Na vertigem do desejo  

07/08/2020

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos 

O fio do horizonte pincela as ondas do oceano do incerto

Bem ali, onde a falta clama por um lugar ao lado.

Negar-lhe assento, porém, não é uma escolha nessa travessia do averno,

Caso contrário, a (com)pulsao pelo reverberar o arrematará.

 

A falta

Estamos diante de sua sombra

Que apaga as linhas pretensiosas do nosso mapa,

Esse delicado papiro que insinua as rotas do nosso querer.

 

Eis a questão: o desejo!

Seria ele uma forma de resistência?

Um brado contra a asfixia da falta?

Ou, quem sabe, o desejo se atreva a ser um murmúrio?

Que encontra na trilha desbravada pela falta o seu ser?

 

Já nos dizia o frances que se marcava como incompreendido,

E o alemão que cruzava a floresta negra da Turíngia,

Ambos colocaram a palavra como morada do ser.

Dizia aquele, que “o amor é dar aquilo que não se tem a alguem que não o quer”.

 

Permitir-me-ei apegar ao desejo,

Sendo-o um epitáfio do suspiro derradeiro do meu ser

Prestes a agonizar na aurora da falta

Daquela que me estrangula no prelúdio da angústia.

 

Deixe-me semear o meu querer no relevo de seus olhos.

Seus olhos!

Reclamou sê-los pequenos,

Todavia, foi em sua vastidão que minhas palavras se ancoraram

 

Em suas palpebras

Onde fui tocado com afeto.

O contraditório soou seu badalar,

Vi o seu finito através de um infinito distante.

 

Notei uma voz

E, veja, ela ensaiava, com o dançar das mãos, a sinfonia do dizer

Tem-se a tablatura de seu sussurro notas afinadas em hertz.

Queria desafina-las no interim de meu ouvido.

 

O querer se pronuncia no entremeio do pulsar,

Entre a sistole e a diastole

Habita a incerteza da vida e a certeza da morte.

 

A melodia que compõe o arpejo do desejo não é uníssona,

Concebe-se ela nas linhas tortas das palavras

Ou, até, na violência do silêncio.

Mas, quando o timbre se deixa corromper pela completude,

O fim anuncia sua chegada.

Doravante, o ser desejante (des)vela o seu não-ser.

 

O bramido da marcha fúnebre me (re)ingressou ao repouso eterno

O meu desejo encontrou no peito da morte um abrigo

Jogo-lhe a minha última flor de esperança

 

Onde posso encontrá-la?

Oras! O que quer?

 

Quero mergulhar em seu abraço

Onde sinto que o mundo muda mudo

E, nesse enlace do incerto,

Sentir cada batimento seu

 

Aqui, digo: quero ver você

O ponto de encontro é (o) incerto.

Qual seu desejo, Poeira Estelar?

 

Tal qual sua maiêutica,

A resposta está no desejo da partida, ser desejante!

O desejo de (se) constituir (n)a aresta,

Na própria falta

 

E você, seu covarde,

Negara ver e reconhecer a presença da falta.

Estou sitiado na vertigem do desejo,

Exilado na frustração de não conseguir tamponar esse vazio.

 

Foi na aresta

Encontrei a poeira que se esvai.

(Re)encontrei a minha falta.

 

Resta-me apreciar o meu infinito vazio,

Respirar na apneia

E, ali, fazer-me anunciar:

Eis-me aqui também,

Sou aquilo que sempre me faltará.

 

Foi e será nessa perene falta

Que form(ar)ei os meus buracos

Por onde entra e sai a respiração do desejo

Ninguém deve arrolhar.

 

E você, leitor intrometido, que flerta as curvas dessa poesia

Já está com vontade de tampar com um acento algumas palavras

Cuja ausência o despertou?

Peguei-o! Ah... esse impulso por preencher as faltas!

 

Como alertara no início: a palavra é morada do ser

O ser é incompleto

O ser é imperfeito

 

Mesmo que queira invadir ele com seu acento pretencioso,

Com ou sem você, ele ainda será incompreensível.  

Verá que “ser” é se (re)criar na sua própria falta.

Sou eu uma proparoxitona sem acento!

 

Tarde demais, ser desejante

Se quiser aquele abraço outrora clamado,

Apenas diga:

Dentre todos os abraços do mundo, eu queria só o seu!

 

Depois disso, vejo...

Não tem mais jeito

Talvez eu esteja pronto!

Pronto para deixar entrar e sair

 

E nessa respiração

... o meu desejo ...

 

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