O papel da mídia para o enfrentamento das desigualdades de gênero

26/04/2019

            Vivemos em uma sociedade patriarcal marcada pelo afastamento das mulheres dos espaços de produção do conhecimento, do trabalho formal e dos processos de poder, e nesse contexto o Estado burguês de modo a expandir seu domínio, contribui para o desenvolvimento das desigualdades de gênero. Como assegura Mello e Marques[1]:

O Estado, que em sua origem é fundado como um espaço livre de mulheres, com o objetivo de garantir a segurança da propriedade dos homens brancos e burgueses, não tem mais essa função deliberada de exclusão pública feminina, mas seus traços funda­cionais podem perpetuar uma visão estereotipada tradicionalista que contribui para a reprodução da desigualdade de gênero, e muitas vezes o fazem. ( 2019,p.20)

            Com a decadência do Welfare State, a desigualdade de gênero se amplia na sociedade brasileira como um traço fundamental, nesse contexto, se observa que as mulheres pelas condições decorrentes da vida material, ou da associação a estereótipos possuem maiores dificuldades de experienciar o espaço público e ter acesso as garantias sociais.  

            Nesse sentido, quando analisadas as diferenças de raça/cor e classe social, as mulheres das classes populares e negras tem uma maior redução das oportunidades na esfera pública. Segundo as Estatísticas de Gênero do IBGE[2] (2018), 23,5% das mulheres brancas têm ensino superior completo, enquanto as mulheres pretas ou pardas (10,4%) concluíram esse nível de ensino.

            Para abordar de forma adequada e eventualmente desfazer as desigualdades, com certeza não é uma tarefa fácil, portanto, é fundamental um olhar crítico por parte da mídia, para a construção de discursos adequados com vistas a um desenvolvimento social democrático, isso porque os estereótipos de gênero são úteis a produzir formas de violência institucional, por isso assinala Foucault[3](2012, p. 10): “o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar”.  

            Para Foucault, o discurso dar sentido ao agir e pode modelar as respostas e estratégias dos diferentes atores sociais e agências estatais. Desta maneira, no contexto brasileiro é possível inferir que a atuação da mídia hegemônica está voltada para à reprodução de uma matriz excludente em favor do grupo dominante, e que para enfrentar as desigualdades de gênero, é necessário o compromisso com iniciativas que possam promover a sensibilização às discriminações de gênero, por exemplo.

            Durante a redemocratização do Brasil, no final da década de 1980, ocorreram mudanças importantes houve, dentre outras coisas, a reafirmação do papel de protagonismo dos movimentos sociais, o fortalecimento da sociedade civil e com a Constituição de 1988, a atribuição de que as agências de comunicação estejam em consonância com as lutas e com as políticas de promoção da igualdade de gênero.

            Conhecer e ampliar a discussão sobre as desigualdades de gênero e as formas pelas quais ela se estrutura na sociedade é essencial para pensar em formas eficientes de superação da ordem vigente, desse modo, consideramos de fundamental importância que os conteúdos produzidos pelos meios de comunicação possam levar em conta os processos históricos e sociais a fim de que mudanças democráticas sejam vistas no cotidiano de acordo com a esfera dos direitos humanos.

 

 

Notas e Referências

[1] Mello, Janine. Marques, Danusa. Elementos para uma tipologia de gênero da atuação estatal: visões do estado sobre as mulheres e políticas públicas no Brasil. Texto para discussão / instituto de pesquisa econômica aplicada. - Brasília: Rio de Janeiro: Ipea, 2019

[2] https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101551_informativo.pdf

Acesso em 27 de março de 2018

[3] FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo: Edições Loyola, 2012.

 

 

 

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