Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
Por duas vezes
Homicídio tentado
19 anos e 6 meses
Para ver o agressor condenado
29/05/1983, era madrugada
Um estouro no quarto lhe acordou
Pensou, muito assustada:
"Meu marido me matou."
No chão da cozinha
O homem estava sentado
Falsa versão ele já tinha
Mentiu ter sido assaltado
Pijama rasgado
No pescoço uma corda
Tudo forjado
Uma grande manobra
Brutalidade, com certeza
Passou por cirurgias
Nos hospitais de Fortaleza
Maria da Penha e suas agonias
Com as filhas preocupadas
Para Deus rezava
Três crianças não criadas
Que fosse morrer ela pensava
Meses de resistência
Uma luta para sobreviver
Enorme violência
Na cadeira de rodas viveria
Sem poder andar
Para casa retornou
O marido tentou lhe matar
O chuveiro elétrico ele usou
Veio o interrogatório
Da Secretaria de Segurança
Tudo muito contraditório
Insegurança, insegurança...
O crime ele não confessou
A tentativa ficou comprovada
De violência ele usou
Maria da Penha foi maltratada
Luta demorada
Que a lei venha
Ela então foi promulgada
Lei Maria da Penha
Rígida educação
Infância em Fortaleza
Colégio de freira era sua colocação
Algumas incertezas
Pela avó incentivada
Farmacêutica foi ser
Muito apaixonada
Aos 19 anos, com rapaz foi viver
Casou-se
Homem ciumento
Separou-se
Acabou o relacionamento
Após a separação
Estudos a vista
Uma pós-graduação
Na capital paulista
Seu futuro marido
Ela conheceu
Seriam dias sofridos
Porém, ela não percebeu
Solícito e prestativo
Quem diria
Por todos os motivos
Achou ter ganho na loteria
O casamento de Maria
Com Marco Antônio
Seguiu bem, até o crescimento das filhas
Logo depois surgiram os demônios
Agressivo comportamento
Maus-tratos às crianças
Muitos sofrimentos
Terríveis lembranças
Sem delegacia da mulher no país
A dor só aumentava
Maria da Penha nos diz
O quanto isso lhe incomodava
Violência psicológica
Grande sofrimento
Agressão física
Crianças e seus ferimentos
A saída era a separação
Mas havia o medo da morte
Sem solução
Melhor era contar com a sorte
Por outras mulheres lutou
Esta era sua vida
Maria da Penha transformou
Vidas menos sofridas
Muito rezava
Para viva continuar
Suas filhas ela amava
Nunca iria lhes abandonar
A justiça brasileira
Seu papel não cumpriu
Luta traiçoeira
Da prisão Marco saiu
A OEA condenou o Brasil
Por negligência e omissão
Maria não desistiu
Foi demorada a punição
Conhecido internacionalmente
O caso ficou
Seu livro publicamente
Tudo relatou
"Sobrevivi...Posso Contar"
Foi o livro publicado
Onde ela pôde relatar
Os maus-tratos, por Marco, praticados
OEA apoiando
Marco Antônio foi condenado
Maria da Penha vivenciando
Aquilo que havia lutado
Dez anos de reclusão
Em mil novecentos e noventa e seis
Porém, a prisão
Veio apenas em dois mil e dois
Um terço da pena ele cumpriu
Depois, regime semiaberto
Uma pena pequena
Isto não é certo
Longa batalha
Um marco histórico aconteceu
Jogar a toalha
Maria da Penha não prometeu
Um ano marcou
Em 2006, alegria plena
O Presidente Lula sancionou
A lei 11.340, a lei Maria da Penha
Dois encontros
Duas ocasiões
Nos julgamentos do monstro
Que causou tantas lesões
No movimento feminista
Maria da Penha se fortaleceu
Foi uma bela conquista
Ela nunca esmoreceu
Uma das três melhores do mundo
Assim a lei é conhecida
Sentimento bom, profundo
Ter as mulheres protegidas
As falhas existentes
Não são culpa da lei
Mas de um machismo delinquente
Ou seja, fora da lei
É preciso políticas para apoiar
As vítimas da violência
E também orientar
Estas inconsequências
Delegacias da mulher
24 horas por dia
Assim vamos defender
A mulher dia após dia
A luta não ficou de lado
Há uma continuação
Maria da Penha tem lutado
Por todas as mulheres da nação.
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