O enredo cinematográfico é baseado em uma operação da Polícia Civil. De pronto, já devemos louvar a iniciativa, uma vez que são poucos os filmes que abordam o cotidiano desses operosos agentes da segurança. É comum vermos na telona o desempenho das polícias militares e da polícia federal.
O filme inicia-se com a protagonista chegando em seu trabalho para mais um dia de afazeres. Ela é Francis e labora como recepcionista de um hotel de luxo do Rio de Janeiro. Ao atender uma hóspede que lhe faz uma pergunta sobre o mapa da cidade ela presencia a entrada de homens fortemente armados, fazendo todos do saguão reféns.
Empós o assalto e em função de estar frustrada no seu emprego, Francis tenta concurso para a Polícia Civil e é aprovada para a função de inspetora. É lotada depois da posse para trabalhar na parte administrativa da polícia, até que, por ter seu nome confundido com nome masculino, é designada pelo Secretário de Segurança para uma operação especial.
O pano de fundo então se desenha aos poucos. O Morro do Alemão é invadido e muitos traficantes foragidos tomam de assalto uma pacata cidade do interior fluminense. É nesta cidade chamada São Judas do Livramento que Francis e seus colegas honestos se deparam com a pior das pestes sociais: a corrupção.
Esse comportamento corrupto, que no Brasil é endêmico e epidêmico, controla a bucólica cidade, desde dos vendedores de pipoca aos altos escalões do governo municipal.
Ao lado do Delegado Paulo Fróes e de colegas devotados como Ronny e Délio, Francis encara a operação especial de combate aos corruptos, iniciando, assim, verdadeira faxina naquela simpática e aprazível cidade.
A corrupção, que no linguajar médico é um carcinoma extremamente lesivo, degenera as estruturas intestinas do Estado Democrático de Direito: usurpa funções do Estado e se aproveita do caos urbano e de políticos existentes para se alimentar, crescer e se disseminar dentro do sistema imunológico Estatal – vindo, nessa toada, a mitigar algumas das funções vitais da Administração Pública.
A corrupção se alastra potencialmente em nosso país por diversos fatores, sendo um deles a ausência de transparência. A falta de transparência é um dos principais fatores do alastramento epidêmico da corrupção. Neste sentido, já ensinava o ínclito jurista estadunidense Louis Brandeis: “o melhor desinfetante é a luz do sol”. Não há dúvida de que a presença do astro-rei a iluminar e assistir o quotidiano das relações com axiomas públicos culminará em uma transparência hídrica.
O polígrafo José de Alencar, cearense que reluz para o mundo, no zênite de seu discurso em plena tribuna da Câmara Federal exclama: “Creio, senhores, que foi de Hume[1], este triste pensamento: “A corrupção é uma prova de liberdade”. Mas essa liberdade que só chega para os ricos é a mais torpe das tiranias para o cidadão honesto”. A corrupção para Alencar é uma “gangrena moral”.
Klitgaard asseverava algo muito importante: “Quando o cinismo se instala, é preciso quebrar o equilíbrio, e uma forma de fazer isso é punindo quem parece intocável”
É por essas e outras que o filme deve ser assistido por todos os brasileiros que sonham por uma nação melhor e livre dessa patogenia terrível. Vamos aplaudir e lutar para que várias e várias “operações especiais” de combate à corrupção prosperem no Brasil. Só assim poderemos cantar com orgulho que o “sol da liberdade em raios fúlgidos brilhou no céu da pátria nesse instante”
Notas e Referências:
[1] David Hume (Edimburgo, 7 de maio de 1711 – Edimburgo, 25 de Agosto de 1776) foi um filósofo, historiador e ensaísta britânico nascido na Escócia que se tornou célebre por seu empirismo radical e seu ceticismo filosófico. Ao lado de John Locke e George Berkeley, Hume compõe a famosa tríade do empirismo britânico, sendo considerado um dos mais importantes pensadores do chamado iluminismo escocês e da própria filosofia ocidental
OPERAÇÕES ESPECIAIS. Direção: Tomás Portella. Elenco: Cléo Pires, Fabrício Boliveira, Marcos Caruso, Thiago Martins, Fabíula Nascimento, et al.. COR, BRA, 2015, Ação Policial, DVD, 90 min.
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