O que é mais importante: pesquisa ou marketing em saúde? – Por Clenio Jair Schulze

04/01/2016

A resposta para a pergunta parece óbvia para o leitor, que não teria dúvida em responder que pesquisa é mais importante.

Contudo, não é o que pensa a indústria farmacêutica.

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Reportagem publicada no The Washington Post[1], e representada na imagem acima, demonstra que o valor gasto pelos grandes produtores de medicamentos com marketing e vendas é muito superior, na média, à cifra despendida com pesquisa em novas tecnologias.

Das dez companhias mencionadas na reportagem, apenas a Roche gasta valor superior em pesquisa e desenvolvimento, em comparação com marketing e vendas.

Isso permite uma conclusão: para Big Fharma (nome dado às grandes indústrias farmacêuticas do mundo), é menos importante descobrir novos medicamentos, produtos e tecnologias e mais importante vender e fazer propaganda.

Isso leva a outras perguntas: será que as tecnologias e fármacos disponíveis no mercado são os mais eficientes, eficazes e com melhor custo benefício para o consumidor? Existem tecnologias com maior eficiência, eficácia e com menor custo para o consumidor? Há interesse da indústria farmacêutica em disponibilizar no mercado de consumo tecnologias mais seguras, mais eficientes e mais baratas?

É inegável que precisa haver proteção à livre iniciativa e ao empreendedorismo, mas isso não pode superar a necessidade de haver proteção ao consumidor e à sociedade.

O tema é interessante quando se pensa na fosfoetanolamina. Trata-se de uma substância química que promete combater o(s) câncer(es), cuja cápsula custa aproximadamente 10 centavos de real (ou 2,5 centavos de dólar). Será que a pesquisa sobre a fosfoetanolamina foi boicotada? É claro que vários outros fatores podem ter contribuído para dificultar a pesquisa sobre tal substância (omissão dos entes públicos e/ou dos pesquisadores, etc), mas tudo isso indica que é preciso avançar na controle e na regulamentação das pesquisas e, principalmente, conferir-se mais transparência aos procedimentos de novas descobertas.

Cabe à sociedade e ao consumidor exigir dos entes públicos, da comunidade científica e da indústria farmacêutica informações fidedignas sobre as novas tecnologias.

E ao Judiciário, diante do fenômeno da judicialização da saúde[2], cabe a responsabilidade de decidir as demandas originárias deste tema com razoabilidade e à luz da medicina baseada nas melhores evidências científicas, sob pena de agravar os sistemas público e suplementar de saúde.


Notas e Referências:

[1] A pesquisa se refere ao ano de 2013. A reportagem e a imagem podem ser encontradas em: https://www.washingtonpost.com/news/wonk/wp/2015/02/11/big-pharmaceutical-companies-are-spending-far-more-on-marketing-than-research/

[2] NETO, João Pedro Gebran. SCHULZE, Clenio Jair. Direito à Saúde. Análise à luz da judicialização. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2015.


 

Imagem Ilustrativa do Post: Pills // Foto de: Jamie // Sem alterações

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/jamiesrabbits/5747870989

Licença de uso: http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode


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