O dia mundial do rock e os direitos humanos

14/07/2015

Por Germano Schwartz - 14/07/2015

Descansei por sete dias. Na semana passada eu não escrevi nada. Absolutamente zero de produção intelectual. Um tanto estranho, pois sigo a máxima do Saramago. Uma folha por dia. Todos os dias. São trezentas e sessenta e cinco delas todos os anos. Não importa a qualidade. Os blind reviewers mundo afora que julguem.  Não se trata de inspiração e sim, no meu caso ao menos, de transpiração. Também não estou à procura do Santo Graal acadêmico. Deixo isso para os artesãos jurídicos e para aqueles que, com isso, se importam.

Desviei do assunto. Apenas estava a me justificar do porquê ter me ausentado desse espaço virtual no espaço de tempo a que me referi. Também não acho que isso tenha feito muita falta ao mundo (essa frase é uma referência indireta ao pensamento do Amilton Bueno de Carvalho). De qualquer sorte, a Direito & Rock é uma das tarefas diárias de escrita que assumi. Eram férias. Gozei-as. Mas o sentimento da ausência de um cumprimento de um dever é aquele diabinho sobre o ombro sussurrando impropriedades, ainda mais para alguém que é germano até no nome.

Está certo. Deixando de lado a expiação pública, o fato é que eu também deixei de apresentar algumas linhas nos sete dias que se foram a fim de esperar pelo 13 de Julho. É dia de rock, bebê! Aliás, é o dia mundial do rock. Isso é importante para o Direito? Alguns me perguntarão. Eu, à saciedade, venho tentando explicar que sim. São inúmeras as razões. Gostaria de me centrar em apenas uma delas, por ora: a conexão com a defesa dos direitos humanos.

A escolha dessa data para marcar a celebração do estilo de música que é tocado pelos roqueiros das mais diversas nações, consiste numa lembrança ao Live Aid, o evento organizado por Bob Geldof (o “ator” principal de The Wall) no ano de 1985. Seu objetivo maior era o fim da fome na Etiópia. Foi um concerto organizado simultaneamente em Londres e na Filadélfia. Tudo isso em tempos nos quais a internet ainda era um segredo dos militares.

O Live Aid foi o palco, por exemplo, de uma das eternas ameaças de retorno do Led Zeppelin. Malfadada e odiada por Robert Plant anos a fio devido à falta de química entre os ex-integrantes da megabanda naquele momento, ela marcou a impossibilidade de um recomeço sistemático do supergrupo.  Entre outros, também fizeram parte do line up: The Who, U2, Scorpions, Paul McCartney, Black Sabbath, Queen, David Bowie, Eric Clapton e Mick Jagger.

https://youtu.be/CBk-iRihSUg

O interessante do dia mundial do rock evidencia que ele é celebrado somente em nosso país, muito pela promoção das rádios que se dedicam ao estilo na cidade de São Paulo. A aceitação foi grande, tanto que, por exemplo, a KISS FM convida todos os seus ouvintes a comparecerem à sua sede, na Avenida Paulista, para que participem de uma open house. Pizza e guaraná por conta da casa.

Voltando à questão dos direitos humanos e do rock, o fato é que o Live Aid não acabou com a fome na Etiópia. E não seria o rock aquele que a exterminaria. Mas, com seu poder global e com sua capacidade de subversão, foi capaz de chamar atenção do mundo para uma realidade de um país distante dos centrais.

Os festivais de rock habilitam uma espécie de suspensão temporal em que o Direito – e tudo o mais – parece transitar em uma zona espacial situada em uma galáxia muito, muito distante. A força da arte tanto ali como em outras manifestações artísticas, traz o ser humano para o seu lado mais humano: todos são humanos. Ademais, proporcionam uma experiência sensorial capaz de, por meio da música, trazer à tona possibilidades de mudança há muito guardadas no peito de uma geração, como é o caso, por exemplo, da Glasnost na União Soviética (um tema que abordarei em outra coluna qualquer dia desses), do Woodstock, ou, no caso brasileiro pré-Constituição de 1988, do Rock in Rio  de 1985.

https://www.youtube.com/watch?v=sB3sCbcjODE

Será coincidência, por outro lado, que apenas um dia após, em 14 de Julho, a França, uma das maiores artífices das concepções modernas de direitos humanos, comemore sua grande data nacional? Pode ser. Mas o fato é que nesse dia, o dia de hoje e de publicação desta coluna, no ano de 1790, o povo francês se reconciliou. É a data da Festa da Federação. Ainda uma monarquia, muito embora constitucional, nesse histórico momento, no Campo de Marte, La Fayette jurou fidelidade à nação e o rei à lei, à Constituição. É o momento em que se ratifica a Revolução Francesa.

Por fim, a capa da coluna desta semana tem um sentido dúbio. De um lado, homenagear o estilo musical ao qual ela se afilia; de outro, relembrar que o rock ainda pode evocar sua conexão com os direitos humanos sem se alienar e, assim, continuar produzindo certa diferenciação funcional em um sistema social global. Para tanto, fiquemos, aqui, com Neil Young, um dos maiores letristas do gênero e um dos grandes defensores dos direitos humanos dentre os roqueiros.

Keep on Rockin’ in the Free World! 

https://www.youtube.com/watch?v=lI8XVJiqHdc


GermanoGermano Schwartz é Diretor Executivo Acadêmico da Escola de Direito das FMU e Coordenador do Mestrado em Direito do Unilasalle. Bolsista Nível 2 em Produtividade e Pesquisa do CNPq. Secretário do Research Committee on Sociology of Law da International Sociological Association. Vice-Presidente da World Complexity Science Academy.      

Publica na coluna semanal DIREITO E ROCK no Empório do Direito, às terças-feiras.      


Imagem ilustrativa do post: Autor desconhecido // Sem alterações

Disponível em: https://alinde.files.wordpress.com/2012/07/keeprocking.jpg


O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.


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