Mulheres da Bahia  

28/03/2019

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Cantar um lugar, encantar o mundo. Sonhar, com o azul-verde esmeralda do mar. Solos de bandolins para enfeitar o luar de seda; cachos de ondas batem nos cristais de areia. Lua enamorada e risonha brilha no céu de estrelas de Itapuã, que é para embalar o sono do anoitecer. Cayminear, com o violão, as Gabrielas da Bahia. De cem em cem, passa-se o tempo atroz que não faz esquecer o farol, nem a alfazema e as flores de laranjeira que perfumaram a água de banho de Janaína, vestida de renda branca, faceira no samba, mulher mitológica, bela que poetizou o cantador. Musa da mente, do corpo e da cor de ébano. Deusa alada com sabor de cravo e canela e melaço de cana. Vai se vestir de crepúsculo. Vai sentir o veludo da noite que caiu verde-escuro. Vai beber o néctar do cacau dos lábios teus. Enfeitiçar de calor nas tardes de verão nos abraços de afago. Chorar emoções escondidas das lembranças de um tempo que não volta mais. Vai cantar a Bahia. Vai cantar o mundo. Será um quadro de Caribé pendurado na parede do coração; uma foto de Verger no porta-retrato de sua vida; uma partitura de Caymmi nas cordas de sua emoção; porque cresceu assim, porque é assim nas páginas do Amado. Porque quando a ilusão da paixão terminar, só ficará a arte. Porque a vida é uma representação e somos personagens de sonhos do que somos ou que queremos ser. Porque a vida não se repete. Porque a vida é emoção e vontade. Porque a vida é calmaria, sofreguidão. Porque a vida é cantada, chorada, pulsa e lateja no entardecer da quimera do existir. Terá o sabor das ondas, a cor do mar, o agreste do cheiro que se misturou às folhas do tempo do existir. E cantará suas dores, seus devaneios, suas lamentações, seus anseios... Chorará de emoção porque a Bahia que queria não existe mais, a paixão que queria também não existe mais, ficou a arte para consolar o quebrar das ondas na noite de lua cheia no quadro da imaginação. As baianas, vestidas de branco e azul, fazem cirandas e oferendas com flores e perfumes, no Rio Vermelho, para encontrar o amor naquelas águas. Tanta dor no coração. Amor-próprio nos olhos e na boca. Nos quadris. No gingado. Nega, homem não te pisa.

 

 

Feminismos, Artes e Direitos das Humanas

 

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