Nísia Floresta: uma mulher à frente do seu tempo

19/11/2015

Por Ezilda Melo - 19/11/2015

Uma breve apresentação

Nasceu em 12 de outubro de 1810, no sítio Floresta, em Papari, interior do Rio Grande do Norte. Seu pai era um advogado português de nome Dionísio Gonçalves Pinto e sua mãe, uma jovem viúva de nome Antônia, filha do capitão-mor Bento Freire do Revorêdo e de Mônica da Rocha Bezerra. Henry Koster se hospedou na casa dos pais de Nísia em novembro de 1820, conforme relato do seu livro “Viagens ao Nordeste do Brasil”.  Em 1817 inicia-se no Recife a Revolução que ficou conhecida como “Revolução de 17”, que visou principalmente o estabelecimento de um governo local e autônomo. Neste período, Dionísio mudou-se com a família para Goiana no interior do Pernambuco. Em Goiana, Nísia ouviu as primeiras vozes liberais que a marcaram por toda a vida. Em 1823, com 13 anos, Dionísio casou-se com Manuel Alexandre Seabra de Melo, mas logo se separou e voltou a residir com os pais. Tal atitude, inédita para a época, contribuiu para as opiniões desabonadoras a seu respeito. Em 1828 o pai de Nísia foi assassinado quando voltava para casa, após ganhar uma causa de um cliente. Aos 19 anos começou a namorar o jovem Manuel Augusto de Faria Rocha e passaram a morar juntos, sem nenhum ato de casamento oficial. Em 1830 nasceu sua filha Lívia Augusta de Faria Rocha, a quem dedicará livros e será sua companheira de viagens e futura tradutora. O segundo filho, nascido em 1831, logo cedo foi “arrebatado pela morte” conforme palavras da própria Nísia. Em 1831 ela publicou seus primeiros artigos no jornal “Espelho das Brasileiras”. Nestes artigos são muitas as reflexões sobre a condição feminina. Em 1832 vem a público “Direito das mulheres e injustiça dos homens”, assinado com o nome que tornará famosa a potiguar: Nísia Floresta Brasileira Augusta, revelando as opções existenciais da autora. Nísia, abreviação de Dionísia; Floresta, da sua cidade da infância; Brasileira, para afirmar o sentimento nativista; e Augusta, em homenagem ao companheiro Manuel Augusto. Esse seu primeiro livro foi inspirado na obra “Reinvindicação dos direitos da mulher”, de 1792, de Mary Wollstonecraft.

Nísia denunciou os preconceitos existentes no Brasil contra a mulher e desmistificou a ideia dominante de superioridade masculina. É o livro fundante do feminismo no Brasil. O escritor Manuel Joaquim de Macedo, no romance “a Moreninha”, publicado em 1844, fez referências explícitas ao livro de Nísia Floresta.

Ainda no ano de 1832, quando da conclusão do Curso de Direito na Faculdade de Olinda, Manuel Augusto se mudou para Porto alegre com Nísia e sua filha, além da sogra e cunhados. Há especulações sobre o que motivou a mudança e há indícios de ameaças do primeiro marido de processá-la por adultério. Em janeiro de 1833 nasceu o filho Augusto Américo de Faria Rocha e em 29 de agosto do mesmo ano, morreu repentinamente, aos 25 anos, Manuel Augusto. A dor pela morte prematura do marido pontuará seus escritos. Nos quatro anos que residiu em Porto Alegre, Nísia dedicou-se ao magistério e reeditou “Direito das Mulheres e Injustiça dos Homens”. Em 1835 os revolucionários da Farroupilha ocuparam Porto Alegre. É desse período o início da amizade de Nísia com Anita e Giuseppe Garibaldi. Com o avançar da revolução, o clima tenso na capital gaúcha tornou-se difícil para uma mulher chefe de família. Em 1837 Nísia se mudou com os filhos e a mãe para o Rio de Janeiro. Em 1838 ela inaugurou um colégio de educação para meninas, no qual, além de ler, escrever, contar, coser, bordar, marcar e tudo o mais que tocasse à educação doméstica de uma menina. Ensinava-se gramática, francês, italiano e contava com mestres de música e dança. Recebia alunas externas e internas.

As novidades pedagógicas do Colégio Augusto enfrentaram resistência e notas anônimas nos jornais cariocas começaram a ironizar o ensino do latim e a ênfase no estudo de línguas estrangeiras ao invés das prendas domésticas. Em 1839 foi reeditado o livro “Direito das mulheres e injustiça dos homens”. Nísia começou a fazer conferências defendendo a emancipação dos escravos, a liberdade dos cultos religiosos e a federação das províncias. Em 1842 ela publicou “Conselhos à minha filha”, dedicado à Lívia como presente de aniversário, também traduzido em francês e em italiano. Dentre os conselhos que dizia que a menina educada devia ser simples, modesta, obediente aos pais, respeitosa com os idosos e decidir-se sempre pelo oprimido. No final de 1849, aos 39 anos de idade, acompanhada do casal de filhos, embarca para o Velho Mundo. Passou 52 dias em alto mar com destino a Paris. Lá começou a assistir conferências de Augusto Comte. Voltou ao Brasil em 1852 para cuidar do colégio e passá-lo aos cuidados da filha. Em 1856 segue com Lívia para a segunda viagem por terra estrangeira. Nesta viagem foi para a Alemanha, Itália, Grécia e França. Ela dizia que viajar era o modo mais seguro de aliviar o peso de uma grande dor.

Em 1885 Nísia Floresta faleceu, aos 75 anos, na cidade francesa de Rouen. Em 1954 os restos mortais foram trazidos à sua terra natal que foi rebatizada em sua homenagem. Portanto, diante dessas considerações baseadas em sua biografia e obra, Nísia Floresta é considerada uma das primeiras feministas mundiais. Da sua vida e de suas obras há enormes valores que precisam ser resgatados, por isso a indicação abaixo para futuros trabalhos acadêmicos que tratem sobre a história do feminismo no Brasil ou sobre  brasileiras distintas que merecem destaque na história do pensamento.

Obras de Nísia Floresta[1]

Direitos das mulheres e injustiça dos homens (Recife, 1832; Porto Alegre, 1833; Rio de Janeiro, 1839).

Conselhos à minha filha (Rio de Janeiro, 1842; RJ, 1845; Firenze, 1858; Mandovi, 1859; Paris, 1859).

Fanny ou o modelo das donzelas (Novela; Rio de Janeiro, 1847).

Daciz ou a jovem completa (Novela; Rio de Janeiro, 1847).

Discurso que às suas educandas dirigiu Nísia Floresta (Rio de Janeiro, 1847).

Pensamentos. (Poemas, Rio de Janeiro, 1950).

A lágrima de um Caeté (Poema, Rio de Janeiro, 1849; Florença, 1860).

Dedicação de uma amiga (Romance, 2 vol; Niterói, 1850)

Opúsculo humanitário (Ensaio sobre educação; Rio de Janeiro, 1853).

Itineraire d´um Voyage em Alemagne (Paris, 1857).

Scintille d´un anima brasiliana (Ensaios; Florença, 1859).

Trois ans em Italie, suivis d´um Voyage em Gréce (Paris, 2 vol. 1864 e 1867).

Woman (Ensaio, Londres, 1865).

Le Brésil (Ensaio, Paris, 1871).

Fragments d´um ouvrage inédit – notes biographiques (biografia; Paris, 1878).


Notas e Referências;

[1] DUARTE, Constância Lima; CUNHA, Diva. Escritoras do Rio Grande do Norte: antologia. 2ª edição. Natal (RN): Jovens Escribas, 2013. Págs.31-48


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Ezilda Melo é Professora Universitária, Mestra em Direito Público pela UFBA. Especialista em Direito Público pelo Curso JusPodivm. Graduada em Direito pela UEPB e em História pela UFCG. Lattes: http://lattes.cnpq.br/7223307007394926 www.ezildamelo.blogspot.com


Imagem Ilustrativa do Post: walk the line // Foto de: Z S // Sem alterações

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O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.


 

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