Nossa esquerda é de esquerda? – Por Léo Rosa de Andrade

19/10/2016

Claro que o melhor modo de convivência pública é mesmo o que eu tenho na cabeça. Contudo, para que ele aconteça como prática política, ou o imponho, ou o legitimo. Infelizmente, não tenho poder, nem para uma, nem para outra coisa.

Ademais, pensando bem, se eu o imponho, não estaria sendo muito democrático; então, não vale. Por outro lado, para o legitimar, eu necessito de meios, e para ter meios, necessito de condições para obtê-los; quer dizer, de poder.

Uma circuição. Ando à roda e não resolvo como convencer o mundo de que tenho a solução para qual o melhor modo de convivência pública sem que eu tenha poder suficiente para convencer o mundo.

Daí, talvez, por que a tentação autoritária é mesmo uma tentação. À esquerda e à direita se fazem esforços para propor um mundo melhor. Se depender de mim, sigo a rota da esquerda. Mas, que seria esquerda?

Aprendi com Cesar Luiz Pasold que sem acordo semântico não há acordo algum, muito menos um acordo geral para a vida em sociedade. A significação do que é esquerda é ajuste necessário à tomada de posição.

Aurélio: é o “conjunto de indivíduos ou grupos políticos partidários de uma reforma ou revolução socialista”. Houaiss: “o conjunto de indivíduos ou agremiações políticas partidárias de regimes como o socialismo e o comunismo”.

O caminho da esquerda, por longos anos, foi este. Ele levou ao socialismo real, ou a ditaduras. Alguma ditadura seria de esquerda? Houve quem dissesse que seus meios eram necessários para seus fins.

Se eu fosse ditador, estaria de acordo. Como não sou um deles e não quero sê-lo, tenho medo deles, e onde quer que surjam, tenho-os como de direita, não me importa o que façam para justificar o que pretendem.

Aurélio e Houaiss não dão conta, já, do conceito. Bobbio diz melhor: por princípio, esquerda preocupa-se mais com igualdade; direita volta-se mais aos valores da liberdade. Ora, uma não exclui a outra.

A igualdade forçada por ortopedia social não funcionou em lugar algum. A liberdade de os donos do poder disporem o mundo para seu uso e abuso não tem fundamento moral ou político para subsistir.

Creio que a liberdade possível está na garantia da igualdade máxima de partida para a vida. Defendo que a igualdade de condições de partida não obstaculize os futuros ganhos da liberdade de iniciativa pessoal.

A revolução imaginável está no sistema tributário e no orçamento da República. Tributos diretos e progressivos mirando renda e herança. O orçamento contemplando gastos sociais, voltado ao nivelamento a todos.

No Brasil há um discurso pregador de que pagamos demasiado imposto de renda. Consulta-se facilmente na Net o ranking mundial. Sim, estamos muito atrás de Bélgica, Suécia, Noruega, Finlândia etc.

Quanto à tributação de herança, estamos entre os de menor incidência no mundo (4%, em média). Na Inglaterra, sobre as grandes heranças, a tributação alcança 40% do valor dos bens, no Japão, 55%.

Essa é uma pauta de esquerda, minimalista, viável, eficiente; é testada nos países mais justos do “mundo livre”; oportuniza igualdade sem ofensa à liberdade. A direita não lhe teria argumento razoável a opor.

Sobre nossa esquerda ser de esquerda, creio que não. Nossa esquerda é (ou foi) de direita. Empulha desenvolvimento suportado em consumo, enriquece bancos, vende-se a empreiteiros. Trai, mente, rouba.

Os próceres da esquerda de direita nacional, uns estão presos, outros irão pra cadeia. Ah!, dirão alguns: “é golpe da direita”. Afirmação insubsistente. Ademais, nossa esquerda, além de ser de direita, seria burra?

Em mais de 90% as decisões de primeira instância são confirmadas pelo STF. Mais de 90% dos ministros do STF foram nomeados pela nossa esquerda de direita. O que presidiu o impeachment, inclusive. Logo...


 

Imagem Ilustrativa do Post: Blockupy 2013 | Block EZB 1 // Foto de: Montecruz Foto // Sem alterações

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/libertinus/8952257390

Licença de uso: http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

Sugestões de leitura