NOTA TELEGRÁFICA 7

17/06/2020

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

não te irei esperar como se o mundo estivesse a acabar. não é possível transar com grana uma estrela cadente. nenhum metal alcança os dias esquecidos de tanto viver. e dizem que há quem viva de memórias. não posso me lembrar exatamente para que venha aquela dimensão nova de onde brota o próprio mundo. quantas vezes vamos ter que ouvir repetidamente os álbuns do clube da esquina. nada será como antes. e as forma de amar ainda hão de se inventar. agora mesmo aquele casal de mulheres que passou por nós se transformou em uma equação inacessível. e dizem que há formas de amor. em outro momento já havia advertido que as trilhas dos Andes não são percorriveis em primeira pessoa do singular. há sempre um não lugar. há sempre um não lugar. e essa não é uma frase retórica. eu vejo agora que a Paula Toller já cantava sobre telégrafos em 92. acho que não tem nada melhor do que despedir a memória para chegar o amor. amamos esquecendo. amamos o esquecimento de si. poxa. imagina. quando atravessei a avenida paulista eu estava ouvindo essa canção de 92. você não estava ainda no mundo. eu não estava te esperando. até quando nós iremos continuar a acreditar apenas naquilo que existe? esperar é um ato milagroso. que só acontece quando você não chega. o amor é impossível. aconselha-se ouvir Bob Dylan e ler Derrida. a vida é pra valer. já diria o poetinha. que não cansou de esperar. que não cansou de não esperar. risos. esta nota espera ansiosamente o corpo destinatário.

 

 

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