Por Rogério Carvalho da Rosa - 15/06/2016
Dia destes fui à Assembleia Legislativa. Fazia tempo que não passava pela casa do povo.
Encontrei, como sempre, deputados, políticos, prefeitos, jornalistas, servidores, policiais, curiosos e pedintes. Até representantes de poderosos segmentos organizados.
A maioria tinha interesse claro e determinado. Os demais apenas desempenhavam atividades profissionais.
Mas não encontrei o povo. Aquela massa de interesse difuso. O cidadão comum.
Ia me esquecendo. O povo aparece sim. Para bater palmas. Em homenagens a personalidades ou em comemorações a datas especiais. Vem em apinhados ônibus especiais. Felizes da vida.
Quando há greve, a casa fica agitada. Lá estão todos os deputados. Todos os assessores. Todos os líderes sindicais. Alguns servidores da categoria. Alguns pelegos. A Imprensa. Os habituais frequentadores. Até o vendedor de amendoim torrado.
Mas o povo, não. Embora tudo seja feito para o povo e em nome do povo.
Está certo, dirá o jurista. Assim é a representação política como prevê a Constituição.
O viés confirmatório é ter o povo como uma coisa, quando, na verdade, é uma facticidade. Ou seja, um processo. Assim como o casamento, a família, a sociedade e a pátria.
Um processo agora acelerado pela descrença imposta pela força e dinâmica da modernidade. Agora um processo explosivo como apontam as recentes pesquisas.
O povo, então ausente de si mesmo, agora quer mudar a regra do jogo democrático. Não lhe agrada mais ser mero espectador. Agora ciente de si mesmo, quer passar de objeto a sujeito de seu próprio processo. De seu próprio destino.
O modelo atual de política não serve mais. A atuação política tem sido um desserviço à nação e ao povo.
A tutela absoluta lhe incomoda. Quer se desgarrar tanto da direita como da esquerda. Dois processos falidos.
Direita e esquerda representam apenas uma das estúpidas polaridades estabelecidas pela estrutura do conhecimento, reforçadas pela linguagem e pelo discurso político.
O povo ainda não sabe. Mas o ele quer é ir além das limitações de nosso conhecimento cognitivo.
Algo novo. Algo que junte e não separe. Algo que quebre o “nós contra eles”.
. . Rogério Carvalho da Rosa é Procurador do Município de Florianópolis Aposentado. . . .
Disponível em: https://www.flickr.com/photos/66235205@N06/16483062690
Licença de uso: http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode
O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.