NU DE EMPINADA CORROSIVA

08/05/2020

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

 

Desgraça, de graça, em graça tenente;

As ruas ainda chamam os nomes

Os pés se curvam por elas

Ninguém sabe onde a praga se esconde

O tórax receia atinar dela

 

Adeus, sem despedidas

Chegadas, sem [contentes] abraços

A sensação atônita:

No seco, vir,

Morrer afogado

 

O mundo contempla repouso

Em respiro frouxo

Da coragem [quase] terna

Redescobrindo o ouro

Que a rotina, vez, despreza

 

As flores de abril já são azuis

Que um sonho assim jamais retorne

Da esperança aflita infinita

De quem quer ver a Ilze rir

Como Irene dá sua risada

 

Falta fôlego

Cruzar os mares

Escalar picos

Revir em si

Um tanto do outro

                                  [dentro de casa]

                                  [pra quem tem casa]

 

Tantos tetos escasseiam

Antes de Pilatos lavar as mãos

Depois do apuro delas lavadas

Dentre as banhadas com sangue

Pôs-se preciso mundificar a alma

 

Há distâncias

Filha do isolamento

Irmã da neo-solidão

Onde o sol se lobriga

Num espasmo de ilusão

 

Mães, qual que choram?

                        [pelos filhos]

Filhos, por quem rogam?

                         [pelos pais]

Pais, sede peões?

                        [pelos filhos]

Mãos, quão demoram, no poço das aflições?

                            [silêncio]

 

A vida que vai sem par

Na fila de longa espera

A dança da morte figura

O quebranto da primavera

O coração está nu (quando bate)

 

Imagem Ilustrativa do Post: Olhando o futuro através do espelho. // Foto de: PAULO LINS // Sem alterações

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/paulohlins/2282973740/

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