MUITO POUCO A CONSEVAR NESTE MODELO INJUSTO DE SOCIEDADE    

29/06/2021

De uma coisa eu não tenho dúvida: deve existir um modelo de sociedade menos ruim que a sociedade capitalista. 

Quando o sistema capitalista se acha em risco, ele se utiliza de métodos fascistas para se sustentar, Neste caso, surgirá uma gritante contradição entre o liberalismo econômico e o nacionalismo extremado ...

Este modelo de sociedade é fundado em valores deletérios: competição, individualismo, consumismo, alienação, ganância e cobiça desmedida.

O capitalismo, pela injustiça social que proporciona, pode ser visto como um grande genocida diário, se considerarmos a fome, a miséria de grande parte da população mundial, o grande índice de mortalidade infantil e as guerras em todos os continentes da Terra.

Capitalismo significa injustiça social. Ele não é capaz de criar condições para que todos tenham vida digna. Os ricos precisam dos pobres. Sem pobres, não poderá haver exploração da força de trabalho da maioria da população.

De uma coisa tenho certeza: se não conseguirmos domar ou mudar o capitalismo, em pouco mais de um século, não haverá vida sobre o nosso planeta.

Reconheço que as minhas ideias radicais e, até mesmo revolucionárias, estão longe de poderem ser viabilizadas, de poderem ser efetivamente aplicadas a curto prazo. Assim, ao menos por estratégia, a nossa luta agora há de ser por democracia política, democracia social e pelo Estado de Direito.

Precisamos do espaço democrático para criar na população a consciência de que a sociedade está dividida em classes e que a classe trabalhadora é vítima de um sórdido e camuflado processo de exploração.

Por outro lado, o contato próximo com mortes de entes queridos tem despertado em mim uma perspectiva mais humanista. Como criador de cães, presenciei a morte de mais de 120 destes amigos incondicionais, muitos falecendo em meus braços.

Ademais, perdi alguns bons amigos humanos e, principalmente, perdi meu pai e uma das minhas filhas. Eu mesmo, em razão da Covid, estive próximo da morte. Tudo isso “quebra” a gente.

Nunca valorizei tanto a vida como agora, quando ela pode se expirar a qualquer momento. Nós só damos valor às coisas quando elas já se foram ou estão se acabando ...

Desta forma, ficamos no dilema: qual o nosso horizonte utópico?

Como melhorar a sociedade sem sacrificar vidas preciosas? Como não mudar a sociedade e assistir ao sacrifício de vidas preciosas? Como assistir impassível à morte de tantas crianças em razão da pobreza e dos bombardeios militares ou tantos óbito em razão da desesperada tentativa de abrigo de refugiados? E a morte de meio milhão de pessoas em decorrência de uma pandemia que não mereceu um combate efetivo do governo federal? Muitas destes óbitos seriam evitáveis ...

Será possível um “marxismo humanista”? Embora a história não tenha demonstrado ser possível uma "revolução econômica e social" por meios pacíficos, muitos teóricos não afastam esta possibilidade, presentes determinadas e raras condições objetivas.

No plano teórico, a ideia de liberdade não me parece incompatível com as teses centrais do pensamento de Marx, vencidos que sejam os primeiros estágios das referidas transformações.

Aliás, a preocupação maior de Marx e Engels sempre foi o ser humano, o “homem explorado pelo homem”. Marx denunciou a “coisificação” de nossas relações intersubjetivas, demonstrando que, no sistema capitalista, tudo é valor de troca, tudo vira “mercadoria”. Marx buscava um sociedade que não fosse dividida em classes, que todos tivesse condições de serem economicamente iguais.

Enfim, cabe sempre a pergunta: o que fazer nos dias atuais? É importante provocar reflexões e fazer constantes autocríticas durante as nossas vidas.

A crise é sinal de mudanças, é sinal de avanços. Dialeticamente, a crise é o questionamento do “velho” e a expectativa do “novo”. O “novo” deve ser considerado como algo “bom”, até prova em contrário. Pouco temos a conservar.

Entretanto, os nossos melhores valores e princípios pouco mudam. Eles sequer são nossos. Eles são frutos do processo civilizatório, eles são fruto das lutas sociais ao longo de nossa história.

Muitos morreram ou foram torturados para preservar estes valores fundantes do socialismo, da justiça social e da solidariedade em nossas vidas.

Importante notar, nada obstante, que eles também são frutos de mudanças e transformações sociais, são históricos e algum dia serão substituídos por algo ainda melhor ...

Entretanto, forçoso é reconhecer que são efetivamente melhores !!!

Com invulgar sabedoria, já advertia Karl Marx:

"Na produção social da sua vida, os homens entram em determinadas relações, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada etapa de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. A totalidade destas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica e política, e a qual correspondem determinadas formas da consciência social. 
O modo de produção da vida material é que condiciona o processo da vida social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina a sua consciência" (prefácio do seu livro intitulado "Contribuição para a crítica da economia política").

Por ora, há pouco a fazer e muito a pensar. De outra coisa eu tenho certeza: não podemos nos conformar com estas mazelas humanas. Resistiremos. Não temos medo e resistiremos !!!

A solidariedade e generosidade não pode sucumbir diante do egoísmo e da truculência. Para um ser humano digno, a luta social é perene e a história agradece. A história não tem fim, ela se desenvolve dialeticamente, como um pêndulo.

Como disse o saudoso “Betinho, o irmão do Henfil”: estaremos perdidos se ao menos não nos indignarmos com tantas injustiças em nossa sociedade. Ao menos, que haja indignação !!!

Termino com um pensamento do grande Che Guevara, em tradução livre:

“Se você é capaz de tremer ou se indignar diante de qualquer injustiça deste mundo, você pode não a saber, mas você é COMPANHEIRO”.

 

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

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