, o outro, constrói histórico e diariamente aparatos para continuar ceifando-as.

A história nos mostra que negadores de genocídios são cegos, não só os negadores de genocídios são cegos. Os que estão sentados em meios a ternos, gravatas e poltronas confortáveis em seus bons cargos, também os são. Não usam mais capacetes coloniais e bigodes longos, mas ainda retroalimentam a colônia e o capital que mata. Se depois de um ritual cultural e abrangente, as ruas fecham, as cidades se apagam, pessoas morrem, e, como citado anteriormente, um primeiro vírus mata, o segundo também, e sabe o que e para qual cor é direcionado a matar. Parece que só estamos vivenciando entrelinhas fragmentadas do nosso passado. Foi preciso realmente um vírus para nos darmos conta que vivemos tendo que lhe dar com um, se não, muito pior? Todo esse povo, pertencente de uma luta de classes onde o proletário vive sempre em desvantagem, estão procurando o seu lugar do mundo, seja ele moderno ou pós-moderno. Assim como se procura e corre atrás em meio a um folião de um trio elétrico eno outro dia se encontra com os pés doloridos, inchados ou cortados. Esse povo no contexto mais geral das vulnerabilidades sociais, só procura pelo direito de continuar vivendo. Ao ler a notícia depois do carnaval, entender e compreender a situação. Aparentemente não há nada de mágica nisso, nas faltas de relações quanto nos “novos” valores.

 

Notas e Referências

GIDDENS, Anthony. As Consequências da Modernidade, São Paulo, Editora Unesp, 1991.

 

Imagem Ilustrativa do Post: Vista aérea do Farol de Olinda // Foto de: Antônio Melcop/Pref.Olinda // Sem alterações

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